O conjunto de tudo o que está no centro dá a identidade de Londrina, na opinião de arquiteta
O conjunto de tudo o que está no centro dá a identidade de Londrina, na opinião de arquiteta | Foto: Fabio Alcover/01-02-2017



Na atualidade, quando se fala em urbanismo, as melhores soluções são aquelas que valorizam os espaços destinados aos pedestres, como fez o projeto que originou o Calçadão da avenida Paraná, em Londrina, há quatro décadas. Especialmente em áreas centrais, todas as alternativas que colocam o trânsito de veículos em segundo plano têm se mostrado as melhores saídas para as grandes cidades e este é um dos grandes desafios dos gestores.

Há 40 anos, Londrina se espelhou em um modelo implantado em Curitiba, mas antes de calçar todo o espaço destinado aos veículos, bloqueou o trânsito com manilhas para testar se a ideia era viável e bem aceita pela população. Com o tempo, a iniciativa deu certo e se estendeu para uma grande extensão da avenida Paraná. A paginação do piso de petit pavet em preto e branco foi elaborada pelo arquiteto Eli Bretas – responsável também pelo projeto na capital - e o desenho em elos foi pensado para que estimulassem os transeuntes a fazerem pausas durante o percurso, favorecendo os estabelecimentos comerciais, que poderiam atrair os consumidores entre uma parada e outra no trajeto pelo Calçadão.

Para a arquiteta e urbanista e pesquisadora Elisa Zanon a descaracterização do Calçadão com a troca do petit pavet bicolor pelo paver multicolorido, em 2009, foi uma grande perda para um espaço tão cheio de memória. "Foi uma solução imediatista, para resolver uma questão, e acabou se perdendo um elemento de identidade, o que é uma pena. Se havia um problema de mobilidade, poderia retirar uma parte do petit pavet, mas é uma pena que houve toda essa descaracterização. O paver manteve o desenho, mas não dá o contraste", avalia a docente da Unifil.

O poder público, afirma Zanon, também deveria criar políticas de ocupação desses espaços e que as áreas centrais não devem se pautar apenas pelo padrão de consumo, o que seria um problema. "Não é só consumo, os espaços têm que se destinar ao lazer, têm que ser locais de convívio, de caminhada", aponta. "Mas é preciso discutir qual o lazer que se quer."

A arquiteta acredita que instituições e atividades culturais teriam o poder de movimentar a região central fora do horário comercial e diz que hoje faltam estímulos para que isso aconteça. Mas ela defende a criação de grupos de discussão com a população com o objetivo de criar uma sociedade mais participativa e inclusiva. "O Calçadão tem muitos pontos interessantes, mas não foi potencializado. A prefeitura também poderia amarrar bem uma parceria com o capital imobiliário da cidade, com as entidades de classe e as universidades para revitalizar o centro. Há muitas ideias, falta mobilização", avalia. "O centro é um coração para nós e o conjunto de tudo o que está no centro dá a identidade de Londrina."

FALTA DE ZELO
A corretora de imóveis Marisa Helena Tesone mudou-se para o Calçadão há cinco anos, atraída pelas facilidades que o local oferece e a possibilidade de resolver as questões do dia a dia a pé, mas espanta-se com a falta de zelo do poder público com o mobiliário e outros equipamentos. "A iluminação está muito boa, mas falta limpeza, não existe a manutenção do piso, que já está cheio de buracos, as floreiras são feias, a praça da Bandeira está muito descuidada e tem o problema dos pombos. Poderiam tirar um xerox da Rua das Flores, em Curitiba, e pôr aqui", brinca. "O Calçadão é um lugar prazeroso, agradável, nos finais de tarde é ponto de encontro para conversas, mas precisa ser bem tratado. O Calçadão é o meu quintal, mas está muito descuidado. E que pena que derrubaram o coreto, eu gostava tanto."