Prefeitura de Rolândia pede uso racional de água
Com estiagem, mananciais responsáveis pelo abastecimento estão bem abaixo da capacidade; secretário fala de pior seca das últimas três décadas
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terça-feira, 24 de novembro de 2020
Com estiagem, mananciais responsáveis pelo abastecimento estão bem abaixo da capacidade; secretário fala de pior seca das últimas três décadas
Laís Taine - Grupo Folha
Rolândia - A Prefeitura de Rolândia (Região Metropolitana de Londrina) emitiu comunicado recomendando uso racional de água na cidade para os próximos três meses. Isso porque os mananciais responsáveis por abastecer o município (ribeirões Ema e Jaú) estão em situação crítica e muito abaixo do esperado em decorrência da estiagem dos últimos meses.
O secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Anderson Buss Cardoso, diz que é a pior situação dos últimos 35 anos. “Nós temos uma barragem no Ribeirão Ema e o normal é que o nível da água ultrapasse essa barragem, mas nos acompanhamentos que a gente realiza constatou que houve uma redução drástica. Nunca foi vista essa condição de a Sanepar captar 100% da vazão do rio como agora", afirma.
Pela primeira vez em décadas, o ribeirão não ultrapassa a barragem que tem 2,5 metros, quando, em períodos comuns, há vazão de até 200 m³ por hora. No Ribeirão Jaú, a situação não é muito diferente. “Por isso, a gente pede que a população faça o uso racional da água, que façam uma programação para a limpeza da casa, quando for lavar as calçadas, que varram primeiro para não ter que utilizar a água para esse procedimento; e pensar que a água que vai lavar o carro pode faltar na residência de outra pessoa”, indica. O secretário também fala sobre conscientização na hora do banho, ao lavar roupas e quando utilizar torneiras de forma geral.
Cardoso aponta que a recomendação é de prevenção para evitar dias de racionamentos. “Não queremos chegar como foi em Curitiba, com rodízio para uso de água, e outras cidades que já sofrem. Possivelmente, vamos ter chuvas no fim de semana, mas que não vão ajudar de imediato, porque precisa ser muito volumosa para abastecer o aquífero e trazer melhoria nos nossos rios", observa.
Rolândia possui aproximadamente 70 mil habitantes abastecidos pelos dois mananciais e segundo o secretário é preciso pensar em novas estratégias de captação com a concessionária, que hoje é a Sanepar, mas que é preciso de tratamento com urgência e não esperar que um dos ribeirões seque para haja um planejamento.
SANEPAR
Em nota, a Sanepar respondeu que “a falta de chuvas tem gerado dEficit hídrico no Paraná e provocado queda significativa na vazão de rios e poços em todo o Estado.” A companhia acrescenta que em muitas regiões foi necessário buscar fontes alternativas e implantar rodízios e racionamentos. No Norte, a Sanepar afirma que os sistemas operam com normalidade, mas segue em monitoramento.
Sobre o município específico, explica: “A situação dos ribeirões Ema e Jaú também segue sendo monitorada em parceria com órgãos ambientais. Obras de revitalização das captações e de ampliação da capacidade de reservação do sistema já têm projeto pronto e aguardam avanços nas negociações contratuais entre o Município e a Sanepar para licitação”, afirma.
A companhia também acrescenta que a cidade poderá receber reforço da água do Rio Tibagi, por meio da implantação Centro de Reservação Esperança, em Cambé. A obra foi entregue em 2018 e, segundo a concessionária, está com estrutura para implantação de bombas para atender municípios vizinhos.
“A longo prazo, Rolândia compõe o Plano Diretor de Recursos Hídricos do Norte do Estado, que já tem traçadas alternativas de captação de água no eixo Londrina-Maringá, com horizonte de 50 anos”, afirma. A Sanepar também orienta para o uso consciente da água que deve ser feito de forma constante, em qualquer período do ano e que medidas simples podem fazer diferença no consumo de um imóvel.
'TODO FIM DE SEMANA'
“É todo final de semana”, confirma Wellington Sorji, 32, morador do conjunto San Fernando, em Rolândia. O tapeceiro conta que sofre com a falta de água constantemente e não só em períodos de estiagem. “Aqui é recorrente, a caixa d’água não aguenta manter”, acrescenta.
A resposta é repetida por diversos moradores do bairro, que já sofrem com a falta de água desde a implantação do conjunto. “Eu moro aqui há 30 anos, nem tinha asfalto, e eu lembro que a gente já tinha dias sem água por aqui”, menciona Maria Oliveira Barbosa, 54. Com cinco pessoas na casa, a dona de casa disse que é preciso se planejar no final de semana. “Sexta-feira de manhã mesmo já começa a faltar, não dá pra deixar faxina para esse dia. Tenho três crianças, a gente não pode usar muito a caixa d’água, porque só volta no domingo”, afirma, acrescentando que costuma reutilizar a água da máquina de lavar roupas em tapetes e panos de chão e depois reutiliza novamente para lavar a calçada.
O prefeito Luiz Francisconi Neto conta a queixa da falta de água na cidade é bastante recorrente e que bairros mais altos acabam sofrendo mais. “Há necessidade de construir algumas elevatórias, estações, o que demanda mais investimentos por parte da Sanepar, mas a discussão sobre a renovação do contrato ficou parada na Câmara de Vereadores e deve ficar para a próxima legislatura”, responde. Em nota, a Sanepar afirma que as obras já têm projeto e aguardam avanços das negociações entre companhia e município para licitação.
Os bairros San Fernando, Novo Horizonte, Vila Oliveira e Santiago foram mencionados pelo prefeito como locais que sentem mais a falta de água. Aparecida de Oliveira, 55, mora no jardim Novo Horizonte, e diz que não sente tanta falta de água onde vive, mas que a família possui o hábito comum de economizar água. “Eu rego as minhas plantas só uma vez por semana e elas sofrem pela estiagem”, justifica o uso da mangueira no momento da entrevista. Mas para a dona de casa é preciso estar sempre em economia de água. “Usar água da máquina de lavar, colher água da chuva para as plantas, evito lavar calçada sempre, estou cuidando”, comenta.
O prefeito afirma que vem divulgando o racionamento de água na cidade pelas mídias sociais, pedindo que tenham atenção maior nesse período de muito calor, quando aumenta o consumo de água, mas diminui a capacidade dos mananciais. “Precisamos trabalhar a conscientização das pessoas e amenizar o risco de desabastecimento”, afirma.