Toledo (Oeste) iniciou na manhã desta sexta-feira (27) a vacinação contra Covid-19 de de jovens e adolescentes com idade entre 12 e 17 anos, dentro de um estudo observacional da Pfizer. A farmacêutica norte-americana vai analisar a como o Sars-CoV-2 se comporta em uma cidade de porte médio com toda a população imunizada, incluindo o público adolescente.

Imagem ilustrativa da imagem Toledo começa a vacinar adolescentes contra a Covid
| Foto: José Fernando Ogura/AEN

A fila ao redor do Centro da Juventude Mariana Luiza Von Borstel, um dos pontos de imunização, começou cedo, às 5h. Uma hora e meia após o início da distribuição, 300 jovens já tinham garantido a sua senha para receber o imunizante. Quando os ponteiros marcavam 8h08, a primeira jovem, de 17 anos, recebeu a sua dose. A previsão é que 15 mil pessoas nessa faixa de idade sejam vacinadas até a terça-feira (31).

A escolha da cidade para o estudo foi definida pela Pfizer e pelo governo federal. O Estado apoiou na logística, com o transporte das vacinas de Curitiba para Toledo. A UFPR (Universidade Federal do Paraná), que conta com um campus em Toledo voltado para a área médica, também participa da pesquisa.

A participação de Toledo no estudo – a única cidade no Brasil – foi anunciada na terça-feira (24) em reunião da farmacêutica norte-americana com o governador Ratinho Junior. Na quarta (25), a cidade recebeu uma remessa exclusiva de 35.173 doses do imunizante, autorizada pelo Ministério da Saúde, para completar a aplicação da primeira dose na população adulta, acima de 18 anos, e iniciar nos adolescentes.

ALTA ADESÃO

Uma das questões que pesaram na escolha, explicou a secretária municipal de Saúde, Gabriela Kucharski, foi a alta adesão da população à campanha de vacinação. Entre as pessoas que receberam a primeira dose, 98% compareceram na data certa para a aplicação do reforço. Até o momento, um terço dos habitantes da cidade estão completamente imunizados”, disse.

Com uma população estimada de 144.601 pessoas, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 96.597 moradores de Toledo foram vacinados, até o momento, com ao menos uma dose – 66,8% do público geral. Os dados são do Vacinômetro do Ministério da Saúde, mas ainda não incluem os imunizantes aplicados no público jovem.

Secretária municipal de Saúde, Gabriela Kucharski
Secretária municipal de Saúde, Gabriela Kucharski | Foto: José Fernando Ogura/AEN

A cidade, acrescenta a secretária de Saúde, tem características demográficas muito favoráveis a esse tipo de estudo, em vista ao número de habitantes e posição geográfica. “Mas os principais motivos para a escolha foram a presença do campus de Medicina da UFPR e a excelência na condução e processo de trabalho relacionados à pandemia, desde o diagnóstico, o atendimento aos pacientes, o cuidado com os dados epidemiológicos, o monitoramento dos pacientes e a vacinação”, destacou.

O município também recebeu nota 100 do Tribunal de Contas do Estado (TCE) no Índice de Transparência da Administração Pública em relação à vacinação.

CRONOGRAMA

Para atender esse público em um curto espaço de tempo – a vacinação deles será feita em seis dias – a Prefeitura de Toledo ampliou os pontos de vacinação e os horários de atendimento, que vão das 8h às 23h, com imunização também no sábado (28) e no domingo (29). São cinco pontos ao todo, quatro exclusivos para a primeira aplicação e um exclusivo para a segunda.

Além dos adolescentes, o município continua aplicando na população geral para vacinar todos até terça-feira (31). A imunização da população geral deve ocorrer até o final de outubro para completar o ciclo vacinal. A análise dos dados será feita com toda ou a maioria da população já vacinada com as duas doses.

Mahara Gabriele Santana, de 19 anos, recebeu com emoção a sua dose. Ela perdeu a avó recentemente vítima da Covid-19, antes que conseguisse ser vacinada. “É uma felicidade grande receber essa dose, mas também uma tristeza pelas pessoas que infelizmente não tiveram essa oportunidade”, disse.

UFPR

Pediatra e infectologista, a diretora do campus de Toledo da UFPR, Cristina de Oliveira Rodrigues, acompanhará a condução do estudo junto com a Pfizer, a secretaria municipal de Saúde e outras instituições. Ela salienta que a pesquisa não é clínica, não haverá testes de vacinas nos jovens, mas observacional, para trazer respostas do que acontece no mundo real quando toda a população é imunizada contra o coronavírus.

A vacina da Pfizer obteve o registro definitivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 23 de fevereiro, sendo a primeira a receber este registro. É também a única, no Brasil, licenciada no Ministério da Saúde para aplicação em adolescentes de 12 a 17 anos.

Diretora do campus de Toledo da UFPR, Cristina de Oliveira Rodrigues
Diretora do campus de Toledo da UFPR, Cristina de Oliveira Rodrigues | Foto: José Fernando Ogura/AEN

“Nas fases de testes de uma vacina, que já foram feitas, são avaliadas populações controladas, que são vigiadas o tempo todo, respondem questionários semanalmente, com coleta de sangue para avaliar a resposta imune. Essas são as fases preliminares, feitas em três etapas”, explica Rodrigues.

A professora destaca que todas as vacinas em uso no Brasil já passaram por este momento e foram registradas na Anvisa e em várias partes do mundo, inclusive já sendo utilizadas na população adolescente em vários países.

A vacinação é a premissa do estudo e as análises começarão a ser feitas quando praticamente toda a população já estiver completamente imunizada. “O que faremos será uma coleta de informações para observar o que vai acontecer nessa população. Vamos avaliar dados posteriores, não estamos testando algum produto”.

“Isso inclui o número de casos de Covid, em qual faixa etária, quanto tempos depois da vacina que ocorreram, se foram casos graves ou não, se o indivíduo precisou ser hospitalizado ou não, qual foi o desfecho desse caso, se ele teve sintomas persistentes depois”, ressalta Cristina.

Segundo a pesquisadora, são dados importantes que a ciência precisa entender para desenvolver novas estratégias de combate ao coronavírus.“Para chegarmos a isso, as pessoas precisam se imunizar, os adolescentes incluídos”, diz. “Principalmente em um momento em que surgem novas variantes do Sars-CoV-2, precisamos entender como elas vão se comportar em nosso meio, qual a dinâmica do vírus. Toledo vai trazer respostas com relação a isso para o Brasil, é importante termos dados locais para a população brasileira, até para traçar estratégias futuras”, complementa. (Com informações da AEN)

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