Religiosos de Londrina dirigem mensagens de esperança para 2021

Desde que a Folha de Londrina foi fundada, em 1948, não houve um ano tão desafiador como 2020. A Covid-19 foi destruindo aos poucos os sentimentos de otimismo e esperança e mergulhando o planeta em uma depressão, que foi combinada com a tristeza da perda de familiares e amigos. Para 2021, os desejos de uma nova era nunca foram mais autênticos e significam muito mais do que a protocolar mudança na data do calendário. Que no brinde celebrando a virada do ano, a palavra “Viva!” seja entoada com todas as forças e seja uma palavra de ordem. Viva e deixe os outros viverem com fé, esperança e otimismo, com todos os sentimentos de alegria e felicidade. A Folha entrevistou líderes religiosos e espirituais de Londrina, que transmitiram mensagens para o ano que se aproxima.

'2021 DEVE SER O ANO DO REERGUIMENTO'

"A nossa paciência e nossa fé foram testadas ao limite. Muitos de nós tivemos a tentação de desistir de tudo por conta da pandemia. Por vezes ela se mostrou mais forte do que a fé, mas a fé venceu. Estamos na esperança de uma vacina no começo de 2021. Mas, enquanto isso, vamos manter as normas sanitárias, como o distanciamento social, a higiene das mãos e o uso de máscaras. É preciso prudência. Precisamos refazer as nossas forças e dar uma bela recarregada, porque 2021 deve ser o ano do reerguimento. Precisamos nos reinventar à luz da fé, porque Deus está ao nosso lado por todo esse período. Tivemos perdas, mais de 190 mil mortos, mas não deve ser sinal de desesperança. Deus se fez carne e se encarnou no meio de nós. Ele caminha conosco. Todo mundo pede para que 2021 seja um ano melhor, mas já pensaram que Deus espera que nós sejamos melhores como humanidade? As projeções econômicas parecem não ser muito boas ano que vem. Mas eu acredito na força da solidariedade. Londrina demonstrou no período mais crítico da pandemia que pode ser solidária. O projeto da Cáritas em parceria com a prefeitura arrecadou mais de 27 toneladas de alimentos. Não vamos parar por aí. A solidariedade vai falar mais alto em 2021. Parece mágico, mas não é. Se tiver um propósito, Deus nos ajuda a realizar. Na prática, nós temos de nos reinventar como pessoa e sociedade. Se colocarmos uma barreira na frente de tudo será difícil. Vamos manter o nosso olhar de esperança em Deus. Que em 2021 sejamos seres humanos melhores, uma sociedade que protege a todos. O cuidado uns com os outros devem ser as palavras que devem nos guiar em 2021."

Padre Alexandre Alves Filho, coordenador da Ação Evangelizadora da Arquidiocese de Londrina

'QUE AS PESSOAS SE ENCONTREM ESPIRITUALMENTE'

"A religião judaica é de extrema esperança. Quando estamos conectados com algo superior temos uma força diferente de quando não estamos conectados. Eu acredito que a grande crise que as pessoas enfrentam hoje não é gerada pelo coronavírus, por governos ou por finanças, mas é espiritual. Que o ano que adentra seja verdadeiramente para que as pessoas se encontrem espiritualmente. Quando a pessoa foca no espiritual, e para isso não importa a religião, se conecta com o seu eu maior. Que as pessoas busquem dentro de si algo que estão tentando buscar fora. Que 2021 seja o ano de redescoberta da verdadeira essência do ser humano. As escrituras sagradas dizem: 'Façamos o homem à nossa semelhança'. Ou seja, o divino se encontra dentro de nós. Entendo a dor de quem perdeu familiares. Este ano perdi meu pai. Mas precisamos entender que tudo tem um porquê. Esse ser querido que se foi jamais desejaria que a pessoa que ficou não vivesse a sua plenitude. Que as pessoas encontrem na morte a semente para viver. Há o salmo 23 que diz “O senhor é meu pastor, nada me faltará”. Esse é o salmo que representa 2020 e sua passagem para 2021. Toda religião tem um propósito de se conectar com o seu criador, indiferente da religião. Que as pessoas reconheçam que elas são a imagem e semelhança do criador e isso significa que elas possuem o poder de transformar suas próprias vidas e das pessoas que as amam. Que todos façam justiça, no sentido de fazer caridade. É fazer justiça no sentido de restituir, de retificar, de dar amor, de dar uma palavra de carinho, mesmo a distância, por telefone."

Charton Baggio Scheneider, Moré da Congregação Israelita de Londrina

'DEPOIS DO INVERNO VEM SEMPRE A PRIMAVERA'

