De acordo com a secretaria, a maioria das árvores que caíram durante a forte chuva era saudável
De acordo com a secretaria, a maioria das árvores que caíram durante a forte chuva era saudável | Foto: Roberto Custódio



Antes de assistirem dezenas de árvores tombarem durante a forte tempestade que caiu sobre Londrina no dia 20 de novembro, moradores do bairro Monterrey, na zona leste, já tinham pedido para a Sema (Secretaria Municipal do Ambiente) erradicar plantas muito antigas que permanecem no bairro. Diante das fortes chuvas, parte delas não resistiu aos ventos e acabou caindo, o que deixou a vizinhança assustada.

A auxiliar de caixa Larissa Elvas afirma que os estragos eram anunciados. Na tempestade anterior, no dia 16 de novembro, uma árvore da rua tombou e caiu em cima do marido dela, que só não se feriu gravemente porque a queda foi amortecida por uma planta menor. "A chuva abriu nosso portão e ele veio fechar. Ouvi um barulho e a árvore estava em cima dele", relatou ela, que não costumava ter medo de chuva mas agora fica apavorada toda vez que o tempo "fecha".

A secretária do Ambiente em Londrina, Roberta Silveira Queiroz, informou que a maioria das árvores que caíram no dia 20 eram saudáveis, mas admitiu que a Sema tem uma fila de espera de sete mil protocolos de avaliação e que pelo menos 30% das plantas serão eliminadas. "O desafio atual é sistematizar todas as informações. Estamos trabalhando no mapeamento da arborização urbana, inclusive para saber como tem sido a manutenção delas", afirma.

Londrina tem hoje 150 mil árvores no ambiente urbano, sem considerar as espécies de fundos de vale e outras áreas naturais. Os pedidos para eliminação são muitos, motivados principalmente por danos na calçada, entupimento de calhas, encobrimento de fachadas comerciais e sujeira causada pelas folhas. "Estamos criando um questionário sistematizado para os solicitantes explicarem porque querem a erradicação. O que temos hoje não é organizado", afirmou.

Para a Sema, a substituição de árvores só e justificada quando a espécie não é adequada para arborização urbana – como é o caso da sete copas e do ficus – ou se está atrapalhando alguma obra de engenharia. "No caso de doenças, preferimos tratar a erradicar. Inclusive licitamos produtos para combater formigas e cupim. Vamos aplicar iscas na cidade em parceria com a CMTU", informou a secretária.

A secretaria reconhece que, com as chuvas, a população tende a se assustar com as quedas, mas garante que a maioria das árvores que caíram eram saudáveis e protegeram muitas residências de destalhamento. "No Aeroporto os ventos chegaram a 148 quilômetros por hora, é comparável a um furacão", justificou.

PLANTIO
O plantio de árvores em Londrina deve seguir as informações repassadas pela Sema no momento de doação das mudas. Não é recomendável colocar mureta, cimentar perto do tronco ou cortar a raiz, por exemplo, pois isso gera instabilidade e deixa a árvore mais propensa a cair.

Para solicitar a avaliação de árvores possivelmente condenadas, é preciso protocolar uma solicitação, na Sema, mediante apresentação de comprovante de residência e documento pessoal. Informações: (43) 3372-4762 ou [email protected]

'As árvores são vistas como obstáculos'
Eventos climáticos graves como o registrado no dia 20 de novembro em Londrina podem derrubar árvores e muitos outros elementos da área urbana, como postes e até mesmo imóveis. "As árvores caem com mais frequência porque o plantio delas nas ruas é cheio de restrições que afetam a sustentação", adverte Daniela Biondi, doutora em engenharia florestal na área de arborização urbana e professora da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

"Na floresta, onde há áreas permeáveis, sem calçadas ou construções, a raiz se torna mais profunda e as árvores se desenvolvem melhor", explica. Na zona urbana, ao contrário, o solo modificado, a falta de espaço para as raízes e outros fatores estressantes impõem limitações. "A floresta tem uma comunidade de plantas que se protegem, mas nas ruas elas são vistas como obstáculos e acabam sendo submetidas a podas inadequadas, o que também gera desequilíbrio e as tornam mais sujeitas a quedas. Na verdade as árvores urbanas são muito resistentes, pois apesar disso consegue se recuperar", diz.

Evitar acidentes em condições tão adversas às plantas depende de monitoramento. "Galhos velhos podem cair, é um processo que faz parte da natureza, mas precisa ser observado", ensina Biondi, lembrando que as podas também aumentam riscos, pois deformam e desequilibram as árvores.

Engenheiro agrônomo, pesquisador aposentado do Iapar e um experiente observador da natureza, Walter Miguel Kranz afirma que, diante da qualidade do plantio das árvores em Londrina, os estragos poderiam ter sido maiores diante da intensidade da intempérie do dia 20.

"Um grande problema são os erros que as pessoas cometem na produção das mudas", afirma, explicando que, na pressa de ter plantas grandes em loteamentos, é comum usar mudas de dois ou três metros que acabam tendo raízes cortadas para viabilizar a implantação. "A planta desenvolve, mas pode ter uma infecção que causa apodrecimento da parte central", diz. Mudas em sacos plásticos também correm risco de sofrer com enovelamento do caule. "A raiz envolve o caule e acaba estrangulando", alerta.

Concretagem rente às árvores, uso de substâncias agressivas na lavagem de calçadas, vandalismo em plantas jovens e podas mal feitas são outros vilões da arborização urbana. "Se uma árvore quebra na raiz, é porque tem problemas. Isso não acontece em plantas sadias", garante.

Moradora consegue evitar riscos

"Durante o vendaval, elas se torceram e até perderam galhos, mas continuaram firmes", afirma  Cleusa Aparecida Morcela
"Durante o vendaval, elas se torceram e até perderam galhos, mas continuaram firmes", afirma Cleusa Aparecida Morcela | Foto: Roberto Custódio



A dona de casa Cleusa Aparecida Morcela é moradora do Jardim Monterrey (zona leste) e, apesar de ter se assustado com a queda de muitas árvores na vizinhança durante a tempestado do dia 20, não teve problemas com a dracena de 30 anos que mantém no quintal nem com o ipê que sombreia a calçada. Cuidadosa, ela mantém as árvores sempre saudáveis e, assim, consegue evitar os riscos inerentes a tempestades.

Na árvore do quintal – que ela plantou para relembrar o tempo em que morava no sítio - há um amplo espaço sem calçamento e muitas folhagens próximas que ajudam a respiração das raízes. A árvore da calçada é cuidadosamente manejada para evitar podas inadequadas. "Eu vou amarrando os galhos e conduzindo o crescimento para áreas onde não atrapalham a fiação elétrica", conta.

As plantas de Morcela também estão sempre adubadas e irrigadas, o que garante a saúde necessária para enfrentar tempestades. "Durante o vendaval, elas se torceram e até perderam galhos, mas continuaram firmes", comemora. (C.A.)