Manhã de uma quinta-feira das últimas semanas. A reportagem da FOLHA desembarca na cidade que já foi considerada a Capital Brasileira do Diamante, a bucólica Tibagi (101 km ao norte de Ponta Grossa). Diz a história que, na década de 1930, seis mil garimpeiros que vinham principalmente da Bahia ''invadiram'' o município que hoje tem 19 mil habitantes e há pouco tempo ganhou o título de ''melhor cidadezinha do Brasil.'' A procura era pela pedra preciosa no caudaloso rio que leva o mesmo nome da cidade. Hoje, restam somente algumas dezenas de garimpeiros, mas o sonho de enriquecer com uma grande pedra continua vivo.

Os tibagianos são simpáticos e acolhedores, porém tudo muda quando o assunto é diamante. Ninguém gosta de falar sobre isso. É quase um tema proibido. Todos parecem ter medo de admitir que mais de duas dezenas de balsas trabalham no rio, cada uma com aproximadamente oito mergulhadores, os quais descem até o fundo do Tibagi, em sistema de revezamento, para revirar o cascalho que pode esconder um diamante. Em Ortigueira, a situação é semelhante. Lá, a reportagem fez contato com alguns mergulhadores, porém nenhum quis conversa. A causa do medo é a ilegalidade. Até o mês passado, ninguém tinha autorização do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) para a pesquisa ou extração de diamantes no rio, com exceção da Klabin.

Maior produtora e exportadora de papéis do Brasil, a Klabin conseguiu, em 1973, a autorização de lavra para ouros e diamantes no Tibagi. No entanto, de acordo com a sua assessoria de comunicação, a empresa não pratica nenhuma atividade de exploração de minérios. A autorização oficial é apenas uma manobra para evitar que mineradores consigam autorização para explorar o subsolo em áreas da empresa. ''A Klabin renova periodicamente a sua autorização de lavra com vistas à proteção e preservação das áreas de sua propriedade, que abrange o Rio Tibagi'', diz uma nota enviada pela empresa à FOLHA.

Em outubro de 2004 a FOLHA publicou uma série de matérias mostrando a romântica história da exploração de diamantes na região e denunciando situações de ilegalidade.
Depois das matérias publicadas, a Polícia Federal deflagrou a Operação Tibagi, em junho de 2006, que resultou na prisão de Waldir Brandão, superintendente do DNPM do Paraná naquela época. Ele era acusado de conceder ilegalmente alvarás de lavra e promover falsificação de Certificados Kimberley, a documentação oficial necessária para o comércio internacional de pedras preciosas.

Atualmente acontece uma verdadeira corrida para legalizar a atividade. De acordo com o DNPM, existem 41 requerimentos de autorização de pesquisa junto ao órgão, alguns só para diamantes e outros para diamantes e mais algumas substâncias, como areia, por exemplo. Outras 73 autorizações de pesquisa estão em plena vigência. Autorização de lavra, somente a da Klabin. Contudo, nenhuma empresa está tão avançada quanto a Mineradora Tibagiana. De acordo com o IAP, essa empresa é a única do Paraná que, além da autorização de pesquisa do DNPM, também possui a licença de operação concedida pelo órgão ambiental.

''Vale ressaltar que, para obter a autorização junto ao IAP, o empreendedor deve apresentar a concessão de lavra obtida com o DNPM e a anuência do proprietário das terras, o superficiário. Dependendo do porte do empreendimento, também pode ser solicitado o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) ou o Relatório de Impacto Ambiental (Rima)'', explica Harry Telles, diretor de controle de reservas ambientais do IAP.