Imagem ilustrativa da imagem Projeto Sabão: empoderamento e resgate social
| Foto: Vítor Ogawa - Grupo Folha

Iraci Andrade dos Santos e o marido Francisco: trabalho começou em 2004, com a confecção e distribuição de sabão

Empoderamento, qualificação profissional e resgate social. Essas são as palavras que mais descrevem o trabalho realizado pela ONG Camar (Casa Acolhedora Mãe Rainha)/ Projeto Sabão, que existe há 15 anos em Londrina e atende famílias em situação de vulnerabilidade, oferecendo cestas básicas e qualificando os moradores por meio dos cursos. As pessoas conseguem ter aulas de informática, de pintura em tecido, de reforço escolar e, em breve, de costura e de cabeleireiro.

A costureira Francisca Amaro, 53, mora no bairro Portal do Sol (zona norte), está desempregada e procurou a ONG para aprender informática. “Não sei usar a internet e, se eu tiver que mandar um currículo, não sei como fazer. Hoje tudo depende da informática”, observa. “Por isso vim aqui, para me matricular no curso de informática e poder fazer tudo isso sozinha. Se surgir uma oportunidade de emprego eu quero estar pronta”, declara.

A diarista Sílvia Aparecida Silva de Moura, moradora do conjunto Parigot de Souza 3, afirma que as aulas de pintura têm sido muito boas. “Você ganha uma renda extra, já vendi os primeiros panos de prato que pintei", conta. “A minha prima já conhecia aqui e passei a acompanhá-la. Há um ano e meio tenho frequentado e me inscrevi para as aulas de pintura. Eu ainda vou fazer as aulas de costura e de cabeleireira, que devem abrir vagas em breve. É uma maneira de aprender uma profissão. Vou fazer esses cursos para poder me desenvolver ainda mais”, destaca.

Outra aluna do curso de pintura que enaltece o aspecto da qualificação é a zeladora aposentada Tina de Souza, 52, do Jardim das Palmeiras (zona norte). Ela soube das aulas pela amiga de uma amiga. “Ela fazia doações para essa ONG e me contou que tinha aula de pintura. As aulas estão rendendo bastante. A gente aprende a revender os panos de prato e isso tem ajudado na minha renda”, destaca. Ela descreve que depois de aposentada, ficava com tempo ocioso. “Quando a gente fica em casa, não faz nada. Aqui a gente conversa com as colegas. O projeto é muito bom aqui para a zona norte. Muitas pessoas não sabem que existe."

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Voluntários dão aulas de informática, pintura em tecido e reforço escolar

'TRABALHO BONITO'

Luzinéia Aparecida de Morais é voluntária e está desde o começo do projeto, quando a única atividade era a fabricação de sabão para serem doadas às famílias carentes. “A ONG começou na terra, em um lote vazio. Depois começaram a doar as verduras para o pessoal, mas não tinha nem mesa. Eram só tábuas, nas quais se colocavam verduras. Depois teve a distribuição de arroz doce e as festas que a ONG realiza ao longo do ano. Como era um trabalho bonito, resolvi ajudar dando aulas de pintura”, relembra. Para ministrar essas aulas, o local não era coberto e quando chovia era preciso recolher tudo correndo, senão molhava. “Não imaginava que chegaria a esse estágio, com um barracão próprio. Mas se hoje está nesse nível, foi com a ajuda de muitas pessoas”, declara.

Hoje quem assumiu as aulas de pintura foi uma ex-aluna dela, Cirlene Moreira dos Santos. “Me inscrevi no ano retrasado. Aprendi bastante e hoje dou aula. É uma atividade gostosa, porque você faz as pinturas nos panos de prato e pode vender todas elas. Além dos panos de prato a pessoa pode pintar em fraldas e em outras peças ares”, detalha, afirmando que é muito bom ensinar o que sabe. “Não tem coisa melhor, não tem dinheiro que pague. A gente faz o que pode e é muito bom ver as minhas alunas progredindo”, ressalta.

Além dos cursos, a ONG local oferece palestras ministradas por uma psicóloga em parceria com a Delegacia da Mulher, realizadas em alguns dos dias de retirada das cestas básicas. Neste ano foram realizadas duas, uma em março e outra em maio. A próxima será realizada no dia 25 de julho, às 14h.

'Via os meninos com os pés sujos
de terra; me cortava o coração'

O Projeto Sabão nasceu em fevereiro de 2004, quando Iraci Andrade dos Santos, 74, que morava em Atibaia (SP), decidiu retornar a Londrina, onde foi criada. Depois que se aposentou, ela queria fazer mais pela comunidade pobre de Londrina. Percebeu que algumas famílias de assentamentos tinham dificuldades para adquirir produtos de limpeza para casa e até mesmo para fazer a própria higiene e decidiu fazer barras de sabão utilizando óleo de cozinha usado. “Eu via os meninos com os pés todos sujos de terra. Aquilo me cortava o coração”, lembra.

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Recursos para realizar as ações são obtidos com a venda de roupas usadas e outros produtos

Ela revela que no início havia dificuldades para conseguir os produtos para a produção das barras. “A gente não conseguia a doação de óleo facilmente", conta. Com o tempo, passou a receber óleo usado de restaurantes e da própria comunidade. Ela conta que muitas famílias chegam com garrafas plásticas para doar para elas. Mas o custo mais alto é da soda cáustica.

Há oito anos o projeto, que começou de maneira informal, ganhou razão social e se transformou na ONG Camar (Casa Acolhedora Mãe Rainha)/ Projeto Sabão. Para esse trabalho de formalização ela contou com a ajuda da neta Daiani, que hoje ajuda no cadastro das famílias e no balanço patrimonial.

No início o projeto funcionava em um terreno sem cobertura, com o piso de terra batida, mas desde 2014 funciona em um amplo barracão na avenida Alexandre Santoro (zona norte). A ONG passou a distribuir cestas básicas para as famílias carentes e também a recolher cadeiras de rodas, muletas, tipoias e bengalas para emprestar a quem precisa. “Eu peço para que, depois que não precisarem mais, me devolverem para que eu possa emprestar a quem precisa”, observa Iraci.

Todos os recursos que ela obtém para conduzir a ONG são obtidos mediante a venda das roupas usadas que são doadas. “Eu não recebo dinheiro algum aqui. Só doações de roupas, material escolar usado. Com a venda que realizo consigo comprar os produtos para a distribuição da cesta básica. Atualmente não temos parceiros para custear a aquisição de cestas básicas, por exemplo”, destaca.

O marido Francisco foi contra a ideia no início, já que Iraci entrava em assentamentos e favelas. Ele, que é baiano e viveu no Rio de Janeiro e em São Paulo, achava arriscado a mulher ir nas comunidades pobres. “Hoje vejo que o trabalho é muito bonito. Sofremos no começo, mas hoje vejo que vale a pena”, destaca. Se no início tudo era carregado com um carrinho de mão, hoje a ONG dispõe de uma caminhonete. “Esta é a Jandira 3", diz apontando para a caminhonete. "A Jandira 2 era uma Kombi, que não aguentou”, relembra.

SERVIÇO - A ONG Camar/Projeto Sabão fica na avenida Alexandre Santoro, 630, jardim dos Estados; fone (43) 3337-8840, 3328-4134 ou 98431-9865