Imagem ilustrativa da imagem Prefeitura de Rolândia pede uso racional de água
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha 11-11-2020

Rolândia - A Prefeitura de Rolândia (Região Metropolitana de Londrina) emitiu comunicado recomendando uso racional de água na cidade para os próximos três meses. Isso porque os mananciais responsáveis por abastecer o município (ribeirões Ema e Jaú) estão em situação crítica e muito abaixo do esperado em decorrência da estiagem dos últimos meses.

O secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Anderson Buss Cardoso, diz que é a pior situação dos últimos 35 anos. “Nós temos uma barragem no Ribeirão Ema e o normal é que o nível da água ultrapasse essa barragem, mas nos acompanhamentos que a gente realiza constatou que houve uma redução drástica. Nunca foi vista essa condição de a Sanepar captar 100% da vazão do rio como agora", afirma.

Pela primeira vez em décadas, o ribeirão não ultrapassa a barragem que tem 2,5 metros, quando, em períodos comuns, há vazão de até 200 m³ por hora. No Ribeirão Jaú, a situação não é muito diferente. “Por isso, a gente pede que a população faça o uso racional da água, que façam uma programação para a limpeza da casa, quando for lavar as calçadas, que varram primeiro para não ter que utilizar a água para esse procedimento; e pensar que a água que vai lavar o carro pode faltar na residência de outra pessoa”, indica. O secretário também fala sobre conscientização na hora do banho, ao lavar roupas e quando utilizar torneiras de forma geral.

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Cardoso aponta que a recomendação é de prevenção para evitar dias de racionamentos. “Não queremos chegar como foi em Curitiba, com rodízio para uso de água, e outras cidades que já sofrem. Possivelmente, vamos ter chuvas no fim de semana, mas que não vão ajudar de imediato, porque precisa ser muito volumosa para abastecer o aquífero e trazer melhoria nos nossos rios", observa.

Rolândia possui aproximadamente 70 mil habitantes abastecidos pelos dois mananciais e segundo o secretário é preciso pensar em novas estratégias de captação com a concessionária, que hoje é a Sanepar, mas que é preciso de tratamento com urgência e não esperar que um dos ribeirões seque para haja um planejamento.

SANEPAR

Em nota, a Sanepar respondeu que “a falta de chuvas tem gerado dEficit hídrico no Paraná e provocado queda significativa na vazão de rios e poços em todo o Estado.” A companhia acrescenta que em muitas regiões foi necessário buscar fontes alternativas e implantar rodízios e racionamentos. No Norte, a Sanepar afirma que os sistemas operam com normalidade, mas segue em monitoramento.

Sobre o município específico, explica: “A situação dos ribeirões Ema e Jaú também segue sendo monitorada em parceria com órgãos ambientais. Obras de revitalização das captações e de ampliação da capacidade de reservação do sistema já têm projeto pronto e aguardam avanços nas negociações contratuais entre o Município e a Sanepar para licitação”, afirma.

A companhia também acrescenta que a cidade poderá receber reforço da água do Rio Tibagi, por meio da implantação Centro de Reservação Esperança, em Cambé. A obra foi entregue em 2018 e, segundo a concessionária, está com estrutura para implantação de bombas para atender municípios vizinhos.

“A longo prazo, Rolândia compõe o Plano Diretor de Recursos Hídricos do Norte do Estado, que já tem traçadas alternativas de captação de água no eixo Londrina-Maringá, com horizonte de 50 anos”, afirma. A Sanepar também orienta para o uso consciente da água que deve ser feito de forma constante, em qualquer período do ano e que medidas simples podem fazer diferença no consumo de um imóvel.

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| Foto: Divulgação

'TODO FIM DE SEMANA'

“É todo final de semana”, confirma Wellington Sorji, 32, morador do conjunto San Fernando, em Rolândia. O tapeceiro conta que sofre com a falta de água constantemente e não só em períodos de estiagem. “Aqui é recorrente, a caixa d’água não aguenta manter”, acrescenta.

A resposta é repetida por diversos moradores do bairro, que já sofrem com a falta de água desde a implantação do conjunto. “Eu moro aqui há 30 anos, nem tinha asfalto, e eu lembro que a gente já tinha dias sem água por aqui”, menciona Maria Oliveira Barbosa, 54. Com cinco pessoas na casa, a dona de casa disse que é preciso se planejar no final de semana. “Sexta-feira de manhã mesmo já começa a faltar, não dá pra deixar faxina para esse dia. Tenho três crianças, a gente não pode usar muito a caixa d’água, porque só volta no domingo”, afirma, acrescentando que costuma reutilizar a água da máquina de lavar roupas em tapetes e panos de chão e depois reutiliza novamente para lavar a calçada.

O prefeito Luiz Francisconi Neto conta a queixa da falta de água na cidade é bastante recorrente e que bairros mais altos acabam sofrendo mais. “Há necessidade de construir algumas elevatórias, estações, o que demanda mais investimentos por parte da Sanepar, mas a discussão sobre a renovação do contrato ficou parada na Câmara de Vereadores e deve ficar para a próxima legislatura”, responde. Em nota, a Sanepar afirma que as obras já têm projeto e aguardam avanços das negociações entre companhia e município para licitação.

Os bairros San Fernando, Novo Horizonte, Vila Oliveira e Santiago foram mencionados pelo prefeito como locais que sentem mais a falta de água. Aparecida de Oliveira, 55, mora no jardim Novo Horizonte, e diz que não sente tanta falta de água onde vive, mas que a família possui o hábito comum de economizar água. “Eu rego as minhas plantas só uma vez por semana e elas sofrem pela estiagem”, justifica o uso da mangueira no momento da entrevista. Mas para a dona de casa é preciso estar sempre em economia de água. “Usar água da máquina de lavar, colher água da chuva para as plantas, evito lavar calçada sempre, estou cuidando”, comenta.

O prefeito afirma que vem divulgando o racionamento de água na cidade pelas mídias sociais, pedindo que tenham atenção maior nesse período de muito calor, quando aumenta o consumo de água, mas diminui a capacidade dos mananciais. “Precisamos trabalhar a conscientização das pessoas e amenizar o risco de desabastecimento”, afirma.