Na primeira visita que fizeram a Londrina, o analista de sistemas Eliezer Becker de Melo e a artesã Eugênia de Melo se surpreenderam ao visitar o Parque Arthur Thomas (zona sul) em um sábado de manhã. "Um lugar tão lindo com tão pouca gente!", exclamaram eles, que vivem no interior de São Paulo, praticam escotismo e têm o hábito de visitar parques públicos em todos os locais por onde passam.

Questionados sobre uma explicação relativa à pouca frequência de visitantes, eles arriscaram dizer que falta, no local, uma estrutura que incentive a permanência, como parques infantis, lanchonete, espaços para piqueniques e até mesmo a manutenção geral do espaço. "Por outro lado, já estivemos em parques com menos estrutura e muito mais movimentados. Também depende do hábito da população", comparam.

A percepção dos turistas reflete um dilema que passa pela cabeça de muita gente que frequenta os parques de Londrina. Não há manutenção pela falta de uso ou as pessoas não frequentam porque não estão bem cuidados? Zerão, Parque Arthur Thomas, Lago Norte, Lago Cabrinha e Bosque Municipal Marechal Cândido Rondon somam 877,6 mil metros quadrados de áreas verdes municipais com estrutura para esportes e lazer na zona urbana da cidade. Além disso, a cidade é dotada de fundos de vale e o chamado parque linear que concentra os lagos formados pelo Ribeirão Cambezinho.

É uma estrutura de dar inveja para muitos municípios, mas mantê-la não é fácil e nem barato. A presença mais efetiva da população nos locais poderia, a princípio, incentivar o cuidado e até mesmo combater o vandalismo.

Imagem ilustrativa da imagem Sem manutenção, parques urbanos perdem visitantes



A arquiteta Simone de Oliveira Fernandes Vecchiatti, mestre em arquitetura e urbanismo na área de morfologia urbana e gerente de Áreas Verdes da Sema (Secretaria Municipal do Ambiente), não concorda, a princípio, que os londrinenses não frequentem os parques da cidade. "Para afirmar isso, teríamos que passar bastante tempo observando esses locais", diz ela, que pesquisou a desafetação dos espaços públicos de Londrina em sua tese de mestrado.

Vecchiatti defende que o uso dos espaços públicos não depende tanto de equipamentos, mas principalmente da identificação da comunidade com o local. "Por isso é importante que, ao projetar uma área, o poder público entre em contato com a população para ver os principais anseios", opina ela, destacando que o processo é conjunto. "A prefeitura precisa se aproximar das associações de bairro, engajar a comunidade nos cuidados com as áreas verdes, mas a comunidade também precisa tomar conta, preservar... A obrigação de cuidar é de todos", pontua.

Ela cita o exemplo do Jardim Botânico de Londrina, um parque estadual que, apesar de não ter muitos atrativos além de espaços para contemplação, atrai públicos diversificados. Admite, porém, que a existência de equipamentos como parques infantis, arborização, bancos bem conservados e iluminação favorecem o uso das áreas.

"A Sema está planejando o plantio de flores e, a médio prazo, queremos captar recursos para colocar parquinhos e outras estruturas que atraiam as pessoas. O problema destes investimentos é que perdemos muito tempo pensando em como evitar o vandalismo. Em locais antigos, mas ocupados, como é o caso do Zerão, bancos antigos sobrevivem. Em outros lugares, como o Lago Norte, instalamos estruturas melhores e as pessoas quebraram", lamenta.

Pulmões que purificam o ar das cidades e criam microclimas que combatem o calor cada vez mais excessivo, as áreas verdes também são fundamentais para minimizar enchentes e incentivam a vida em comunidade. "São espaços que reúnem as pessoas para lazer e contemplação. Quando a comunidade começa a usar determinados espaços para brincadeiras com crianças, exercícios e até mesmo piqueniques, é natural que o poder público passe a ser cobrado para garantir a manutenção. É isso que se espera. Além disso, as pessoas que costumavam usar o espaço de maneira indevida acabam indo embora. Frequentar áreas verdes é fundamental para qualidade de vida", analisa.

RESPONSABILIDADE
Carlos Alberto Hirata, professor do departamento de Geociências da UEL (Universidade Estadual de Londrina), concorda que a ocupação dos espaços públicos depende de uma questão comportamental da população, mas destaca que os órgãos públicos precisam ter capacidade de gerir o patrimônio decorrente da doação de áreas urbanizadas por loteamentos e que acabam sendo transformados em praças e parques.

"O município lança o IPTU sobre as áreas que não foram doadas para, em tese, manter o custo da urbanização", afirma. Apesar de reconhecer a responsabilidade da administração pública, ele não exime a população da obrigação de cuidar. "Quando participei da administração, tivemos uma experiência bem sucedida que chamamos de "adote um jardim". Esse tipo de iniciativa envolve a comunidade", exemplifica. Ele também acredita que conservação, segurança, iluminação e equipamentos de lazer são atrativos importantes e merecem um olhar cuidadoso do poder público. "Acessibilidade para crianças pequenas e idosos são fundamentais", defende.

Hirata sabe que não há apenas uma solução para os problemas da falta de conservação que pode influenciar o uso dos parques, mas reforça que a responsabilidade de manter é da prefeitura.