Uma tosse hoje é suficiente para gerar medo. Com os sintomas parecidos com o de uma gripe, o novo coronavírus assusta até quem tem um simples resfriado. Saber quando se deve pedir ajuda e buscar orientação médica é primordial em tempos de pandemia, por conta disso, a FOLHA atendeu a pedidos dos leitores e entrevistou médicos infectologistas para esclarecer sobre as três síndromes.

Imagem ilustrativa da imagem Resfriado, gripe ou coronavírus? Infectologistas explicam as diferenças
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“Existem doenças que são sobreponíveis, os sintomas são iguais. Resfriado, gripe e novo coronavírus têm sintomas de síndrome gripal e clinicamente é difícil diferenciar essas doenças”, aponta Arilson Morimoto, infectologista em Londrina. Isso explica por que os hospitais têm tomado os devidos cuidados no diagnóstico de pacientes graves, enviando exames a laboratórios credenciados para um resultado efetivo.

SINTOMAS

No entanto, o médico infectologista Rafael Mialski, que é membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e Apri (Associação Paranaense de Infectologia), aponta algumas diferenças entre as síndromes. “O resfriado é uma síndrome clínica causada por diversos vírus que acometem vias respiratórias superiores, com sintomas, via de regra, brandos”, explica. No adulto, pode levar à febre, porém não persistente.

“A gripe consiste em febre abrupta alta e, principalmente, tosse, mas também pode vir acompanhada de outros sintomas de via aérea superior”, aponta Mialski. Causada pelo vírus chamado Influenza – que possui vários subtipos - o destaque é para a febre alta, dor no corpo, mal estar, prostração e comprometimento do estado geral do paciente.

O novo coronavírus alterna entre os sintomas. “Provavelmente, oscila entre os dois quadros, pode ser tanto brando, que se encaixa como resfriado, ou uma síndrome gripal, mas discute-se que deva ter um grupo grande de pessoas com espectro de doença para o resfriado”, acrescenta. O médico citou, nas três síndromes, os sintomas mais persistentes e eles estão no quadro comparativo divulgado pelo MS (Ministério da Saúde).

Ainda assim, Morimoto alerta que 86% dos casos do novo coronavírus são assintomáticos ou oligossintomáticos, ou seja, apresentam pouco ou nenhum sinal da doença.

QUANDO PROCURAR UM MÉDICO?

A febre é característica fundamental para classificação de um caso suspeito, mas é preciso vir acompanhada de outro sintoma respiratório e ter histórico de viagens internacionais ou contato com outro caso suspeito ou confirmado, segundo o MS. “Atualmente é recomendado pela SBI e por alguns serviços municipais de saúde de que o paciente só procure o sistema de saúde caso tenha algum sinal de alarme, como febre persistente por mais de 24 ou 48 horas ou que tenha falta de ar”, afirma Mialski. “Caso o paciente não apresente essa febre persistente e falta de ar o ideal é que fique em casa, porque a maioria das vezes o resfriado se autorresolve como o quadro leve do próprio coronavíruis pode se autorresolver também”, acrescenta Mialski.

TRATAMENTO

Morimoto explica que o novo coronavírus não possui tratamento. “O MS liberou o uso de hidroxicloroquina associada à azitromicina, mas apenas para casos graves e em uso hospitalar. Esse tratamento ainda não tem respaldo científico, está em fase de estudo e por isso é aplicado somente a casos graves e com termo de consentimento”, afirma. A gripe possui tratamento com medicação específica, o oseltamivir. Já no resfriado, que pode ser causado por diversos vírus diferentes, são utilizados medicamentos para aliviar sintomas, como analgésicos, antitérmicos e descongestionantes nasais.

TRANSMISSÃO

A transmissão das três infecções se dá por gotículas. “Falar, tossir, espirrar emitem gotículas que se projetam em superfícies, outros pacientes colocam a mão e trazem diretamente ao olho, nariz, boca”, explica Mialski. A projeção de gotículas também pode levar ao contato direto com a mucosa de outra pessoa, caso não haja etiqueta respiratória. Dentro do hospital, quando se manipula a via aérea de um paciente, também pode ocorrer a geração de partículas menores, com alcance maior, chamado de aerossol.

O novo coronavírus possui uma transmissão maior que a gripe. “O que temos de informação é que ela se propaga de maneira mais rápida, até porque a gente tem uma população suscetível, sem vacina disponível, então todos são candidatos a serem infectados”, acrescenta.

TAXA DE LETALIDADE

Mialski aponta que, apesar de improvável, o resfriado pode ter complicação maior, mas em uma população muito restrita e que não há número claro de quantos morrem por conta da síndrome. Já a gripe, a estimativa é de há menos de 1% de mortalidade pelo vírus Influenza.

“Agora a gente está por definir a taxa de letalidade do novo coronavírus, alguns dados oscilam entre 3 e 4%; dependendo da localidade há menos que 1%; em outros locais chegam a 6%”, acrescenta. Ele explica que é preciso conhecer melhor a doença para conseguir definir um dado.

De acordo com Morimoto, ainda não é possível mensurar a taxa de letalidade do Covid-19. “A gente não consegue identificar quantas pessoas foram infectadas, então não conseguimos ter esse número de forma adequada. Aparentemente, o Covid-19 tem uma taxa de letalidade maior e transmite muito mais”, aponta.

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PREOCUPAÇÃO

Apesar de parecidos, há preocupação com o novo coronavírus por se tratar de uma doença nova. “O desconhecido é um dos maiores motivos de preocupação. Não tem vacina, não tem forma de imunização definida e de tratamento também”, alerta Mialski e acrescenta: “traz mais preocupação, mas não podemos esquecer que a influenza continua circulando, traz óbitos e é sim uma doença para nos preocuparmos.”