Projeto escolar usa o teatro para combater cyberbullying
Colégio estadual de Londrina monta peça com a temática com texto produzido pelos alunos
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 20 de dezembro de 2019
Colégio estadual de Londrina monta peça com a temática com texto produzido pelos alunos
Pedro Marconi - Grupo Folha
Ibiporã - Um projeto de intervenção pedagógica desenvolvido no último quadrimestre do ano no Colégio Estadual Monsenhor Josemaría Escrivá, no jardim Pacaembu, zona norte de Londrina, conseguiu transformar o clima da instituição e ainda colaborar e agregar de diversas formas na vida dos alunos. Por meio do teatro, os adolescentes puderam desenvolver suas capacidades e ainda refletir.
A temática escolhida foi a do bullying cometido por meio da internet. De acordo com o coordenador da iniciativa, Alexandre Domingues, a escola vivia um momento de saúde mental delicado dos estudantes quando a atividade começou na prática. “O teatro é universal e uma ótima ferramenta. Na escola estávamos com muitos casos de depressão e com um suicídio que aconteceu em 2018. Apesar de ter ocorrido no ano passado, os alunos ainda estavam abalados”, destacou.
Professor de língua portuguesa e inglês, Domingues já tinha a intenção de uma atuação envolvendo a arte. O plano acabou se tornando realidade após o projeto “O teatro como prevenção e combate ao cyberbullying” ser selecionado para participar do Programa de Desenvolvimento Profissional de Professores da Educação Básica, do Ministério da Educação. Em todo o País, cem propostas foram escolhidas, com os mais diversos assuntos.
PRÊMIO
Como premiação, o docente viajou para o Canadá junto com os demais ganhadores para um intercâmbio educacional e de formação de cerca de dois meses, entre julho e agosto. “Era um edital da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) que pedia para o professor de escola pública inscrever projetos que poderiam colaborar com a sociedade a partir do ambiente escolar. Optei por cadastrar a questão de como o teatro pode intervir e combater o bullying”, explicou.
De volta ao Brasil, divulgou e convidou os meninos e meninas do período matutino para integrar o projeto. Vinte e dois se interessaram e passaram por uma audição. “Primeiro era preciso ter a vontade de participar, depois criar a história que iriam contar. A ideia foi de cada um mostrar o que tem de melhor”, destacou. O resultado foi uma peça, montada totalmente pelos estudantes a partir de suas vivências.
RODAS DE CONVERSA
Durante o processo de criação, foram promovidas rodas de conversa entre eles, em que discutiam sobre o cyberbullying e poderiam falar dos sentimentos que traziam. “Precisávamos cuidar da saúde mental deles. Muitos não estavam conseguindo aprender em sala de aula porque precisavam ser ouvidos e de momentos como estes”, apontou Domingues, que é professor de teatro e diretor da companhia Curió Curioso.
Os ensaios aconteceram no contraturno e desde o início a iniciativa apresentou resultados significativos, dentro e fora do ambiente de ensino. A montagem da peça, apresentada para a escola, famílias e comunidade nesta semana, durou aproximadamente um mês. As roupas utilizadas e o transporte foram bancados com dinheiro oriundo de promoções.
CONTINUIDADE
“O saldo foi positivo, porque usamos o teatro para combater a discriminação e outras questões, como o bullying pela internet. Tomamos muito cuidado para a abordagem. Vimos a evolução deles, pois além de atores, atrizes, bailarinas, músicos, puderam expressar o sentimento da maneira que se sentem bem”, elencou Domingues, que pensa em continuar com o projeto. “A ideia é levar esta peça para outras escolas de Londrina”, projetou.
comemoração
Os estudantes de 14 a 15 anos do oitavo e nono ano do ensino fundamental que participaram do projeto mostraram o contentamento e a importância de todo o trabalho nas feições e relatos. No palco ou nos bastidores, a comemoração era geral por todos os avanços obtidos e num curto espaço de tempo. “Me ajudou a ter autoconfiança, trabalhar a timidez”, resumiu Thais Damasceno Chiaveli, 15.
A apresentação dos alunos do Colégio Estadual Monsenhor Josemaría Escrivá durou cerca de uma hora, no Cine Teatro Padre José Zanelli, em Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina), e contou, além do teatro, com dança e música. A história contada foi de uma aluna que desaparece após ter sua inscrição para um show de talentos editada de maneira maldosa para passar vergonha nas redes sociais.
Nas falas proclamadas estiveram orientações para caso ser uma vítima do cyberbullying, os perigos que este tipo de violência pode ocasionar, a relevância de não compartilhar conteúdos vexatórios ou que expõe as pessoas e necessidade de ser empático. Tudo ligado ao dia a dia de uma escola. “Nos tornamos pessoas e estudantes melhores”, ressaltou Shara Rayany Barbosa, 15. Uma professora da escola também integrou o elenco.
De acordo com Igor Oliveira Duarte, 14, a rotina de ensaios e encontros colaborou para fortalecer vínculos e gerar novas amizades. “Desde o início percebi a união de todos, o incentivo. Foi um ótimo trabalho em equipe”, valorizou. “Aprendi mais sobre trabalhar em grupo”, acrescentou Shara Barbosa.
Para Thais Chiaveli, apesar da temática ser o drama de muitos jovens atualmente, ainda existe desconhecimento sobre a gravidade do bullyng pela internet. “Precisamos falar mais sobre isso para que estes casos sejam tratados com a importância que merecem. Não só na faixa etária jovem, mas no geral existe uma falta de conhecimento”, pontuou. “O teatro possibilita que a pessoa se coloque no lugar do outro, entendendo um pouco dele e sua dor”, afirmou o professor Alexandre Domingues.