O maquinário traz a nova camada de pavimento na via que rasga a zona oeste de Londrina. Aos moradores e comerciantes da avenida Arthur Thomas, o recape é oportunidade de contar novas e boas histórias, como as que já passaram até então. Da avenida Tiradentes à PR-445, a avenida tem comércios diversificados, trânsito movimentado, mas vai além, tem história, memória e afeto de quem vive no local.

A artéria principal de bairros da zona oeste de Londrina tem trânsito intenso, mas houve um tempo em que era preciso caminhar muito para chegar na região
A artéria principal de bairros da zona oeste de Londrina tem trânsito intenso, mas houve um tempo em que era preciso caminhar muito para chegar na região | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Na década de 1970, Londrina passou por expansão urbana, alcançando os limites territoriais na parte oeste, região onde se instalou o campus da UEL (Universidade Estadual de Londrina). Com isso, a avenida se tornou passagem importante e artéria principal dos bairros da região.

“Eu estou aqui nesse ponto desde 1984, sempre foi movimentada”, menciona Romilton Andrade, 72. O proprietário de uma oficina mecânica comprou o ponto quando ainda era uma das poucas residências no local. “Já tinha mais comércio que casa aqui, comprei aqui, porque eu morava perto”, comenta.

Romilton Andrade, comerciante: "Eu gosto daqui, estou feliz"
Romilton Andrade, comerciante: "Eu gosto daqui, estou feliz" | Foto: Lais Taine - Grupo Folha

O comerciante chegou no jardim Messiânico, localizado ao lado do jardim Bandeirantes, em 1975, mas de avenida são 36 anos. Três décadas e sem intenção de deixá-la. “É bonita, desde que estou aqui ela era duplicada, eu gosto daqui, estou feliz”, afirma.

OLHANDO O MOVIMENTO

Espaço de muitas empresas, barracões, comércio, o caminho ainda passa por escola, unidade de saúde e indústria. O cenário muda conforme a direção que se escolhe. A circulação dos carros é intensa, mas não atrapalha o morador e comerciante Osvaldo Neri, 79. Dono de um bar, com uma casa aos fundos, passa o dia olhando o movimento do local.

“No começo não era tão movimentado assim, mas foi aumentando conforme foi crescendo e surgindo mais bairros por aqui”, comenta. Sentado na cadeira em frente ao comércio, Neri observa o local diariamente. “Adoro aqui, o pessoal dos comércios em volta é tudo daqui mesmo, tenho tudo que preciso aqui perto. É movimentado de carro, mas isso não me atrapalha”, afirma.

MEMÓRIA VIVA

O trânsito é intenso, mas houve um tempo em que era preciso caminhar muito para chegar na região. Maria Alice Brugim de Arruda Leite, 93, conta que ela saía da casa onde morava no Centro da cidade e ia a pé com as amigas da escola até o sítio do pai, Eugênio Brugim, na região que deu origem ao jardim Bandeirantes e onde passa a avenida Arthur Thomas.

“Meu pai foi o primeiro corretor da Companhia de Terras do Norte do Paraná e todos que vinham de fora compravam terras aqui. Ele comprou 20 alqueires ali na região e plantou uvas. A cidade foi crescendo, se expandindo e papai não tinha mais tanto tempo para cuidar, então ele vendeu”, recorda.

Da avenida Tiradentes à PR-445, a Arthur Thomas tem cenários diversificados que mudam conforme a direção
Da avenida Tiradentes à PR-445, a Arthur Thomas tem cenários diversificados que mudam conforme a direção | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Maria Alice é memória viva da cidade, ela chegou aos três anos e lembra de tudo com muita clareza: das festas no Centro, da primeira casa onde viveu, as onças que invadiam o local, das irmãs do colégio Mãe de Deus, onde foi a primeira aluna matriculada, em 1936, e dos domingos no sítio. Anos depois, o mesmo sítio seria cortado por avenida que levou o nome de um amigo da família.

“Arthur Thomas ocupava um cargo importante na Companhia, ele morava no Centro e ia e voltava de São Paulo, porque era uma firma muito grande. Colocaram o nome dele na via em homenagem ao que ele fez pela cidade”, aponta.

O pai faleceu em 1972, mesma década em que a cidade se expandia e que ele não pôde ver crescer. No seu sítio, a formação de uma rua pequena que seria, décadas depois, uma grande avenida de acesso. “No começo, a via foi feita de forma bem simples, mas bem larga. De princípio, era uma ruazinha sem valor, mas depois começou a crescer e como ela já era larga, eles dividiram e ficou dupla”, menciona.

Antes desse crescimento, era preciso caminhar bastante. “Nós morávamos no Centro, tinha que ir a pé até o sítio, porque só tinha aquela jardineira. Era um deserto, roçadas no meio da mata, gente plantando, chegando movimento, foram chegando muitos compradores”, recorda.

Acompanhar a expansão da cidade e ter saúde para contar com detalhes tudo que viu é motivo de orgulho para Maria Alice. Nesse movimento, viu a cidade sair de mata à verticalização de grandes edifícios. “Londrina foi crescendo e, no fim, nem precisava ir mais para São Paulo comprar as coisas, porque já tinha tudo aqui”, conta.

O trem levava 24 horas para chegar na capital paulista e lá se via propagandas das terras do Norte do Paraná. “Tinham cartazes: ‘não há saúva’, que é aquela formiga que comia tudo que plantava, no estado de São Paulo tinha muito disso lá. Então, isso chamava atenção dos compradores de terras”, afirma.

De compradores de terra a estudantes para a UEL, universidade que faz muitos atravessarem a avenida que hoje é recapeada para dar espaço a novas histórias. “A cidade cresceu rápido”, reflete Maria Alice.


RECAPEAMENTO

Desde a segunda-feira (5), a prefeitura está trabalhando no recape asfáltico da avenida Arthur Thomas, que será feito em toda a extensão e nos dois sentidos, somando ao todo 48.080 metros quadrados. A empresa terceirizada que executa o serviço é a Axial, que foi contratada via licitação e tem o prazo de execução de 20 dias. O investimento é de R$ 1.268.678,00, recursos municipais.

Imagem ilustrativa da imagem Recape, história e afeto na avenida Arthur Thomas
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha