Lucilia Okamura
De Londrina
A auxiliar de enfermagem Cristina Rezende Pereira, moradora do Jardim Ideal, na zona leste de Londrina, aguarda com expectativa que a Sanepar cumpra a liminar judicial que obriga a normalizar o abastecimento de água de consumidores inadimplentes. Ela está sem água desde janeiro e o seu caso foi um dos motivos que levou o Ministério Público a ingressar com ação civil contra a Sanepar para garantir que a empresa não efetue o corte no abastecimento de consumidores em débito.
Na sexta-feira passada, em resposta à ação impetrada pelo promotor de Defesa do Consumidor, Hélio Cardoso, a Justiça concedeu liminar dando prazo de 10 dias após ser intimada para a Sanepar religar a água dos consumidores inadimplentes. O promotor entende que o corte é arbitrário e ilegal e que a Sanepar deve buscar mecanismos legais para a cobrança, como uma ação judicial.
Segundo a assessoria de imprensa da empresa, em Curitiba, a presidência ainda não foi comunicada oficialmente. Só após a notificação a Sanepar irá se pronunciar.
O episódio da auxiliar de enfermagem, que teve o abastecimento cortado por falta de pagamento, se transformou em caso de polícia. Ela contou que após várias tentativas de negociação, funcionários da Sanepar foram até sua casa no para retirar o hidrômetro. Como se recusou, a Polícia Militar foi chamada e ela foi ameaçada de prisão. Para evitar mais confusão, afirma, permitiu o corte de água. ‘‘Foi uma humilhação muito grande’’, lembrou.
Cristina Pereira mora com outros dois adultos e quatro crianças menores de 10 anos de idade. Desde o dia 31 de janeiro, com o corte de água, toda a família está tendo que conviver com o racionamento. ‘‘Estou contando com a ajuda dos amigos e vizinhos que me fornecem água’’, afirmou. ‘‘As crianças não entendem por que não podem tomar banho mais de uma vez por dia.’’
As roupas da família são lavadas na casa de parentes. ‘‘Mas cortinas, colchas e outras peças estão sujas faz muito tempo. Limpar o quintal, nem pensar’’, relatou. Segundo a auxiliar de enfermagem, se não fosse a chuva de anteontem à noite, a casa estaria ‘‘um lixo’’.
Ao saber da liminar que pode trazer água novamente à sua casa, Cristina Pereira comemorou. ‘‘A Sanepar pode até recorrer, mas eu acredito que a Justiça não vai voltar atrás’’, ressaltou.
Segundo a auxiliar de enfermagem, o problema com a Sanepar começou início em 97, quando começou a receber contas com ‘‘valores exorbitantes’’. ‘‘Tinha conta de R$ 500,00’’, lembrou. Ela disse que foi detectado um vazamento no encanamento e que negociou com a Sanepar no ano seguinte. ‘‘Fiquei de pagar a dívida em 25 vezes.’’
Após pagar cerca de 10 parcelas (de aproximadamente R$ 100,00), Cristina Pereira disse que resolveu parar porque a conta do consumo mensal continuava alta. O caso foi se arrastando até o início deste ano. ‘‘A minha dívida era de R$ 5 mil’’, contou. ‘‘Eu não me recuso a pagar, mas tem que ser uma mensalidade viável.’’
Na época em que ocorreu o problema, o gerente metropolitano da Sanepar, Paulo Kishima, disse que a decisão de cortar a água só ocorreu depois de esgotar as possibilidades de negociação. Ele afirmou ainda que a dívida não será perdoada e que estaria aguardando Cristina Pereira comparecer na Sanepar para tentar resolver a situação.