Ibiporã - Um projeto de intervenção pedagógica desenvolvido no último quadrimestre do ano no Colégio Estadual Monsenhor Josemaría Escrivá, no jardim Pacaembu, zona norte de Londrina, conseguiu transformar o clima da instituição e ainda colaborar e agregar de diversas formas na vida dos alunos. Por meio do teatro, os adolescentes puderam desenvolver suas capacidades e ainda refletir.

Imagem ilustrativa da imagem Projeto escolar usa o teatro para combater cyberbullying
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

A temática escolhida foi a do bullying cometido por meio da internet. De acordo com o coordenador da iniciativa, Alexandre Domingues, a escola vivia um momento de saúde mental delicado dos estudantes quando a atividade começou na prática. “O teatro é universal e uma ótima ferramenta. Na escola estávamos com muitos casos de depressão e com um suicídio que aconteceu em 2018. Apesar de ter ocorrido no ano passado, os alunos ainda estavam abalados”, destacou.

Professor de língua portuguesa e inglês, Domingues já tinha a intenção de uma atuação envolvendo a arte. O plano acabou se tornando realidade após o projeto “O teatro como prevenção e combate ao cyberbullying” ser selecionado para participar do Programa de Desenvolvimento Profissional de Professores da Educação Básica, do Ministério da Educação. Em todo o País, cem propostas foram escolhidas, com os mais diversos assuntos.

PRÊMIO

Como premiação, o docente viajou para o Canadá junto com os demais ganhadores para um intercâmbio educacional e de formação de cerca de dois meses, entre julho e agosto. “Era um edital da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) que pedia para o professor de escola pública inscrever projetos que poderiam colaborar com a sociedade a partir do ambiente escolar. Optei por cadastrar a questão de como o teatro pode intervir e combater o bullying”, explicou.

De volta ao Brasil, divulgou e convidou os meninos e meninas do período matutino para integrar o projeto. Vinte e dois se interessaram e passaram por uma audição. “Primeiro era preciso ter a vontade de participar, depois criar a história que iriam contar. A ideia foi de cada um mostrar o que tem de melhor”, destacou. O resultado foi uma peça, montada totalmente pelos estudantes a partir de suas vivências.

RODAS DE CONVERSA

Durante o processo de criação, foram promovidas rodas de conversa entre eles, em que discutiam sobre o cyberbullying e poderiam falar dos sentimentos que traziam. “Precisávamos cuidar da saúde mental deles. Muitos não estavam conseguindo aprender em sala de aula porque precisavam ser ouvidos e de momentos como estes”, apontou Domingues, que é professor de teatro e diretor da companhia Curió Curioso.

Os ensaios aconteceram no contraturno e desde o início a iniciativa apresentou resultados significativos, dentro e fora do ambiente de ensino. A montagem da peça, apresentada para a escola, famílias e comunidade nesta semana, durou aproximadamente um mês. As roupas utilizadas e o transporte foram bancados com dinheiro oriundo de promoções.

CONTINUIDADE

“O saldo foi positivo, porque usamos o teatro para combater a discriminação e outras questões, como o bullying pela internet. Tomamos muito cuidado para a abordagem. Vimos a evolução deles, pois além de atores, atrizes, bailarinas, músicos, puderam expressar o sentimento da maneira que se sentem bem”, elencou Domingues, que pensa em continuar com o projeto. “A ideia é levar esta peça para outras escolas de Londrina”, projetou.

comemoração

“Desde o início percebi a união de todos, o incentivo", afirma  Igor Oliveira Duarte
“Desde o início percebi a união de todos, o incentivo", afirma Igor Oliveira Duarte | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Os estudantes de 14 a 15 anos do oitavo e nono ano do ensino fundamental que participaram do projeto mostraram o contentamento e a importância de todo o trabalho nas feições e relatos. No palco ou nos bastidores, a comemoração era geral por todos os avanços obtidos e num curto espaço de tempo. “Me ajudou a ter autoconfiança, trabalhar a timidez”, resumiu Thais Damasceno Chiaveli, 15.

A apresentação dos alunos do Colégio Estadual Monsenhor Josemaría Escrivá durou cerca de uma hora, no Cine Teatro Padre José Zanelli, em Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina), e contou, além do teatro, com dança e música. A história contada foi de uma aluna que desaparece após ter sua inscrição para um show de talentos editada de maneira maldosa para passar vergonha nas redes sociais.

“Nos tornamos pessoas e estudantes melhores”, ressalta Shara Rayany Barbosa
“Nos tornamos pessoas e estudantes melhores”, ressalta Shara Rayany Barbosa | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Nas falas proclamadas estiveram orientações para caso ser uma vítima do cyberbullying, os perigos que este tipo de violência pode ocasionar, a relevância de não compartilhar conteúdos vexatórios ou que expõe as pessoas e necessidade de ser empático. Tudo ligado ao dia a dia de uma escola. “Nos tornamos pessoas e estudantes melhores”, ressaltou Shara Rayany Barbosa, 15. Uma professora da escola também integrou o elenco.

De acordo com Igor Oliveira Duarte, 14, a rotina de ensaios e encontros colaborou para fortalecer vínculos e gerar novas amizades. “Desde o início percebi a união de todos, o incentivo. Foi um ótimo trabalho em equipe”, valorizou. “Aprendi mais sobre trabalhar em grupo”, acrescentou Shara Barbosa.

"Me ajudou a ter autoconfiança, trabalhar a timidez”, resume Thais Damasceno Chiaveli
"Me ajudou a ter autoconfiança, trabalhar a timidez”, resume Thais Damasceno Chiaveli | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Para Thais Chiaveli, apesar da temática ser o drama de muitos jovens atualmente, ainda existe desconhecimento sobre a gravidade do bullyng pela internet. “Precisamos falar mais sobre isso para que estes casos sejam tratados com a importância que merecem. Não só na faixa etária jovem, mas no geral existe uma falta de conhecimento”, pontuou. “O teatro possibilita que a pessoa se coloque no lugar do outro, entendendo um pouco dele e sua dor”, afirmou o professor Alexandre Domingues.