Primeiros ‘wolbitos’ são soltos em Londrina para ajudar no combate à dengue
Bactéria Wolbachia promete impedir que os vírus da dengue, zika e chikungunya se desenvolvam no Aedes aegypti
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segunda-feira, 26 de agosto de 2024
Bactéria Wolbachia promete impedir que os vírus da dengue, zika e chikungunya se desenvolvam no Aedes aegypti
Pedro Marconi
Quem levantou cedo para fazer exercício físico na praça do jardim Piza, na zona sul de Londrina, nesta segunda-feira (26), ficou atento com a movimentação no bairro. A presença de servidores da prefeitura e funcionários do Instituto WMP foi para a liberação dos primeiros “wolbitos”, que são os mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, que promete impedir que os vírus, inclusive o da dengue, se desenvolvam no inseto. “Tudo que é para acabar com a dengue é bom”, avaliou o metalúrgico aposentado Euzébio Gomes.
O idoso sabe bem os efeitos da dengue. Há cerca de quatro meses o morador foi diagnosticado com a doença. “Fiquei um mês passando mal, com dores nas pernas, não tinha apetite. É uma doença que ‘derruba’ mesmo a pessoa”, relatou. A tecnologia deve combater justamente a transmissão da dengue, além da zika e chikungunya.
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A Wolbachia é um microrganismo presente em 60% dos insetos da natureza, porém, não é encontrada no Aedes, que quando tem a bactéria inserida, ela impede que os vírus dessas doenças se desenvolvam dentro do mosquito, contribuindo para redução de casos. A biofábrica que trabalha com esta proposta foi inaugurada no mês passado na zona oeste, num prédio de 225 metros quadrados cedido pela UEL (Universidade Estadual de Londrina).
“Os ovos dos mosquitos são trazidos do Rio de Janeiro. Colocamos eles na biofábrica de Londrina para crescerem até virarem adultos. Mas antes de virarem adultos, acondicionamos a última forma do mosquito, que é a pupa, nos tubos que vão para a liberação. Nesses tubos são liberados aproximadamente 200 mosquitos cada um”, explicou Diogo Chalegre, líder de relações institucionais e governamentais do WMP Brasil. “Toda a fêmea de Aedes aegypti que tem a bactéria passa para a sua prole. Não pretendemos fazer uma supressão da população, mas uma troca, ou seja, mudar o mosquito que transmite o Aedes por um que não transmite”, acrescentou.
O projeto é desenvolvido em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e Ministério da Saúde e conta com o apoio do município, que juntamente com Foz do Iguaçu (Oeste), foi selecionado para a aplicação desta iniciativa por conta dos altos índices de dengue. Londrina fechou o último ano epidemiológico – de julho de 2023 ao mesmo mês deste ano – com 40.552 casos positivos.
TRÊS MILHÕES POR SEMANA
Até janeiro deverão ser soltos aproximadamente 60 milhões de “wolbitos” em Londrina, em todas as regiões, somando cerca de três milhões por semana. Os locais foram definidos pela secretaria municipal de Saúde e o Ministério da Saúde. Nesta segunda, por exemplo, os mosquitos foram liberados nos jardins Nova Esperança, Piza, União da Vitória, Parque das Indústrias, Ouro Branco, na zona sul, e Califórnia, leste.
Chalegre garantiu que tantos mosquitos circulando na natureza não devem trazer impacto na quantidade da população de Aedes aegypti. “Não estamos liberando uma dose de mosquitos absurda. Como liberamos mosquitos machos também, o que acontece é que quando o macho cruza com uma fêmea que não tem Wolbachia, acaba que tem uma redução da população, porque os filhotes serão inférteis”, frisou.
RESULTADOS
A expectativa é de que os primeiros resultados do método apareçam depois de janeiro. Esta mesma tecnologia já foi usada em Niterói, no Rio de Janeiro. “Lá tivemos uma redução de 70% dos casos de dengue em um ano. Em Petrolina (PE) e Campo Grande (MS) não chegamos a 1.000 casos notificados, sendo que confirmados foram menos de 100. Não associamos (as reduções) 100% ao Método Wolbachia, porque essa é uma alternativa complementar, não é a ‘bala de prata’. Soma-se a ela todas as ações que são feitas nos municípios”, advertiu.
Ou seja, os cuidados da população devem seguir normalmente, eliminando os possíveis criadouros do mosquito transmissor da dengue. “É não deixar água parada em recipientes destampados, usar inseticida, repelente, porque do contrário não vamos conseguir combater as doenças. E se alguém ver o mosquito tem que matar, pois, não sabemos se ele tem ou não Wolbachia”, orientou.