Rita de Cássia (esq.) e Rosi Muller (dir.), da escola municipal São Fernando: "Queremos que com o celular a criança tenha o mínimo de conhecimento possível"
Rita de Cássia (esq.) e Rosi Muller (dir.), da escola municipal São Fernando: "Queremos que com o celular a criança tenha o mínimo de conhecimento possível" | Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

Rolândia - "Aprendi no curso de pedagogia que a educação é o grande agente transformador da sociedade. Se ficar na mesmice, não mudamos nada”. A reflexão da professora Rosi Muller, de Rolândia (Região Metropolitana de Londrina), tem sido traduzida em ação concreta. Docente há 15 anos, sendo nove na rede municipal, Muller promove uma arrecadação de celulares usados, mas em bom estado de conservação, para doar aos alunos em situação de vulnerabilidade social.

Desde o início da pandemia de coronavírus, o telefone móvel se transformou em um aliado importante na aprendizagem, complementando o roteiro de estudos entregue todas as semanas na escola municipal São Fernando, localizado no bairro que leva o mesmo nome. Foi a dificuldade de alguns alunos em ter acesso à ferramenta que fez a professora pensar em uma alternativa para ajudá-los.

“Não conseguia contato com uma aluna de forma alguma. Em 2020 também tivemos dificuldade por ela não ter acesso às mídias. Descobrimos que ela tinha vergonha de vir na escola (retirar o material) por conta disso. Tinha muita vontade (de aprender), mas não tinha como fazer isso”, relatou. Desde que começou a campanha conseguiu quatro telefones: dois já foram entregues e os outros ela pegará neste fim de semana com uma uma amiga que vive em Ibiporã (RML) e que também está colaborando.

Ao informar as famílias da turma sobre a arrecadação, foi procurada por mais cinco pais e responsáveis que relataram a falta do aparelho para o filho. A demanda, no entanto, é bem maior. A escola, que fica numa localidade carente de Rolândia, tem cerca de 570 estudantes, de cinco a 11 anos. “Muitas famílias só têm um celular, que fica com o responsável a maior parte do dia e quando pode deixar com o filho, tem mais de uma criança em casa; outras o telefone é antigo”, destacou Rita de Cássia Lucio Barbieri, diretora da instituição.

APROXIMAÇÃO

Um levantamento feito pela unidade, recentemente, mostrou que poucos meninos e meninas têm computador em casa e que maior parte depende da internet móvel, que ainda não dispõe um bom sinal na região. “Com o isolamento social, o que temos é a voz e a imagem do professor. Sozinho em casa, o aluno tenta imaginar o ambiente escolar. O vínculo com o professor é insubstituível, mas a mídia permite minimamente isso”, apontou Barbieri.

Diante de tantas adaptações e desafios impostos pela Covid-19, com a suspensão das aulas presenciais, Rosi Muller ressaltou a necessidade da inclusão digital. “Gostaria de nos aproximar ao máximo do que fazemos na sala de aula. A escola não é só lugar de ler e escutar, a escola forja a formação do caráter. Queremos que com o celular a criança tenha o mínimo de conhecimento possível”, afirmou.

LEGADO

O telefone ainda tem sido usado para acompanhar a presença dos alunos e para esclarecer dúvidas. “A criança, além de realizar a atividade, tem que ser motivada. Hoje precisamos entrar na casa delas e agora é pelo celular. Enquanto professora, penso que temos que deixar um legado. Se não fizer trabalho social, não tem resposta na educação”, acrescentaram as professoras.

SERVIÇO - Quem quiser colaborar doando um celular ou saber mais sobre a iniciativa pode entrar em contato por meio do telefone (43) 99675-3586.

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