Mais do que números, os casos confirmados de coronavírus se referem a vidas, histórias e sentimentos. Apesar de a taxa de mortalidade ser baixa e de maior risco para alguns grupos, a doença preocupa. Mas pode ser vencida se tratada corretamente e respeitando as medidas indicadas pelas autoridades de saúde. A FOLHA traz histórias de pessoas que venceram a Covid-19 ou estão se recuperando, como é o caso de Eliene Scaglione, uma das primeiras positivações registradas na cidade.

Quatorze dias de isolamento: Eliene Scaglioni ficou longe do maridos e dos quatro filhos
Quatorze dias de isolamento: Eliene Scaglioni ficou longe do maridos e dos quatro filhos | Foto: Acervo pessoal

Londrina tinha apenas um caso oficialmente confirmado de coronavírus pela secretaria municipal de Saúde quando a professora Eliene Scaglioni, 39, foi diagnosticada com a Covid-19 na cidade. “Perdi o chão, não tinha estrutura”, resume, hoje recuperada da doença. A docente viajou para Santa Catarina em 1º de março e depois foi a São Paulo, retornando ao Norte do Estado no dia oito.

Cinco dias depois os sintomas começaram a aparecer. Inicialmente, a suspeita era de dengue. Entretanto, o panorama mudou quando apresentou tosse e dor de garanta, e os exames para o coronavírus foram realizados. “Até começar a tosse tinha dores no corpo, febre. Sentia muita dor, mal-estar, não tive falta de ar. A dor ia do fio do meu cabelo até a unha do pé. Não tinha posição para ficar na cama (que aliviasse)”, relembra.

Foram 14 dias de isolamento num quarto com banheiro na casa onde vive. Para ela, o período sem ter contato físico foi o mais difícil. Mesmo perto, ficou longe dos quatro filhos e marido. “Ninguém entrava no quarto e eu não saía. Só ouvia meus filhos. Tenho gêmeas de um ano e dois meses e elas batiam na porta me chamando. Ficar sozinha foi complicado”, reconhece.

Durante o tempo que ficou isolada, procurou se afastar de notícias negativas e até de grupos de WhatsApp que discutiam a doença numa visão pessimista. Procurou trabalhar a mente e teve a ideia de criar um blog (isoladacomocorona.blogspot.com), em que compartilhou reflexões sobre a experiência. “O ser humano foi feito para viver junto, ser tocado e de repente você fica sem isso, sem ver ninguém.”

MEDO

Além da sensação de solidão, Scaglioni teve que conviver com uma presença constante no confinamento: o medo. “Durante todo o tempo em que fiquei em isolamento tive medo. Só não senti tanto um dia antes de receber alta, porque já estava me sentido bem, tinha conseguido fazer aquilo que gosto, que é escrever, organizar o guarda-roupas, o quarto, tudo com luvas”, conta. “Tive medo de transmitir para meus filhos”, completa.

O tratamento foi por meio de remédios para dores, hidratação e boa alimentação. Um segundo exame, que mostrou que não estava mais com o vírus, foi o “passaporte” para reencontrar a família, voltar a pegar as filhas pequenas no colo e retomar a vida, mesmo que de uma maneira diferente. “Tenho insegurança de sair de casa, porque não sei se posso pegar novamente o vírus”, reconhece.

VITÓRIA

Com muitos planos, a professora afirma que a sensação depois de tudo que passou é de vitória. “É uma doença muito difícil, dolorosa, porém, eu venci. Então, é possível vencer, mas tem que se cuidar. É sentimento de orgulho, porque no começo achava que ia morrer”, ressalta. A oração foi apontada como um auxílio importante para a superação.

Na visão de Scaglioni, o isolamento é necessário, no entanto, uma parcela significativa da população está minimizando a medida. “As pessoas só vão entender a gravidade da Covid-19 quando alguém que elas amam passar pelo processo. É muito sério. Não tenho inimigos, mas se tivesse não desejaria que ele passasse pelo que passei.”