Se o lugar da mulher é onde ela quiser, por que não em uma posição de liderança na carreira militar? Neste mês de dezembro a tenente Luana da Silva Pereira, 31, assumiu pela segunda vez o comando de uma unidade do Corpo de Bombeiros do Paraná. Depois de ficar no comando de Cambé (Região Metropolitana de Londrina), hoje ela está à frente do quartel de Ibiporã (também na RML), que tem sua primeira comandante mulher.

Tenente Luana: “Eu já vi meninas falando ‘olha, mas tem bombeira mulher’! Sim, tem e você pode ser bombeira”
Tenente Luana: “Eu já vi meninas falando ‘olha, mas tem bombeira mulher’! Sim, tem e você pode ser bombeira” | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Formada na turma de 2012, no começo da carreira e nos primeiros momentos em que esteve em funções de comando, a tenente enfrentou algumas dificuldades. “Quando eu cheguei, senti que tive que provar mais que eu era capaz. É uma percepção pessoal, mas parece que o desafio para nós é maior. Talvez isso não seria percebido se fosse uma figura masculina”, relembra.

Contudo, Pereira observa que o impacto na sociedade é bastante positivo, principalmente entre as crianças. “Eu já vi meninas falando ‘olha, mas tem bombeira mulher’! Sim, tem e você pode ser bombeira”. Um dos obstáculos que a tenente destaca é a falta de incentivo às meninas para a prática de atividades físicas, que é uma das etapas mais difíceis para as mulheres no concurso e na profissão: “a gente faz muito trabalho de força e resistência. Os próprios equipamentos por si só já são pesados. Um bombeiro chega a acrescentar 25kg no seu peso corporal, só com os equipamentos”.

ESTRUTURA PARA MULHERES

A primeira experiência da tenente foi em Cambé, onde também foi pioneira. Nos aproximados dois anos em esteve na unidade, foi iniciada uma reforma estrutural na sede. Além de piso, telhado, rede elétrica e hidráulica, academia para capacitação, a estrutura foi refeita para contemplar as mulheres. “Foi criado oficialmente o alojamento feminino, porque não existia. A nossa soldado militar usava um alojamento que a guarnição improvisou. Não tinha banheiro específico para ela e nem para as servidoras que prestavam serviço na unidade”, conta Pereira.

Tenente Luana:  “Ainda somos poucas nesse tipo de função, ainda é diferente, acaba sendo notícia e chamamos a atenção”
Tenente Luana: “Ainda somos poucas nesse tipo de função, ainda é diferente, acaba sendo notícia e chamamos a atenção” | Foto: Divulgação - Prefeitura de Cambé

A cerimônia de entrega da obra de Cambé e de posse do comado de Ibiporã aconteceram conjuntamente no dia 2 de dezembro, com a presença de várias autoridades civis e militares da região. “Ainda somos poucas nesse tipo de função, ainda é diferente, acaba sendo notícia e chamamos a atenção”, conta a tenente ao lembrar desse dia. “Hoje a gente vem alcançando posições de importância, de responsabilidade, de autoridade, seja no meio militar ou no meio civil”.

RESPEITO ÀS PESSOAS

Para o exercício da nova função, a expectativa é de continuidade do trabalho já iniciado. "Espero que em Ibiporã eu consiga fazer o mesmo trabalho: manter o grupo, ser realmente uma líder e entender o lado humano. Temos nossas regras, hierarquia e disciplina, que são os pilares da nossa corporação e a fortalecem. Mas também temos uma condição humana, de respeito à pessoa que está ao lado, nos ombreando”.

Ser bombeira era um sonho desde a infância. Pereira lembra do pai, policial militar hoje aposentado, que a levava ao quartel, atitude que a familiarizou com o ambiente militar. Contudo, a maior referência da tenente vem de outra mulher. “Para minha mãe, eu ser militar é um orgulho muito grande. É nela em quem eu me espelho e que é meu exemplo. Ela sempre trabalhou muito e sempre foi muito guerreira. Minha mãe sempre foi minha maior incentivadora”.

Imagem ilustrativa da imagem Tenente Luana é a primeira mulher a comandar bombeiros em Ibiporã
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

ENTRE A LEI E A REALIDADE

A conquista da tenente Pereira, contudo, faz parte de um cenário que está se consolidando há pouco tempo. Foi só em 2005, há pouco mais de 16 anos, que foi criada no Paraná uma lei que permitiu a reserva de até 50% das vagas das carreiras militares para mulheres.

Todavia, isso ainda não se converteu em realidade: dos 3.034 bombeiros militares ativos, apenas 217 são mulheres, o que representa um percentual de 7,15% de efetivo feminino na corporação. Segundo as estatísticas levantadas pelos Bombeiros do Paraná a pedido da FOLHA, em todo o estado há nove mulheres no comando de unidades do órgão.

A capitã Geovana Angeli Messias fez parte da primeira turma de mulheres dos Bombeiros e hoje ocupa o mais alto cargo já alcançado por uma bombeira na corporação. Ela conta que a primeira dificuldade enfrentada foi estrutural, pois, quando ingressou na carreira, as unidades ainda não possuíam, por exemplo, banheiros femininos.

PADRÃO

Apesar de o Corpo de Bombeiros possuir regras parecidas com a Polícia Militar, como é, por exemplo, em relação à barba dos homens, algumas normas precisaram ser adaptadas para as mulheres. “A gente verificou que o coque que as policiais usam não dava para as bombeiras, porque, no serviço operacional, o nosso capacete de combate ao incêndio e de salvamento vertical não acomoda ele”, conta a capitã. “Tivemos que definir um padrão de cabelo um pouco diferente, que é o rabo de cavalo com vários elásticos ou com tranças”.

Outra questão apontada por Messias é a respeito da dificuldade de encontrar equipamentos de proteção, como luvas, sapatos, roupas, em tamanhos menores, que sirvam para as bombeiras. Contudo, de 16 anos para cá, a capitã vê que já ficou muito mais fácil: “O próprio mercado, que não disponibilizava equipamentos assim, está se adaptando”.

Imagem ilustrativa da imagem Tenente Luana é a primeira mulher a comandar bombeiros em Ibiporã
| Foto: Acervo Pessoal

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