Cada um absorve as notícias sobre o coronavírus de uma forma diferente. Alguns pensam, em algum momento, que podem estar imunes. Outros, são invadidos pelo medo, que gera ansiedade e causa angústia. Tem ainda a sensação de impotência diante de algo que os olhos não conseguem enxergar e que por isso, todos com exceção dos profissionais de saúde e outras atividades essenciais, devem se manter em casa. Esse confinamento também é algo inusitado para os brasileiros.

As emoções estão à flor da pele e nesse momento tão íntimo e, ao mesmo tempo, de espírito coletivo, algumas palavras podem trazer conforto e a mensagem de que por trás de todas as notícias ruins há sempre espaço para o bem, para o ser solidário, para o pensamento positivo e a esperança. Pensando nisso, a FOLHA ouviu representantes de diferentes religiões em Londrina para transmitir suas mensagens de fé.

'Fértil oportunidade de fortalecimento da fé'

“O tempo de isolamento social pode ser encarado como uma fértil oportunidade de fortalecimento da fé nesse Deus maravilhoso que nos cria, nos ensina e nos conduz”. A fala do padre Dirceu Júnior dos Reis, pároco da Paróquia São José Operário em Londrina e assessor eclesiástico da pastoral da Comunicação, traz, além da importância do isolamento social neste momento, a mensagem do Salmo 22 para os momentos em que o medo bater ao coração.

Padre Dirceu Júnior dos Reis:  "Esperança de que muitos voltem seu olhar para o sentido de suas vidas"
Padre Dirceu Júnior dos Reis: "Esperança de que muitos voltem seu olhar para o sentido de suas vidas" | Foto: Divulgação

“O Salmo 22 nos apresenta uma das realidades mais belas: ‘o Senhor é o pastor que nos conduz não nos falta coisa alguma’. Pela oração temos a oportunidade de ver, sentir e reconhecer a presença de Deus, por meio de Cristo, que de forma inesperada e real se faz presente conosco e com nossas famílias. Frequentemente, em razão das muitas atividades do dia a dia temos dificuldade em reconhecer tal presença. Por isso, ficar em casa com a família, no silêncio, é uma circunstância oportuna de oração a ponto de afirmar a si mesmo, de coração aberto, que Ele está no meio de nós”, diz.

Padre Dirceu comenta que a Igreja Católica vê a pandemia do coronavírus com preocupação e esperança. A preocupação, ele explica, é porque é indispensável retomar esforços que defendam e cultivam a vida humana, pois nenhum "valor" passageiro pode substituir a dignidade e o sentido da vida humana. Ele também cita a preocupação quando as orientações das autoridades de saúde não são ouvidas pela população ou quando a corrida por dinheiro ultrapassa a existência humana.

“Ou seja, precisamos voltar a olhar a vida humana como dom, isso é urgente. Mas também esperança. Esperança de que, diante desse cenário que nos preocupa, muitos voltem seu olhar para o sentido de suas vidas, que está em Deus, o criador de todas as coisas, principalmente o ser humano. Perceber que sem Ele não temos condições de viver e como sempre fez na história, Ele continuará a nos amparar, nos ensinar, nos conduzir e sobretudo nos abençoar diante das mais adversas atribulações”.

Fazer o cristianismo funcionar

O pastor Vanderlei Frari, do Conselho de Pastores Evangélicos de Londrina, lembra que a pandemia foge ao controle de qualquer autoridade, mas reforça que todos podem cooperar para que ela se atenue. Ele ressalta que todas as diretrizes dos governos, especialmente nas esferas estadual e municipal, e autoridades de saúde, estão sendo reafirmadas junto à comunidade evangélica.

Pastor Vanderlei Frari: "Que a oração seja intensificada em favor das nações"
Pastor Vanderlei Frari: "Que a oração seja intensificada em favor das nações" | Foto: Divulgação

“Temos conversado com os pastores para que não procurem ficar justificando a necessidade de manter suas igrejas abertas sob algum pretexto espiritual, como temos visto eventualmente na mídia. Estamos também orientando para que as igrejas atendam aos decretos oficiais e suspendam os cultos e demais atividades”, afirma.

O pastor aproveita o momento de fala para lembrar as pessoas que em primeiro lugar é preciso reforçar a confiança em Deus e de pensar que todos irão enfrentar isso com sobriedade e unidade. "E que Ele vai nos dar sabedoria, ajudando a lidar com o medo e o pânico", completa. Em segundo lugar, o pastor diz que é pensar no próximo, pois destaca que faz parte dos valores fundamentais do cristianismo o amor ao próximo e a solidariedade, especialmente com os mais desfavorecidos.

"Que a gente fique atento e tenha da parte de Deus a criatividade de poder olhar para essas situações e descobrir novos meios de suprir as necessidades, de ajudar as pessoas nesse momento tão difícil e que a oração seja intensificada em favor das nações. É nesse momento que a igreja cristã em si vai provar o seu valor diante do mundo, que vai mostrar que há um diferencial naquela fé que se professa. É um momento de crise, mas de grande oportunidade de fazer nosso cristianismo funcionar”, declara.

