A exposição “Saúde Mental: o Cuidado Através da Arte”. pode ser vista a partir desta segunda-feira (11) até sexta-feira (15), na Biblioteca Pública Municipal Pedro Viriato Parigot de Souza (avenida Rio de Janeiro, 413, área central de Londrina). Em dois ambientes do piso térreo do local, com visitação gratuita, estarão reunidos painéis com produções de usuários de diferentes serviços ofertados pela secretaria Municipal de Saúde, via Caps 3 (Centro de Atenção Psicossocial) e Caps AD (Álcool e Drogas) e também Serviço de Saúde Mental Volante, este um projeto-piloto para atendimento específico às pessoas que acessam os serviços de Acolhimento Institucional (abrigos e casas de passagem).

Cada um destes serviços conta com uma proposta que utiliza a arte nos processos de cuidado de vários tipos de sofrimento. Uma amostra dos resultados dessas iniciativas, realizadas ao longo de 2023, por meio de oficinas com atendimentos em grupo, agora estarão disponíveis na exposição. São desenhos, pinturas, quadros, enfeites e itens artesanais de confecção como tapetes, painéis, cestas e outros.

Ao participarem das atividades, muitas das pessoas atendidas pelos serviços descobrem nova potência e uma possibilidade de ressignificar suas agruras através da arte, o que colabora para outros projetos de vida e outras formas de se relacionar e conviver em sociedade.

Entre os benefícios aos usuários que participam das oficinas estão maior socialização entre os grupos, mais autoestima, aquisição de novas habilidades sociais, emocionais e de comunicação. Também o aprimoramento da coordenação motora, estímulo à criatividade, independência e autonomia, redução de ansiedade, ressignificação de papéis sociais e produtivo, proteção e reabilitação da saúde, redução de danos e prevenção de recaídas.

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NÓS DA VIDA

Nas oficinas de Terapia Ocupacional do Caps AD foram realizadas oficinas de produções artesanais de macramê, crochê, tear, caixinhas de palitos, cestas de revista e pinturas em MDF. O processo terapêutico ocupacional da aula de macramê, por exemplo, visou a mudança do foco do pensamento compulsivo pelo uso de álcool e drogas e, secundariamente, utilizar os “nós” do macramê para desfazer os “nós” da vida.

Segundo a terapeuta ocupacional Emanoelle Oliveira de Souza, que atua no Caps AD e conduziu as oficinas nesta unidade, uma das ideias da exposição é resgatar e promover identidades, as qualidades que cada um possui e desenvolver novas habilidades. “Além disso, as atividades ajudam a resgatar ou reforçar o sentimento de pertencimento e reconhecimento pessoal e social. O formato da exposição, integrando produções resultantes de diferentes serviços, amplia a divulgação, aumenta a relevância e traz mais visibilidade aos trabalhos e ao público atendido”, disse.

Souza contou que as atividades abrem oportunidade para todos os pacientes se expressarem, além de facilitar a vinculação entre terapeuta e paciente. “Eles sentem-se mais à vontade para se expressar por meio das linguagens artísticas quando ainda não conseguem falar sobre seus sentimentos. Percebo que, quando utilizo atividades que envolvem a arte e atividades expressivas, a chance de interação é maior. Além de resgatar as qualidades que eles tinham, a identidade de cada um, a ideia é incentivar a persistência para concluir uma atividade, vencer seus próprios bloqueios ou paredes (de que não são mais capazes de executar algo). Considero esta uma oportunidade de essas pessoas existirem, já que os mesmos muitas vezes acabam se tornando invisíveis para a sociedade”, relatou.

Imagem ilustrativa da imagem Saúde mental e arte é tema de exposição na Biblioteca de Londrina
| Foto: Divulgação - N.Com

TROCAS E VIVÊNCIAS

O psicólogo Sérgio Kazuyoshi Fuji, profissional da Equipe Itinerante do Serviço de Saúde Mental Volante, também foi um dos idealizadores da exposição. Ele disse que a proposta de oficinas artísticas partiu justamente do perfil dos acolhidos e acolhidas pelo serviço. “O retorno do público ocorreu desde o primeiro momento com a participação, com as trocas, com as vivências propiciadas. Muitos deles apresentam relatos de bem-estar, percebem que são vistos e tratados com respeito e dignidade. Vários passam a valorizar o cuidado e autocuidado, buscam tratamento quando faz sentido, retomam vínculos familiares, encontram solidariedade entre si. Há, claro, muitas formas de pensar no que pode ser um retorno, tanto pensando no atendimento dos serviços, na visão do usuário que se beneficia, na perspectiva da atuação em rede, na promoção de cuidado em espaços alternativos, entre outros fatores”, salientou.

O Serviço de Saúde Mental Volante oferta atendimentos para a população, individual ou em grupos, que apresentam algum tipo de sofrimento. As entidades MMA (Ministério de Missão e Adoração) e Casa Verde (Missão Casa Verde) acolhem diariamente pessoas em situação de rua, que buscam mudar sua condição de vida.

A Equipe Itinerante, formada por um enfermeiro e um psicólogo , tem realizado oficinas nos grupos com acolhidos e acolhidas dessas entidades e encontrou na arte abertura para tratar de assuntos delicados e que comprometeram, em certa medida, as vidas das pessoas: situação de rua, uso de drogas, conflitos familiares, perdas e lutos, violência doméstica, pobreza, sexualidade, racismo, machismo e outros.

As oficinas, que abrangeram trabalhos com linhas, tintas, miçangas e cores, têm contribuído nos processos de autocuidado e cuidados coletivos. As obras dos usuários representam um pouco do seu infinito de identidades, potencialidades, personalidades e singularidades. (Com informações do N.Com)