Público lê pouco na Internet
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sexta-feira, 07 de abril de 2000
Michele Muller
De Curitiba
Uma questão bastante polêmica colocou em contradição a idéia de dois especialistas em mídia eletrônica, que ontem à tarde participaram das palestras do Ciclo de Idéias, evento promovido pelo Sindicato dos Jornalistas no Memorial de Curitiba. A Internet é democrática para o povo brasileiro? foi o tema discutido pela professora de comunicação da Universidade de São Paulo (USP), Regina Festa, e pelo diretor do provedor IG (Internet Grátis), Leão Serva.
Ambos concordam em um ponto: muitos brasileiros que acessam a rede não sabem utilizar o que o novo meio oferece de melhor. Para Serva, isso não significa que a Internet seja uma ferramenta inútil, em termos de informação, aos que não têm base educacional suficiente para saber explorá-la. A maioria das pessoas não usa a televisão para assistir aos jornais. Elas assistem as novelas. E mesmo assim, os brasileiros são mais bem informados hoje do que eram antes do surgimento da tevê, argumenta.
A página acessada pelo maior número de assintes do IG, segundo ele, é o jornal Último Segundo, do qual é responsável. Ela disputa lugar com o site Morango, recheado de fotos de mulheres em poses sensuais. O número de leitores que o jornal recebeu foi uma grande surpresa no início, confessa Leão. Isso porque 70% de seus usuários já tinha o hábito de navegar na internet antes do surgimento do provedor gratuito . Isso significa, que quase todos ainda pertencem às classe mais altas, entre as quais a leitura não deveria causar surpresa. Ao contrário dos americanos, os brasileiros não têm o custume de explorar os jornais que a mídia oferece. O público que lê no Brasil, tem mais de 30 anos e não é o principal usuário da internet, diz Regina.
De acordo com ela, o fato da rede tornar-se acessível não significa que as pessoas estão mais informadas. A Internet só pode trazer benefícios àquele que sabe selecionar os sites que deve ver. Segundo a professora, existem 900 milhões de documentos na web. Os procuradores só apontam cerca de um terço desse total. Quer dizer, são 300 milhões de páginas facilmente encontradas, sendo que a grande maioria apresenta conteúdos nada instrutivos.
Regina lembra ainda que, cada vez mais, a rede está se tornando uma ferramenta cada vez mais usada pela publicidade, o que pode não representar um problema às pessoas que sabem separar a propaganda do texto informativo. O meio está passando de um sistema de intercomunicação democrática para um sistema muito comercial, afirma. Seu bom uso exige que as pessoas saibam optar, e isso não vai mudar enquanto não mudar a educação do brasileiro.