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. | Foto: Arquivo Pessoal

Imagine cruzar o Brasil para seguir até a Guiana Francesa e voltar. São aproximadamente 12 mil quilômetros. Em uma moto. Sozinho. Descobrindo e se encantando com as belezas do país afora e também enfrentando dificuldades inesperadas. Foi o que fez Julio Gasperin, 40, jornalista e professor. Ele saiu de Maringá (Noroeste), onde mora, no último mês de julho, e foi visitar o pai, que mora no país vizinho e não via há quatro anos, a bordo de uma Harley-Davidson Softail Heritage 2001.

Imagem ilustrativa da imagem Professor atravessa o Brasil e percorre 12 mil quilômetros em uma Harley Davidson
| Foto: Arquivo Pessoal

Para a ida, Gasperin escolheu percorrer a BR-153 – Transbrasiliana, no trecho de José Bonifácio-SP até Belém-PA. “Eu decidi viver a experiência de acampar, e eu adorava fazer minha própria comida. Escolhi o caminho que seria o melhor custo-benefício. A BR-153 até Belém é mais reta, por conta de postos de gasolina, e é a rota mais fácil, mais conveniente para ir até a Guiana Francesa”, analisa.

VIAGEM E PERRENGUES

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A saída de Maringá ocorreu no dia 27 de julho. “Atravessei o Estado de São Paulo pelo Noroeste e o Triângulo Mineiro”. No primeiro dia que acampou, escolheu um local um pouco depois de Fronteira-MG.

“O meu primeiro ‘perrengue’ foi o frio. Na primeira noite, no triângulo mineiro, fez 2° C com sensação de 0°C. Eu estava com pouca blusa, porque a maior parte da viagem seria em lugares quentes”, relata.

Depois, seguiu até Goiânia (GO) e acampou em Jaraguá, onde a dificuldade foi o outro extremo. “No 3º dia, em Goiás, com 40°C, a bateria superaqueceu e acabei tendo problemas. Um grupo de motoqueiros que passava pelo local me ajudou até a próxima cidade - Porangatu, onde esperei por um dia até a bateria chegar”, comenta.

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Com a moto novamente em condições, o professor prosseguiu a viagem com destino a Palmas-TO, onde também acampou. “É maravilhoso. Depois, fui até Açailândia – MA, o primeiro lugar em que fiquei em um motel. Em, Imperatriz, ainda no Maranhão, provei o Tacacá, prato típico preparado com Tucupi, um caldo extraído da folha da mandioca brava cozida por 7 dias, para tirar as toxinas, mais goma de mandioca e jambu, uma planta parecida com agrião, mas com um sabor que adormece a boca, e camarão de água doce. Eu adorava experimentar as comidas típicas”, pontua.

O próximo destino foi Belém, no Pará. “Peguei um navio, em que paguei R$ 250 pelo transporte da moto e R$ 150 na passagem - e fui até Macapá. Depois, segui por 650 km até o Oiapoque (ou seja, 140 quilômetros de estrada de chão). Atravessei a fronteira e fui até Cayenne (capital da Guiana Francesa), onde meu pai mora. Mesmo estando impedido, decidi arriscar e deu certo”, afirma.

E quanto tempo durou a aventura? “Foram uns 15 dias para ida, apreciando a viagem, e 20 dias para volta. Eu tinha um planejamento, mas fui parando quando eu queria. Alguns dias, eu andava 100 km, 200 km e parava”, aponta Gasperin.

