Paulo Pegoraro
De Cascavel
A Comissão Regional dos Atingidos por Barragens do Iguaçu (Crabi) ameaça invadir a usina hidrelétrica de Salto Caxias, no Rio Iguaçu, se a Copel não implantar sistema de abastecimento de água para pequenas plantações e alimentação animal nos reassentamentos que fez há dois anos, para famílias que tiveram terras alagadas ao longo do Rio Iguaçu. Segundo disse ontem o coordenador da Crabi, José Uliano Camilo, de Cascavel, a ocupação da usina poderá acontecer dia 14 de março, no Dia Internacional de Luta Contra Barragens, instituído por organizações não-governamentais de vários países.
A Crabi exige o cumprimento de acordo com a Copel – o que deveria ter ocorrido até agosto do ano passado – que previa a implantação de rede para levar água de reservatórios (minas e riachos) até as propriedades de reassentados que optaram pela criação de animais. A Copel transferiu 600 famílias para reassentamentos em vários municípios do Oeste/Sudoeste. Além de terras, a Copel fez moradias e se comprometeu a implantar infra-estrutura de apoio social e para atividades produtivas.
A Crabi estimula a diversificação de atividades nos reassentamentos ‘‘e, sem água, muitas delas ficam inviabilizadas’’, explica José Uliano Camilo. Segundo ele, apenas 250 famílias dispõem de água para alimentar aves, gado de leite, suínos e horticultura – para consumo humano há poços e minas. A Crabi também cobra o cumprimento de outros acordos para apoio ou compensação pelas terras que eram ocupadas pelas famílias.
Questionado sobre a possibilidade do anúncio da ocupação da usina – localizada entre os municípios de Capitão Leônidas Marques e Nova Prata do Iguaçu – ser apenas uma forma de pressão contra a Copel, o coordenador da Crabi foi enfático: ‘‘Todos sabem que nunca agimos assim’’, disse. Ele citou o fato de que as famílias já ocuparam o canteiro-de-obras da usina quando entenderam que era a forma para exigir o que consideravam seus direitos. ‘‘Dia 14 estaremos lá, se a Copel não se pronunciar, e vamos com pelo menos 1,5 mil pessoas’’, completou.
O engenheiro Antonio dos Santos Fonseca, gerente da Copel para a área ambiental, disse que a companhia ‘‘não vê motivos’’ para a ameaça, ‘‘e muito menos para que ela se cumpra’’, porque, segundo ele, houve compromisso apenas de elaboração do projeto para levar água às propriedades, o que já foi feito, mas não para sua implantação. Segundo Fonseca, para isso seriam necessários R$ 1 milhão, não previstos pela companhia. O gerente acrescentou que se os reassentados tentarem cumprir a ameaça de invasão, a Copel previamente tomará medidas ‘‘para garantir seu patrimônio e o serviço público de geração de energia’’.

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