"A palavra esperança vem de esperar por algo. Quando a gente pode esperar por alguma coisa? Quando faz algo para acontecer alguma coisa. É isso o que o budismo chama de efeito. É a lei da causa e efeito. A gente precisa gerar mais causas que geram efeitos melhores. Eu acredito que o otimismo vem da ação. Essa situação da pandemia é mundial e nessa proporção não se pode culpar ninguém. 2020 foi um ano difícil e as coisas que fizeram dele um ano ruim ainda não passaram. No budismo, depois do inverno vem sempre a primavera, então a pandemia poderia ser caracterizada como esse período, pois não estamos colhendo nada. A gente está sobrevivendo e que nesse momento difícil nos una dentro da nova condição. A gente nem pode se abraçar para se consolar e precisa buscar outro tipo de união, por meio da fé e da oração, mas cada um em sua casa, trazendo energias positivas. Isso é plantar sementes para novas causas. Neste ano muitas pessoas se cuidaram e ajudaram outras pessoas. Houve muita solidariedade com dedicação, cuidado e respeito. Isso nos ajudou a suportar esse período de inverno. Ano que vem vamos viver o ano da primavera. Eu sou otimista, porque eu me cuido bem. Não podemos ficar andando sem máscara e ficar sem lavar as mãos. É preciso que cada um tome seus devidos cuidados e quando chegar a vacina poderemos comemorar. Acredito que este momento está próximo. O que importa é o momento presente para garantir um bom futuro. Quem perdeu pessoas, e isso é um ensinamento para nossa vida, deve entender que a pessoa que partiu se sacrificou em nome de um bem maior. Claro que é um momento difícil, mas é preciso fazer com que cada perda que houve este ano não seja em vão. "

Monge Gyouen Campos, do Templo Hompoji

'NÃO VAMOS DESISTIR DO CAMINHO'

“Na semana passada celebramos o Natal e o nascimento de Jesus aconteceu em um tempo em que as pessoas estavam sofrendo muito. Existia um Império romano que tirava do povo a última gota de vida por meio da exploração, sofrimento e doenças. Deus se manifesta em meio aquele sofrimento para trazer a vida com saúde e dignidade. O medo parece nos paralisar, mas não podemos deixar isso acontecer. Muitas pessoas se envolveram no caminho para o nascimento de Jesus, que foi feito de sonhos, de fé e esperança. Todas elas tinham a certeza de que, para quem estava com Deus nada era impossível. Podem vir as maiores tempestades, assim como aconteceu com Maria e José. É possível termos um ano de 2021 mais tranquilo, com mais saúde, mas para isso precisamos nos colocar em movimento. Não podemos esperar que tudo aconteça como mágica. A transformação é profética, mas é preciso ver onde está o problema e gerar soluções. É preciso acreditar na palavra do anjo que disse à Maria que “A força divina age através de nós para que a gente possa cuidar de toda criação”. Vamos gerar vida nova através do amor, da partilha, da dignidade e do ajudar-se. Em 2021 vamos buscar jeitos diferentes de viver e ter esperança de vida boa, de que vai ter comida na mesa e casa para morar. E que as pessoas não tenham tanta necessidade. Irmãos e irmãs, não vamos desistir do caminho.”

Reverenda Lucia Dal Pont Sirtoli, da Igreja Episcopal Anglicana de Londrina

"O ano de 2021 vai ser regido por Oxalá e Oxum, que representam Jesus Cristo e Nossa Senhora da Conceição. Oxalá é paz, esperança e amor. Oxum é a mãe, aquela que cuida, que dá esperança. Ela cuida da parte financeira e representa a prosperidade. Isso que nos foi apresentado na umbanda. Foi um ano difícil por causa da doença e por outras questões e isso atingiu do mais rico ao mais pobre. A humanidade precisava passar por isso para olhar para o próximo com um olhar diferente. É preciso entender que tudo tem um porquê. A gente nunca espera perder alguém da nossa família. Com a pandemia a gente começou a dar valor às coisas pequenas e isso é importante para a nossa evolução. No momento em que a pessoa morre, ela troca de plano. Ela deixa a matéria para reencarnar. Tudo é um processo e é nisso que a gente acredita. Este ano também foi marcado pela solidariedade. A gente, no nosso centro, prega muito a caridade. Dentro de nossa comunidade sempre estamos ajudando uns aos outros. Temos projetos sociais que fornecem cestas básicas e enxovais para crianças. Mas sempre ressaltamos que o bem material é passageiro. O importante é o espírito. Para entrar 2021 com mais força e energia é preciso pensar em coisas boas e começar com o pé direito. O ser humano é muito individualista. É preciso ver o outro, ver o vizinho, ver a família. Pergunte a eles se eles estão passando por algum problema na vida. É preciso olhar o próximo com olhos misericordiosos."

| Foto: Arquivo Pessoal

"A Bíblia nos ensina que os tempos de crise devem ser encarados como uma experiência de crescimento, através da qual o indivíduo experimenta transformações que jamais seriam efetuadas em tempos de bonança. A imagem bíblica para esta experiência de crise é o 'deserto'. Deserto, em si, é lugar de desesperança e morte. Na experiência bíblica, os desertos sempre foram transitórios, mas cumpriram seu papel de elevar as pessoas que por ele passaram a outro nível de existência. Pessoas andaram com Deus nos desertos! Por esta razão, o Conselho de Pastores de Londrina, sem minimizar todo o sofrimento causado pela Covid-19, expressa confiança de que Deus pode renovar as nossas esperanças e proporcionar avanços em muitas áreas da experiência humana. O deserto tem seus limites e logo passará. A despeito de sua hostilidade, cabe a cada um de nós extrair o melhor daquilo que ele pode proporcionar. Que 2021 possa nos encontrar mais fortes, mais resilientes, mais confiantes e mais humanos!”

Vanderlei Frari, diretor do CPEL (Conselho de Pastores Evangélicos de Londrina e Região Metropolitana)