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“Para a volta, escolhi o caminho mais emocionante, com rotas que mais margeavam o litoral. Fiz toda a viagem de volta de navio até Belém, parando em Pinheiros, onde o (José) Sarney nasceu, um lugar lindo. Lá, quebrou um parafuso do amortecedor, fiquei uma noite e consegui resolver. Então, fui a São Luís – MA, peguei um ferry boat, passei por Barreirinhas onde começam os Lençóis Maranhenses, parei em Paranaíba, no Delta do Piauí - um dos lugares que mais gostei, um dos mais lindos”, recorda. “Segui para Jericoacoara, no Ceará, para Fortaleza, Natal-RN, passei em Pipa-RN, João Pessoa-PB, Recife-PE, Maragogi-AL, peguei a estrada que margeia o mar, passei por umas balsas, uns lugares bem lindos, até Maceió, onde fiquei num hostel. Fui para Penedo-AL, nas margens do rio São Francisco, Aracaju-SE, até Salvador-BA. Como estava chovendo muito no litoral, decidi sair e pegar a estrada pelo interior. Fui até Belo Horizonte-MG em uma pegada só – foram quase 1.200 km. Eu não conhecia, é (uma cidade) linda. Depois, fui de São Paulo a Curitiba, e cheguei a Maringá. Uma viagem incrível”.

MAIS E MENOS

Uma aventura dessas tem os prós e contras. “No geral, eu gostei de toda a experiência, de testar o meu próprio limite de achar que aquilo era quase impossível fazer sozinho. De experimentar as comidas, de conhecer as pessoas, os lugares, as culturas novas, de sentir a chuva, o vento, a liberdade. O que eu gostei mais foi de me surpreender com lugares que eu não dava nada. Por exemplo, quando eu fiquei no Piauí. Lá tem uma praia chamada praia do Macapá que, para mim, foi o lugar em que tive a experiência mais gostosa - passei uma noite com uma lua muito clara, em um lugar deserto, sozinho. Foi muito boa essa experiência”.

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E o que menos gostou? “Da viagem ter acabado (risos). Fora isso, em alguns lugares, a estrada é muito, muito ruim, mal sinalizada. Mas isso é uma realidade do Brasil mesmo. Isso foi o que mais me incomodou. Em alguns lugares, não tinha sinalização alguma, era muito perigoso. Um quebra-molas no meio da rodovia sem placa nenhuma, sem sinalização nenhuma. Foi o que eu menos gostei pontualmente. Tirando que eu não gostei do preço da gasolina, em geral, o lugar mais barato que eu abasteci foi em Macapá – cheguei a abastecer a R$ 5,07, e o lugar mais caro foi em Minas, a R$ 6,70. Eu peguei estradas muito ruins, por exemplo, de Alagoas para Sergipe, no interior. Mas é interior, normal a estrada ser menos conservada. Também peguei estrada muito ruim entre Ipatinga e Belo Horizonte, que devia ser uma estrada muito boa e foi uma estrada muito perigosa, cheia de buracos e mal sinalizada, isso foi o que me incomodou mais”.

ROTINA

Gasperin planejou a alimentação para o início da viagem e levou tudo na bagagem. “Eu enchi aquelas embalagens de (batatas) Pringles com mantimentos básicos, como arroz e macarrão. Fiz uma farofa com charque, levei café, leite em pó e defumados, como linguiça, bacon, pra eu poder fazer. Para o café da manhã, levei bolachas tipo pão de mel, que eram fáceis de achar, e eu não precisei comprar comida daqui até lá. E fui fazendo minha comida”, revela.

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“Minha programação era acordar por volta das 5h, fazer um café da manhã bem reforçado, tomar e viajar até umas 17h, parar, montar acampamento e fazer um jantar. Eu jantava e ia dormir. Porque assim a estrada rendia para eu não precisar parar para almoçar. Então, eu comia só uma fruta. Levei maçã, que era fácil de comer, e não estragava”.

PLANOS E PRÓXIMAS AVENTURAS

E, para quem pensa que cruzar o Brasil a bordo de uma Harley era tudo, Gasperin comenta que já gostaria de sair em viagem “amanhã cedo”. “Eu pensei em ir para o deserto do Atacama, na próxima longa viagem que eu gostaria de fazer. Mas eu queria fazer outras mais curtas, serra do rio do Rastro, descer para o sul, pegar umas estradas legais, oeste de SC, RS”. A aventura só está começando.

Quem quiser acompanhar mais da rotina e da viagem do professor, basta acessar o Instagram dele.

Gasperin pretende, em breve, abrir um canal no YouTube para mostrar mais em detalhes de como foi a aventura.