Um dos cartões postais mais bonitos de Londrina é, sem dúvida, o campus da Universidade Estadual (UEL), à margem da PR-445, na zona oeste da cidade. Com belos jardins que rodeiam o calçadão e os prédios dos departamentos, vastos gramados, um horto florestal, uma fazenda experimental e um completo viveiro de mudas, o campus está especialmente colorido nestes tempos de primavera.
Além de ser um ótimo local para os estudos e pesquisas, o campus - tido como um dos mais belos do País - é também uma das áreas de lazer e visitação pública preferidas pelas famílias londrinenses. Especialmente das que têm crianças para passear e brincar em meio à natureza, com muita sombra e ar puro, e em total segurança.
Este orgulho da cidade, que foi sendo construído aos poucos nos últimos 28 anos, deve muito de sua beleza e respeito ao meio ambiente ao ex-chefe da Divisão de Zeladoria da Prefeitura da UEL, o gaúcho João Luiz Sperandio. Nascido em Erexim, ele chegou a Londrina com a família inteira, em 1939. ‘‘Cada árvore, cada pé de flor, cada folhagem que a gente planta, é como nossos próprios filhos. Temos que cuidar com muito carinho, com todo o afeto possível, para que eles cresçam fortes, bonitos, e sejam felizes’’, comenta o ex-coordenador da jardinagem do campus.
O ‘jardineiro seo João’, como foi chamado carinhosamente por milhares de pessoas - funcionários, professores e alunos - que passaram pela UEL nestas quase três décadas, aposentou-se em 1996, depois de trabalhar na universidade durante 28 anos. Sperandio chegou ao campus antes de ele existir, quando ali era ainda uma grande fazenda de café.
Ele foi contratado em 1968, quando a UEL ainda funcionava como uma Fundação com poucos cursos em prédios no centro da cidade. ‘‘Vim para aqui junto com a UEL. Trabalhei duro na derrubada do cafezal, para iniciar a terraplenagem e as obras de construção dos primeiros prédios do campus’’, conta com saudade João Sperandio.
Inicialmente, ele trabalhou na zeladoria, setor de limpeza e de transporte. Mas em 72, ele assumiu a divisão de jardinagem, coordenando o serviço de cinco funcionários. O campus foi crescendo, se modernizando e se embelezando. Em cada cantinho dele, tem ‘um dedo’ do seo João. Quando se aposentou, a equipe de jardineiros já contava com cerca de 40 funcionários.
‘‘Isto aqui começou da estaca zero. Eram 48 alqueires de café, e tivemos que derrubar tudo. Em meio ao cafezal existiam menos de 700 perobas, e muitas delas preservadas. É por isto que o campus ganhou o nome de perobal. Hoje, com as mudas que produzimos e plantamos, o campus tem cerca de cinco mil novas árvores da peroba’’, explica Sperandio, que é casado e tem cinco filhos - todos estudaram na UEL - e cinco netos.
Juntamente com sua equipe, e contando com o apoio de professores de alguns departamentos, ele criou o horto e um viveiro que já produziu mais de 100 mil mudas de centenas de espécies de árvores nativas da região ou não. Além da peroba, destacam-se as palmeiras, o pau brasil, os ipês, o cravo, o carvalho, o cedro, a canela e os pinheiros. As novas perobas, com pouco mais de 20 anos, já atingem a altura de até 25 metros. Estas árvores chegam a medir 50 metros e podem viver entre 300 e 400 anos.
Milhares de mudas excedentes foram sendo doadas à população - notadamente por meio de colégios nas semanas da árvore - ao longo dos últimos anos. Ao lado da primeira peroba que plantou no campus, seo João se emociona. ‘‘É uma felicidade imensa poder ter ajudado, juntamente com meus auxiliares, a construir este belo campus que ficará aqui para sempre, para as futuras gerações’’, ressalta.
O viveiro produziu também milhares de mudas das árvores que hoje já dão muitos frutos. São mangueiras, abacateiros, laranjeiras, pitangueiras, pinheiros, jaqueiras, coqueiros e pés de guaraná. Sperandio plantou ainda 2.700 pés de café, que produzem em média quatro mil quilos do produto por ano. Ele se diz apaixonado pela paisagem do campus - ‘‘não consigo ficar uma semana sem visitar este lugar, porque morro de saudade’’ - e gosta de se lembrar como ela foi sendo construída aos poucos: prédio por prédio, árvore por árvore, gramado por gramado, jardim por jardim.
Entre as diferentes folhagens e flores que colorem a UEL, seo João prefere as azaléias, os lírios e as margaridas. Ele se orgulha também em mostrar o Diploma de Funcionário Emérito, recebido em abril de 94, ‘‘pelos relevantes serviços prestados à UEL’’, honra concedida, nos primeiros 25 anos da universidade, a apenas três funcionários.
‘‘Foi um trabalho duro, passei aqui quase a metade da minha vida. Mas valeu a pena, porque só deixei amigos ao ajudar a construir esta beleza que está o campus. Como eu sou um pai muito coruja, considero este o mais lindo campus do Brasil’’, afirma João Sperandio, que desde que se aposentou dedica-se a cuidar de uma pequena chácara, onde prossegue cuidando de flores, folhagens e mudas de árvores, além de pequenos animais.
À UEL, além dos passeios semanais, ele volta sempre na época dos vestibulares - em julho e janeiro -, para fazer um trabalho extra na equipe da organização. ‘‘A universidade já realizou 50 vestibulares. Eu participei de todos, inclusive de dois na época em que ela era fundação. Ou seja, eu cheguei aqui antes do vestibular da UEL’’, comenta sorridente Sperandio.
Sem ter conseguido estudar além do ginásio - ‘‘porque naquela época era tudo mais difícil’’ - ele se diz feliz por seus filhos terem estudando na UEL, ‘‘uma escola de ótima qualidade’’. Solidário, este gaúcho que aprendeu a gostar de plantas na prática, e construiu o campus da UEL com as mãos, no dia-a-dia em quase três décadas de muito suor, se diz preocupado somente com a atual situação brasileira: ‘‘É tanta gente estudando, se esforçando e se formando. Meu sonho é que todos tenham emprego, trabalho, e consigam manter suas famílias com dignidade e felizes.

PERFIL
Nome:João Luiz Sperandio
Idade: 65 anos
Onde nasceu:Erexim (RS)
Profissão:Jardineiro aposentado
Passatempo:Cuidar de animais e plantas em sua chácara
Sonho:Trabalho e vida melhor para todos os brasileirosPaulo WolfgangPaulo WolfgangPaixãoJoão Luiz Sperandio, 26 anos dedicados a um dos cartões postais mais bonitos da cidade, não consegue passar uma semana sem visitar os jardins do campus da UELOsmani Costa