Com a pandemia que já dura mais de um ano, a população em situação de rua teve aumento significativo. Uma pesquisa realizada pelo Ministério Público de Londrina em parceria com a Defensoria Pública, UEL e Unopar apontou que o número de pessoas vivendo nas ruas aumentou em 314% entre 2008 e 2019. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) observou o crescimento de 140% no Brasil, desde 2012 e em março de 2020 existam mais de 222 mil pessoas morando nas ruas do país. A estimativa do Instituto é que esses números aumentem ainda mais devido à crise econômica e sanitária causada pela Covid-19.

Imagem ilustrativa da imagem Quem 'Faz a Boa' para  quem está na rua?
| Foto: Roberto Custódio - 04-03-2020

O professor de ciências sociais da UEL (Universidade Estadual de Londrina, Fabio Lanza coordenou a aplicação da pesquisa do MP na cidade e explica que foram aplicados 930 questionários e a quantidade de respostas representa uma amostragem da população de rua, não o total, o que o faz acreditar que na época o número já devia ultrapassar mais de mil pessoas vivendo nas ruas já em 2019.

Foi pensando nesse aumento de pessoas em situação de rua que outro Fabio, o cozinheiro profissional, Fábio Anizelli, se uniu a outros cinco amigos e com recursos próprios decidiram, em junho de 2020, a fazer uma primeira distribuição de marmitas em Londrina, em junho de 2020 o que deu origem ao projeto Faz a Boa. “Do início do projeto até hoje a gente vê bem mais pessoas na rua, tem dia que entregamos 100 marmitas”. Os jovens atuam em Londrina e Maringá, e distribuem as marmitas duas vezes ao mês em cada uma das cidades. Durante os primeiros oito meses de projeto já foram entregues mais de 1100 marmitas. Neste meio tempo também fizeram arrecadações para famílias em situação de vulnerabilidade e instituições que assistem a elas.

Através das redes sociais divulgam o trabalho que fazem para arrecadar as doações. No momento estão vendendo bonés, assim quem não quiser fazer uma contribuição direta ao projeto tem a oportunidade de ajudar adquirindo o acessório. Todo o lucro vai ser destinado à produção das marmitas. Contudo, nas redes sociais eles procuram não mostrar a entrega do alimento em si, para preservar a imagem e dignidade dos moradores de rua. Mas estão sempre publicando as comidas que fazem. Procuram fazer pratos diferenciados, que talvez os moradores de rua não tenham acesso tão facilmente, como feijoada, strogonoff, galinhada e afins. Sempre que possível entregam junto um doce, na páscoa, por exemplo, foram distribuídos ovos de chocolate com a marmita.

Anizelli reforçou que com a maturidade do projeto eles buscam fazer mais do que distribuir comida: “A gente procura conversar, perguntar se está bem, tentar saber a história, porque a sociedade trata como se aquela pessoa não existisse”. Além de participar de eventos para entender melhor a demanda dessa parcela da população, como o que aconteceu ano passado pelo Dia Nacional de Luta da População de Rua, promovido pelo MNPR (Movimento Nacional da População de Rua) na concha acústica de Londrina.

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| Foto: Arquivo Pessoal

O cozinheiro conta que o próximo passo planejado é dar cursos aos moradores de rua que estejam em casas de passagem sobre como fazer uma comida com o mínimo de desperdício possível. Também ensinar a fazer algumas comidas com potencial de venda e geração de renda. A intenção é colocar em prática quando a pandemia amenizar, para que não haja risco de contágio aos voluntários e aos moradores.

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| Foto: Arquivo Pessoal

O projeto ainda não possui financiamento governamental, por isso depende de doações e campanhas para arrecadar fundos, como explica Anizelli. “Se tivéssemos um espaço cedido pela prefeitura ou algum investimento público conseguiríamos fazer bem mais vezes [a entrega de marmitas]”. O Faz a Boa conta com cerca de 20 voluntários, que, de acordo com o cozinheiro, são jovens que enxergaram seu privilégio na sociedade e decidiram agir para melhorar a condição de vida de quem não tem os mesmos privilégios.

Para contribuir com o Faz a Boa você pode realizar uma doação através de transferência bancária, pix ou picpay e também pode comprar o boné que ainda está disponível. Todas as informações das contas e para compras estão no perfil de Instagram @fazaboalondrina. Caso queira ajudar de outra maneira ou ser um voluntário pode enviar uma mensagem pelas redes sociais, estão abertos a todo tipo de ajuda.

*Supervisão de Patrícia Maria Alves/Editora

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