Favela não é carência, é potência. É com essa frase que Lua Gomes, coordenadora regional da Cufa (Central Única das Favelas), define o projeto Semana da Favela, que ocorrerá em Londrina de 4 a 8 de novembro. Para ela, não se trata apenas de mais um movimento que visa prestar serviços à periferia, mas, sim, uma maneira de instigar talentos e promover um exercício de autovalorização.

“O objetivo é dar acesso a todas as coisas que foram negadas à favela ao longo da história. Então, a gente tem as oficinas de qualificação e empoderamento. O que a gente quer é promover a autonomia econômica”, conta a organizadora.

Gomes também é a liderança por trás do projeto Conexões, que trouxe a Londrina as ações já conhecidas da Cufa por todo o Brasil. No entanto, ela é precursora na extensão das ações em comemoração ao Dia da Favela (4 de novembro). A ideia, segundo Gomes, é ampliar a rede de apoio.

“O Dia da Favela já existia, mas a Semana da Favela foi criada aqui em Londrina. Nós somos os pioneiros com essa proposta dentro da Cufa, e virou um modelo que está sendo replicado pelo país. Com isso, amplia-se o tempo para o que realmente precisa, ao invés de só festejar a existência da favela”, pondera.

A 1ª edição do evento aconteceu no São Jorge, e a 2ª edição no Vista Bela, dois bairros da zona norte do município. Neste ano, a 3ª edição será descentralizada, ou seja, terá a abertura no União da Vitória (zona sul) e ações espalhadas por outras regiões.

INCENTIVO E MOTIVAÇÃO

Lua Gomes diz que as edições de 2021 e 2022 da Semana da Favela - que contaram com teatro, oficinas de tranças, cortes de cabelo e barbearia - foram bem-sucedidas e renderam frutos. “Um dos adolescentes que participou já tem a sua própria barbearia. Ele já estava começando a cortar, mas o recebimento desses golpes de autoestima e conhecimento foi grande impulsionador para que ele fizesse outras coisas”, comemora.

Para a líder do Conexões, há muitos talentos a serem lapidados dentro da periferia de Londrina e alguns precisam de ações como essa para enxergar as suas próprias habilidades. “Às vezes, a pessoa sabe fazer um bolo muito bom, que poderia ser comercializado e, assim, trazer sustento à família. Mas ela não tem a autoestima consistente para acreditar que pode dar o primeiro passo”, diz.

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ECONOMIA NA PERIFERIA

Engana-se quem pensa que, na favela, a economia não gira. Para Gomes é o contrário. "Quem movimenta a economia é a periferia. E não é só a da periferia, mas a do país inteiro. Existe um mito de que quem está fora das bordas trabalha mais, mas a massa trabalhadora está nas periferias!", pontua.

Foi pensando na potência econômica proveniente das pessoas periféricas que João Carrilho criou o "Corre.", aplicativo que valoriza os diversos tipos de trabalhos regionais. O objetivo, segundo ele, é substituir as grandes redes sociais e ser útil às comunidades. "A ideia é construir algo para o que for importante chegar até você. Para saber quem presta serviços, para conhecer os artistas da região, quais projetos sociais a região tem, quem precisa de doação…", explica.

O "Corre.", disponível nas principais lojas de aplicativo (https://play.google.com/store/apps/details?id=com.corresocial.corresocial), é uma espécie de marketplace. Nele, é possível encontrar ofertas de produtos, serviços, demandas e, acima de tudo, pessoas e anúncios reais.

Carrilho diz que o app terá novidades em breve, levando ainda mais serviços sociais aos usuários. "A gente quer evoluir pela cultura. Tivemos um projeto aprovado na [Lei] Rouanet. Também fechamos parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social. Assim, as pessoas vão poder cadastrar o NIS e receber notificações quando forem liberados os seus benefícios", conta.

O "Corre." já conta com cerca de 700 usuários ativos e mais de 400 publicações. Com o incremento das novas ferramentas, a expectativa é de que 40 mil famílias sejam alcançadas.

Neste ano, o aplicativo é um dos apoiadores oficiais da Semana da Favela, levando informações e servindo de exemplo àqueles que buscam inovar no mercado investindo em negócios regionais.

João Carrilho e Lua Gomes: "O que a gente quer é promover a autonomia econômica”
João Carrilho e Lua Gomes: "O que a gente quer é promover a autonomia econômica” | Foto: Sérgio Ranalli - Editor

PARTICIPAÇÃO

Para os interessados em participar do evento, o primeiro dia contará com apresentações de dança, batalhas de rima e break, roda de samba e baile de favela. Também haverá um mutirão, com 80 doses disponíveis, para a aplicação da vacina tetravalente contra a gripe.

No dia 5 de novembro, haverá contação de histórias, oficina de rimas, apresentações musicais, brincadeiras de rua e arrecadação de alimentos.

No terceiro dia, haverá uma feira de serviços, com dicas jurídicas, informações sobre negociações de dívidas e abertura e legalização de negócios.

Nos dias 6, 7 e 8 de novembro a Semana da Favela levará a todas as regiões de Londrina workshops e oficinas de diversos segmentos, como maquiagem, artesanato, tecnologia, estética e fotografia.

O projeto conta com o apoio institucional da prefeitura de Londrina e patrocínio do Banco24Horas. Interessados em contribuir voluntariamente com cursos, workshops ou na organização do evento podem encontrar mais informações na página do Conexões no Instagram @conexoeslondrina.