Seja no isolamento social ampliado ou parcial, os idosos fazem parte do principal grupo de risco do novo coronavírus e a orientação para este público é permanecer em casa enquanto perdurar a pandemia. Com a recomendação de quarentena intermitente, muitas pessoas com 60 anos ou mais ficaram com a rotina social extremamente restrita, o que acaba gerando outro tipo de isolamento: o que corrói o bem-estar.

 Maria Napolitana Gonçalves
Maria Napolitana Gonçalves | Foto: Acervo pessoal

Para garantir o suporte emocional a estas pessoas, a secretaria municipal do Idoso em Londrina têm desenvolvido estratégias para manter o contato com os frequentadores dos três CCI (Centros de Convivência da Pessoa Idosa). As ações acontecem por meio de telefonemas e grupos de WhatsApp. Além de repassar informações, as atividades possibilitam a interação via internet, reduzindo a ansiedade que o atual período acarreta.

SAÚDE E LEITURA

A professora aposentada Maria Napolitana Gonçalves, 85, não é adepta da tecnologia, entretanto, o telefone fixo tem sido seu canal de comunicação com as amigas do CCI Leste. “As amigas ligam para conversar, falam que se sentem sozinhas”, contou a idosa, que mora nos fundos da casa da filha, no conjunto José Bonifácio, na zona leste. “No CCI fazia artesanato, pintura de tecido, alongamento, dança”, pontuou.

O aparelho telefônico também tem sido utilizado para que os servidores da secretaria do Idoso saibam como ela está na quarenta. “Sempre me ligam, oferecem apoio psicólogo caso me sinta ‘para baixo”. Mas tenho um neto de dois anos e não dá tempo para fica desse jeito não”, brincou.

“Dona Napo”, como é carinhosamente chamada, ainda tem aproveitando o tempo para assistir programas de TV, filmes, fazer receitas de bolo, pães, bolachas, além de ler, sua paixão. “Quando o CCI estava aberto, chegava uma hora antes para ficar na biblioteca lendo. Incentivo minhas amigas à leitura, conto histórias para elas durante as atividades para se interessarem. Quem lê, enxerga mais longe”, indicou.

ALONGAMENTOS EM CASA

Mais habituado ao mundo digital, José Leal, 76, morador do conjunto Luiz de Sá, na zona norte, tem usado as redes sociais para continuar em sintonia com os colegas e os profissionais do CCI Norte. “Fico no YouTube, Facebook, WhatsApp, vejo informações no geral, mando mensagens para diversão e isso tem ajudado”, destacou o idoso, que está nos grupos criados pela secretaria. “O pessoal ainda liga, aconselha, faz indicações”, acrescentou.

José Leal e a mulher Adelite Rosa da Silva
José Leal e a mulher Adelite Rosa da Silva | Foto: Acervo pessoal

Leal tem mantido a rotina de alongamentos em casa, com exercícios em dias intercalados e com 1h30 de duração. Casado há 50 anos com Adelite Rosa da Silva, sua parceira de atividades, Leal diz que espera que o atual momento passe logo, para que volte o quanto antes ao CCI e a normalidade. “Quanto mais rápido passar, melhor. Hoje está sem graça até para uma visita dos filhos e netos. Participo do CCI e pretendo continuar para o resto da vida”, projetou.

IMPORTÂNCIA

Adicionada recentemente no grupo de WhatsApp da secretaria do Idoso, por frequentar o CCI Oeste, Neiza Justulin, 70, gostou de ter sido lembrado e com mais uma possibilidade de estar conectada. “Bom para falar com os amigos, facilita. Já pensou como seria se não tivéssemos o ‘zap’ nessa época que estamos vivendo?”, refletiu. “O dia que a internet está ruim fico apavorada”, divertiu-se a moradora do jardim Bandeirantes, zona oeste.

Neiza Justulin
Neiza Justulin | Foto: Acervo pessoal

Há quatro anos em Londrina, a aposentada se mudou de São Paulo após se encantar pela segunda maior cidade do Estado, quando visitava o irmão. Mora sozinha, ou como prefere frisar, com Deus. Voltou a estudar há três meses e com as aulas da EJA (Educação de Jovens e Adultos) suspensas, tem se comunicado com a professora pelas redes sociais, em que recebe atividades e leituras. Posteriormente, reencaminha para correção.

Classificando a vida como movimentada, tem procurado seguir todas as regras de isolamento indicadas pelas autoridades em saúde. Usa o tempo disponível para artesanato, confeccionar máscaras de pano, tapetes com retalhos e assistir vídeos. Sempre atenta à família e amigos. “Importante para a vida ter quem se preocupa conosco. Quero o bem estar do outro e peço a Deus para que todos continuem bem.”

GRUPOS TÊM MAIS

DE DOIS MIL IDOSOS

Os grupos de WhatsApp criados pela secretaria municipal do Idoso a partir da suspensão das atividades dos CCIs (Centros de Convivência da Pessoa Idosa) já têm mais de dois mil idosos. Gerente de Articulação Comunitária da pasta, Rosely Sonoda Gomes explicou que são dois tipos de grupos na rede social de mensagens e um terceiro será criado.

“Temos grupos informativos, de dicas diversas, e que permitem troca de mensagens. No de interação colocamos somente aqueles que se manifestam. Vamos montar um terceiro, em que iremos disponibilizar as atividades físicas que eles fariam nos CCIs, com orientações dos profissionais de saúde, para praticarem nas casas deles”, contou. A secretaria mantém parceria com o Nasf (Núcleo de Apoio à Saúde da Família).

Com a pandemia obrigando o distanciamento, a secretária municipal do Idoso, Andrea Ramondini Danelon, afirmou que as redes sociais surgiram como alternativa de aproximar. “Se tornaram uma opção no combate ao isolamento dos idosos. Se tornaram essenciais nesta época, quando estamos com nossas atividades suspensas. Por meio dos grupos de WhatsApp continuamos mantendo o vínculo com esses idosos e eles os laços de amizade criados nos CCIs”, apontou. O projeto ainda tem ajudado no combate a golpes e desinformação.

LIGAÇÕES

Neste período da pandemia foram atendidos mais de 1,8 mil idosos por ligação telefônica. “Logo que começou tudo isso não sabíamos a que ponto eles estavam informados e nos colocamos à disposição, mesmo não sendo presencialmente. Temos tido retorno positivo dos idosos, na própria fala demostram gratidão pelo carinho, preocupação”, disse Rosely Sonoda Gomes.

Entre as principais dúvidas já apresentadas pelos idosos estive a vacinação contra Influenza, com o agendamento. Nos últimos meses, várias oficinais foram promovidas pelo projeto “Idoso Conectado”. “O isolamento nos preocupa, pois, o perfil que temos são de pessoas ativas e inseridas em várias atividades. É uma readaptação. Passamos para eles a mensagem que apesar de estarmos distantes, tudo isso logo vai finalizar”, idealizou a gerente de Articulação Comunitária.

Serviço - Mais informações sobre os projetos e demais demandas sobre os idosos podem ser obtidas com os CCIs, de segunda a sexta-feira, das 8h às 14h, pelos telefones (43) 3375-0334 (Oeste), (43) 3375-0307 (Leste), (43) 3375-0307 (Norte), ou na secretaria do Idoso, das 8h às 17h, pelo (43) 3372-4502.