Hora de refletir e evoluir

O monge Gyouen Campos, responsável pelo Templo Budista Hompoji de Londrina, ressalta que o Buda há quase três mil anos ensinou que não nascemos num mar de rosas, mas num mar de sofrimentos e, por isso, o sofrimento é inevitável. “O que pode mudar é o ponto de vista. O sofrimento pode fazer a pessoa sucumbir e se afundar ainda mais neste mar ou pode servir para ela emergir, sair deste mar, subir numa embarcação, se tornar mais forte e capaz de superar essas e outras estão por vir”, diz.

Monge  Gyouen Campos:  "É um momento para refletir, descobrir o que realmente é importante, de prestar solidariedade, apoio, carinho e palavras de consolo às pessoas”
Monge Gyouen Campos: "É um momento para refletir, descobrir o que realmente é importante, de prestar solidariedade, apoio, carinho e palavras de consolo às pessoas” | Foto: Divulgação

O monge ressalta que cada um pode e deve usar esse momento como um aprendizado e uma oportunidade de evoluir, se superar, se transformar e ser uma pessoa melhor. “Este é o momento que devemos aprender a fazer aquilo que já deveríamos ter feito há muito tempo: ficar mais próximo da família, conversar mais com o marido, esposa, pai, mãe, avós, filhos, usar mais a criatividade, ler mais, aprender, brincar e estudar mais. É um momento para refletir bastante, descobrir o que realmente é importante, de prestar solidariedade, apoio, carinho e palavras de consolo às pessoas”, cita.

"Não há razão para pânico"

Denise Cristina Marques Godinho, espírita: “Apesar de toda gravidade do momento, entendemos que não estamos à deriva e isso nos tranquiliza"
Denise Cristina Marques Godinho, espírita: “Apesar de toda gravidade do momento, entendemos que não estamos à deriva e isso nos tranquiliza" | Foto: Divulgação

A espírita Denise Cristina Marques Godinho, trabalhadora do Centro Espírita Meimei de Londrina, enfatiza que não há razão para pânico e que devemos seguir as recomendações das autoridades sanitárias e nos mantermos fortes para enfrentar este desafio. “Apesar de toda gravidade do momento, entendemos que não estamos à deriva e isso nos tranquiliza. Estou de acordo com a fala do médium Divaldo Pereira Franco: “é necessário que nós compreendamos que não nos encontramos no jogo do azar, do acaso, mas dentro de leis soberanas que regem o universo”.

Ela acrescenta que podemos aproveitar o tempo para meditar no bem, para edificações interiores e para a convivência familiar “porque que tudo isso logo passará. Tudo passa. O planeta terrestre está sobre as bênçãos de Deus e Jesus é o guia da humanidade, como disse Divaldo Franco”.

'Vamos buscar luz em quem é luz'

A reverenda em Londrina, Lucia Dal Pont, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, considera o momento atual como um problema sério de saúde pública, que ameaça a vida. E esta ameaça, segundo ela, vem da fragilidade da natureza humanapor conta de um modelo de desenvolvimento econômico de acúmulo de bens, que não se preocupou com vida humana.

Reverenda Lucia Dal Pont: "Precisamos nos cuidar para poder cuidar de outras pessoas"
Reverenda Lucia Dal Pont: "Precisamos nos cuidar para poder cuidar de outras pessoas" | Foto: Divulgação

“A preocupação deste sistema de desenvolvimento não leva em conta a preservação da saúde, não se investe no cuidado da saúde integral. Em nome do desenvolvimento, não se respeitam os limites da natureza e isso traz consequências. Precisamos nos cuidar para poder cuidar de outras pessoas que estão em risco. Não vamos deixar o medo nos paralisar. Vamos buscar luz em quem é luz”, aponta.

A reverenda pede para que todos que não estejam em grupos de ajuda pública fiquem em casa. “A enfermidade não é um castigo de Deus, mas quando isso acontece, Deus se manifesta na esperança e busca para a cura. Encontramos na Bíblia várias passagens onde, em meio ao sofrimento vem a ação de Deus, através de fatos ou pessoas, trazendo ações que levam a saídas para resolver a situação de morte”, conclui.

'Sem esta energia suprema não somos ninguém'

Pai Roberto do Ogum: "Tenham fé em Deus pois este sim é o espírito maior"
Pai Roberto do Ogum: "Tenham fé em Deus pois este sim é o espírito maior" | Foto: Divulgação

O pai Roberto do Ogum do terreiro de umbanda Estrela Guia em Londrina, faz um apelo para que a população se cuide, permanecendo em casa. “Vejo a situação com muita preocupação, pois tem muitas pessoas que ainda não se deram conta do perigo que este vírus está nos trazendo”, diz.

Ele pede para que as pessoas evitem passeios, aglomerações e idas a postos de saúde e hospitais sem necessidade. “Dentro de casa todo mundo estará mais seguro. Tenham fé em Deus pois este sim é o espírito maior. Seja homem ou mulher, seja qual for a etnia, raça, cor ou religião, sem esta força maior, esta energia suprema, não somos ninguém”, destaca.