Skatistas protestam contra violência no Parigot de Souza
Atletas e simpatizantes comparecem à praça da Zona Norte para se manifestar contra ato violento do último sábado
PUBLICAÇÃO
sábado, 29 de julho de 2023
Atletas e simpatizantes comparecem à praça da Zona Norte para se manifestar contra ato violento do último sábado
Walkiria Vieira
Cair e levantar é parte da rotina de um skatista. No jargão dos atletas, o capote significa simplesmente ir ao chão, levar um tombo do skate durante uma manobra, Mas jamais em razão de um golpe violento praticado por outrem. Pois foi o que aconteceu no bairro Parigot de Souza, zona Norte, em 22 de julho, quando um praticante foi atingido por um tiro de chumbinho.
Como forma de protestar pela atitude hostil e toda forma de violência, atletas amadores e simpatizantes se reuniram na manhã deste sábado (29). No mesmo local dos fatos, a pista que fica localizada ao lado da escola Adélia Dionísia Barbosa recebeu cartazes, caixa de som e música.
Enquanto deslizavam sobre a pista ainda um pouco molhada pela chuva da madrugada, os atletas eram também observados e acolhidos pela polícia militar. O produtor cultural Marcelo Benjamin, 45 anos, expôs que a pista foi estruturada há cerca de dois anos após reiterados pedidos.
Benjamin considera que apesar da conquista, ainda há melhorias a serem realizadas. "Não há iluminação, segurança e como se trata de um espaço democrático, a intolerância é desnecessária". Enquanto outras pessoas caminham no entorno da praça, Benjamin destaca: "Tem criança no parquinho, a quadra também pode ser ocupada, assim a academia ao ar livre e as mesas e bancos. Deve prevalecer a harmonia", sustenta.
Nessa mesma linha de pensamento, capitão Emerson Castro, da Polícia Militar, apoia o uso integrado do espaço público pela comunidade. "Tomamos conhecimento por meio da ocorrência que culminou com o autor preso e nos deparamos com dois problemas: o autor do disparo que atingiu o jovem skatista os acusava de uso de drogas e os skatistas da falta de liberdade", relata.
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Castro explica que a presença da PM é um apoio ao esporte de forma ordenada, segura e contra o uso de drogas. O militar informa ainda que não há registros de perturbação referente ao uso da pista de skate no espaço de convivência do município. No entorna da praça, há escola, biblioteca, igreja. "As pessoas usam a praça em busca de saúde. Ou seja, é um espaço de confraternização e isso deve ocorrer de acordo com a ordem pública. Para tal, um deve respeitar o outro", ratifica.
Também presente à ação pacífica, o soldado da Polícia Militar Silva demonstrou além do apoio da corporação à causa, suas habilidades sobre a prancha. Fez algumas manobras fardado e encantando os jovens e demonstrou a necessidade de mais incentivo a esportes erroneamente marginalizados. "Vamos presentear quem precisa com um skate e sabemos do reconhecimento de atletas profissionais em países como nos Estados Unidos".
Harmonia na comunidade
Para a dona de casa Vânia Ferreira Prudente, 63 anos, a praça precisa de mais fiscalização e da presença da PM em outros dias além deste. "Eu moro aqui há mais de 35 anos e infelizmente existe vandalismo que prejudica a todos. Os meninos do skate não dão trabalho, mas existem os infiltrados", observa.
Prudente relata que é totalmente contra a violência e que no momento da confusão estava atarefa , mas é comum a desordem " Baderneiros ficam bem na frente da casa do homem que deu o tiro, sentam na calçada, colocam som alto com músicas com palavrões e bebem. Da minha casa dá pra ouvir e imagino na dele".
Acamada há anos, a mãe de Prudente tem 88 anos. "Perturba, claro. Então eu acredito que assim como os meninos estão aqui hoje reivindicando pelos direitos deles, as pessoas prejudicadas por outros também devem fazer queixas porque precisa ter equilíbrio e respeito", avalia. "O gira-gira consertaram ontem. Estava há mais de dois meses quebrado", aponta.
O aposentado Edgar Aparecido Bonifácio, 76 anos, vive há mais de 15 no bairro. Enquanto cuida da neta de oito anos que brinca no cama elástica, conta que soube do acontecimento e ficou chateado. "Poderia ter machucado mais pessoas e isso já é uma ignorância. Minha neta ficou assustada e todos sabem que aqui é um lugar familiar", revela.
O estudante do curso Técnico de Mecânica Automotiva, João Pedro de Sousa, 18 anos, estava na pista no sábado passado. "Eu moro no Honda II, que é mais perto do Autódromo, mas eu costumo vir aqui porque a pista que tinha lá está com o caixote quebrado e não tem mais luz", afirma. "Pena que lá está tudo abandonado", acrescenta.
Sousa também cursa o 2º ano do Ensino Médio e expõe que andar de skate é um lazer nas horas vagas. "Hoje eu vim mesmo em solidariedade ao que aconteceu com o Felipe, mas a minha mãe pediu para eu não voltar mais aqui porque agora que ele está solto, pode fazer até algo pior", teme.
Para o skatista Victor Hugo Gonçalves, 19 anos, o medo é também uma reação presente. "Acredito que ele (o atirador) mirou em mim porque na hora em que ele veio aqui e ficou andando de bicicleta para atrapalhar a pista, eu pedi licença e ele revidou dizendo que não ia sair. Ele até aparece nos vídeos porque a gente costuma gravar enquanto pratica e apesar de o Felipe estar se recuperando, emocionalmente está abalado", ressente-se.