Severiana não pensa no ano
2000. Ela só quer uma consulta
Josoé de CarvalhoSeveriana Nunes de Araújo diz que tem uns 60 anos de idade e se classifica como uma ‘‘viúva desvalida’’. Às vésperas do Ano Novo, demonstra não estar preocupada com planos para o futuro, pede carona e vai ao posto de saúdeSol do meio do dia. Uma boa sombrinha não protege do mormaço, mas evita o torrão da pele, já enrrugada e grossa. Sem maldade: casco de quem já enfrentou muito sol brabo.
E vai ela, com a sombrinha colorida contrastando com a cor neutra e clara do vestido. Caminha devagar e pede carona.
– Vai para onde?
– No posto de saúde. Tenho uma consulta às 12 horas.
– Mas já passou meia hora. A senhora está atrasada.
ᖠEntão me leva.
A um pedido assim tão sem cerimônia poucos resistiriam. Ela entra no carro com dificuldade, se ajeita meio de banda no banco traseiro. Conta que tem uns 60 anos.
– É por aí. Mais ou menos isso.
O nome: Severiana Nunes de Araújo. É mãe de 13 filhos. NInguém mais mora com ela, segundo diz.
– Sou uma viúva desvalida. Meu marido morreu há 10 anos.
– E o futuro? E o ano 2000? O que a senhora espera?
– Eu? Só vou até o posto de saúde para uma consulta.
Sem planos, pelo que se pode perceber. E Severiana sorri diante do fotógrafo, a bolsa colocada no chão, protegida pela colorida sombrinha. Sem ligar para a chegada do ano 2000. (W.O.)