O sentimento de indignação, que não é menor do que a dor de perder um filho de 20 anos, assassinado estupidamente no final de semana em que comemorava com amigos o embarque para os Estados Unidos em 10 dias, deixou a família do estudante de Arquitetura Gabriel Rezende Marques Guimarães com o sensação de que a população londrinense está jogada ''à própria sorte e verdade'', como afirma o padrasto do jovem, o médico Marcos Afonso Posso. Ontem ele esteve na redação da Folha para falar sobre o movimento que a família pretende iniciar, cobrando mais segurança para a cidade.
Ontem à noite, na casa da família, seria realizada uma reunião para definir a forma de manifestação, que espera contar com apoio das associações de classe e da comunidade em geral. O padrasto do estudante acha que pode até ser marcada uma passeata, porém, adianta que cobrará o Estado pelo assassinato.
Posso não concorda com possíveis justificativas para a tragédia. O crime aconteceu domingo, na Avenida Higienópolis, na praça ao lado do Mercado Guanabara (Zona Sul). Dois rapazes abordaram o estudante, que estava ouvindo música com dois amigos, dentro de um veículo Mazda. Os dois homens deram voz de assalto e, friamente, atiraram no rapaz, retiraram o corpo do carro e saíram dirigindo.
Amigos de Gabriel disseram que ele teria duvidado que o revólver apontado para a sua cabeça fosse de verdade, o que motivou a reação do estudante, assassinado com três tiros.
''Não dá para dizer que o Gabriel estava em um lugar inseguro. Ele estava no Centro de uma cidade com 500 mil habitantes e alguém chegou e tirou a vida do meu filho. Ainda não sabemos o que vamos fazer, mas eles (as autoridades policiais e o governo) vão ter que responder para mim porque meu filho foi morto no meio da cidade. Temos uma família formada, honesta, íntegra. A gente não vai conseguir superar isso daí'', lamenta o padrasto, que convivia com o rapaz desde que este tinha cinco anos de idade.
O médico acrescenta que não é somente a família dele que está sofrendo com a morte precoce de um filho provocada pela falta de segurança na cidade. ''Não venham me dizer que a culpa é do meu filho, quando tem um ladrão armado, passando no meio das pessoas, escolhendo quem vai assaltar. Não tem justificativa, principalmente num final de semana em que a cidade estava com 20 mil vestibulandos. Não admito que digam que falta carro para o policiamento. Pago para ter o serviço. O que eles podem argumentar, eu aceitaria se tivesse policiamento no local. Com tantos estudantes na cidade, deveriam ver quais os pontos em que se concentram, reforçando a segurança. Ao chegar no local do crime vi o meu filho morto e as pessoas com copos de cerveja e vinho, bebendo. Onde estava o aparato policial? Falta planejamento. Falta amor com os filhos dos outros'', comenta Posso.
Desde que o jovem morreu, a mãe e o padrastro vão todos os dias ao cemitério. O casal tem outros dois filhos, de nove e quatro anos de idade.
Para o médico, dificilmente o filho de alguma autoridade morreria nas circustâncias em que Gabriel perdeu a vida.''Tenho que fazer acusações gerais para não ter que responder por isso depois, mas o que sei é que, se quiser oferecer escola e saúde de qualidade para os meus filhos, tenho que pagar. Consigo pagar graças a um grande trabalho meu. Tudo isso consegui suprir para o Gabriel, mas segurança é obrigação do Estado. Vamos fazer passeata sim, mas vamos também ao gabinete do prefeito (Nedson Micheleti) e do governador (Roberto Requião). Queremos que eles nos digam quem são os culpados pela morte do meu filho. Que as autoridades parem de responder com estatísticas. Chega disso, que não leva a lugar nenhum. O meu filho está morto. Amanhã vai ser o Fábio, o Tiago, o Bruno...O País vai sendo ceifado desta forma dos futuros médicos, jornalistas e arquitetos, que estão ficando mortos para trás''.