Imagem ilustrativa da imagem Revitalização do Bosque não reduz superpopulação de pombos
| Foto: Saulo Ohara



A auxiliar de limpeza Eva de Oliveira trabalha na manutenção de uma empresa próxima ao Bosque, no centro de Londrina, e todos os dias assiste o serviço realizado em frente à instituição ir literalmente por água abaixo em poucas horas. Por mais que os funcionários limpem, em pouco tempo os pombos que habitam o Bosque e arredores defecam no local e sujam toda a calçada. "A gente lava toda semana, mas não adianta, é um trabalho sem fim. Esses pombos espalham doenças, a prefeitura devia dar um jeito neles", opina.

A reclamação de Oliveira faz coro com quase todo mundo que mora, trabalha ou passa perto do Bosque diariamente. A área de preservação que deveria ser usada para lazer e descanso da população da região acaba subutilizada porque ninguém consegue permanecer por muito tempo no local. A revitalização realizada recentemente no Bosque, com pintura, podas de árvore, liberação de espaço para circulação e redução dos poleiros usados pelas pombas deixou o parque mais bonito. Frequentadores do local – que inclusive se manifestaram através da seção de opinião de leitores da FOLHA – reclamam que as reformas não são suficientes para garantir a usabilidade do Bosque.

A área deveria ser usada para lazer e descanso da população da região acaba subutilizada
A área deveria ser usada para lazer e descanso da população da região acaba subutilizada | Foto: Marcos Zanutto



"A sujeira das pombas afasta os frequentadores", aponta o aposentado Amadeu Valério Filho, que costuma fazer exercícios na academia do local, mas antes de sair de casa olha o clima para saber se o cheiro estará suportável. "Logo depois de uma chuva, quando sai o sol, o odor é impossível de aguentar. Quando está assim eu não me arrisco a passar pelo Bosque", diz ele, que não acredita em solução para o problema. "Já tentaram de tudo e nada resolveu", lamenta.

Aparelhos eletromagnéticos emissores de ondas que desorientariam os pombos, multa para quem alimenta as aves, construção de um pombal no cemitério São Pedro e aplicação de gel nos galhos das árvores do Bosque foram algumas tentativas dos últimos dez anos para minimizar o problema. A secretaria do Ambiente em Londrina, Roberta Silveira Queiroz, reconhece que as diversas tentativas não tiveram o resultado esperado. "É uma questão de política a longo prazo, com recuperação florestal no entorno da cidade de forma a atrair predadores naturais. Cheguei a pensar em abate, mas as pombas são aves migratórias e logo haveria outras no local", pontua.

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MUDANÇA DE HABITAT
O agrônomo Paulo Guilherme, diretor operacional da Sema, informou que a secretaria tem um grupo de trabalho debatendo possíveis manejos para a superpopulação de pombos, mas não há solução conclusiva. "É uma situação complicada que se arrasta há mais de uma década", diz. De concreto, ele anunciou que a Sema vai terminar até o início de junho um plano de manejo das árvores do Bosque para então pedir autorização ao IAP (Instituto Ambiental do Paraná) para erradicar espécies sem condições de se desenvolverem. "A mudança no habitat das pombas vai causar estresse e pode incomodar as aves", acredita. Não há certeza, porém, na eficácia do manejo em relação à diminuição das aves. "O foco principal é a sobreviência do Bosque."

Segundo ele, o Bosque está se degradando por causa da germinação de espécies grandes muito próximas umas das outras. "As árvores ficam estioladas por falta de espaço para crescer", aponta, referindo-se ao fato de ficarem finas e altas. "Dessa forma, há risco de caírem com o vento", alerta. No final de 2017, uma fiscal que atuava no serviço de Zona Azul morreu após ser atingida por um galho que caiu de uma árvore do local e atingiu a calçada da avenida Rio de Janeiro.

Perobas e pau d'alhos são espécies nativas que cresceram sem controle. "Teremos que escolher as mais viáveis para preservar", esclareceu o agrônomo, destacando quem em uma segunda fase serão plantadas outras espécies nativas de menor porte para aumentar a diversidade. "No início o Bosque vai ficar parecido com uma praça, com a luminosidade chegando ao solo", acredita.

CMTU realiza de segunda a sexta-feira a lavagem das calçadas externa e interna
CMTU realiza de segunda a sexta-feira a lavagem das calçadas externa e interna | Foto: Marcos Zanutto



LAVAGEM
Para minimizar a sujeira das pombas, a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) realiza de segunda a sexta-feira a lavagem do Bosque Central. Conforme nota enviada pela assessoria de imprensa, são lavadas as calçadas das avenidas Rio de Janeiro e São Paulo; da rua Pará, da travessa Padre Bernardo Greis, além do Zerinho, das calçadas internas do Bosque e área de lazer. "A lavagem é feita a jato sem a utilização de nenhum produto químico, apenas com a pressão da água. Também é feita diariamente durante a semana a varrição, a coleta das lixeiras e o recolhimento de entulhos", informou o órgão.

A assessoria informou que a CMTU está trabalhando num Plano de Manejo do Bosque, mas não divulgou detalhes. Outra informação é que está fazendo levantamento para implantação de uma fossa séptica no Bosque ou a possibilidade de fazer o lançamento direto dos dejetos da lavagem na rede de esgoto da Sanepar, com o objetivo de evitar a poluição difusa.

No município são mais de 400 mil pombas nas zonas urbana e rural, segundo última estimativa feita na cidade.