Ficar sem telefone e internet se transformou numa rotina inconveniente para quem vive no jardim Santa Luzia, zona leste de Londrina. “Furtaram os cabos na sexta-feira (29), na segunda (1º) aproveitaram que os fios ficaram baixos e furtaram novamente. Na terça-feira (2) tentaram pegar o que faltou”, relatou a comerciante Tania Cristina de Oliveira. Nesta última vez, foram os próprios moradores que seguraram o criminoso e impediram que ele concretizasse o furto na rua Gino Tamiozzo.

Esse é apenas mais um caso de vários. Em 2020 a Sercomtel Telecomunicações contabilizou o maior prejuízo com furtos de fiação dos últimos anos. Foram 600 casos, que resultaram num gasto de R$ 2,5 milhões com reparos e reposição. É mais que o dobro de ocorrências em relação ao ano retrasado. Em 2019 havia ocorrido uma queda nos registros, que passaram de 437, em 2018, para 188. A partir do período de pandemia de coronavírus a empresa passou a ver o número de incidentes disparar, o que se mantém até agora.

“De 2018 para 2019 conseguimos controlar os índices de furto. Mas em 2020, com a pandemia, o valor do cobre subiu e a quantidade de furtos também”, constatou Tiago Caetano, diretor de Engenharia e Operações da telefonia. Somente em janeiro deste ano foram mais de 80 casos. “Dois mil e vinte e um começou desesperador. Valor do cobre aumentou demais e estão furtando. O maior prejudicado não é a Sercomtel e sim o cliente”, destacou.

A dona de casa Ercília Coelho sabe bem disso. A neta depende da internet para estudar, já que as aulas estão remotas, e tem enfrentado dificuldades. “Ela fica reclamando o tempo todo, porque precisa estudar, mas falei que não tenho culpa. É pedir a Deus para não furtarem mais. Teve vez que já ficamos mais de 15 dias sem os serviços”, contou. “Como as crianças estão ficando mais em casa, assistir um desenho no celular é o entretenimento delas e sem conexão não dá”, lamentou Tania Oliveira.

ENTIDADES PÚBLICAS

Instituições ligadas à prestação de serviço à comunidade também acabam lesadas por esta ação criminosa. A Sercomtel atende cerca de 16 mil entidades públicas, como escolas, hospitais, prefeitura e até a PM (Polícia Militar). “Recentemente tivemos furtos que pararam o Hospital do Coração, a UBS (Unidade Básica de Saúde) do jardim Guanabara. Já aconteceu de afetar o Copom (Centros de Operações Policiais Militares). Afeta toda a comunidade, o comerciante deixa de trabalhar”, elencou Tiago Caetano.

O diretor da empresa afirmou que os casos são pulverizados entre as regiões da cidade e, muitas vezes, acontecem num intervalo curto de tempo. Algumas medidas foram adotadas para tentar coibir os furtos ou, pelo menos, otimizar a forma de prender os responsáveis. “Internamente temos um sistema de desconexão simultânea. Corta um cabo e são mais de 50 clientes naquele cabo. Quando tenho esse número desconectado, por exemplo, aciono de imediato a GM (Guarda Municipal) e a PM.”

RECEPTADOR

Além disso, têm sido promovidas reuniões com representantes das forças de segurança, inclusive, levando a discussão até a Secretaria de Estado da Segurança Pública. “Nos patrulhamentos que estamos fazendo, em algumas situações, quando é tempestiva a denúncia, deslocamento rapidamente para o local e temos registrado prisões de pessoas em flagrante com os fios subtraídos”, destacou o tenente-coronel Nelson Villa.

Comandante do 5º Batalhão da Polícia Militar, Villa ainda ressaltou que tem sido dedicada atenção quanto à identificação dos receptadores deste material. “Geralmente quem furta, de alguma forma, está ligado à dependência química. Só que se há quem furta, há quem compra. Neste sentido temos trabalhado em conjunto com a polícia judiciária.” A Polícia Civil em Londrina informou que está investigando a situação.

INTENSIFICAÇÃO DAS RONDAS

Por meio dos canais oficiais de comunicação da prefeitura, a secretaria municipal de Defesa Social indicou que também tem atuado para colaborar a reduzir os índices e, por consequência, a “dor de cabeça” para a população. Segundo o setor de Estatística da Guarda Municipal, foram 29 ocorrências de furtos de fiação telefônica e elétrica nos últimos meses, resultando em oito prisões em flagrante entre os meses de junho de 2020 e janeiro de 2021.

Ficou acordado que as equipes da corporação, durante patrulhamento preventivo pelos prédios públicos municipais, vão intensificar as rondas em algumas áreas com altos níveis de furtos de fios. “Diante do clamor causado pelo dano que uma ocorrência de furto de fios causa, embora não sendo atividade principal da guarda, temos nos empenhado durante nossas atividades do cotidiano para coibir essa prática em todo o município”, enfatizou Pedro Ramos, secretário de Defesa Social.