A recicladora Sebastiana Brito mora há cerca de dez anos na avenida Cruzeiro do Sul, na zona oeste de Londrina. Ela entrou em desespero ao ver o barraco onde se abrigava sendo desmanchado. “Para onde que vou agora? Nasci e fui criada em Londrina e agora não tenho onde ficar”, brandou. A moradia improvisada dela foi uma das sete retiradas na manhã desta quarta-feira (12) pela Prefeitura de Londrina, por meio de uma operação conjunta entre as secretarias de Obras, GM (Guarda Municipal) e CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização).

LEIA TAMBÉM: Prefeitura vai isolar Parque Daisaku Ikeda com um alambrado

Os barracos estavam espalhados pela calçada e eram ocupados, majoritariamente, por pessoas em situação de rua e usuários de drogas. O município justificou que a ação foi necessária para concluir a duplicação de um trecho de cerca de 400 metros da via, que liga a avenida Luigi Amorese à rotatória que dá acesso à BR-369, na altura do Moinho Dona Benta, na Vila Rica. Além disso, a avenida fica perto das obras do futuro viaduto da PUC.

“Essa avenida foi pavimentada recentemente e o lado que foi feito vinha sendo utilizado pelos moradores do entorno como depósito de lixo e do material que estavam reciclando. Com a construção da via, houve a necessidade de retirada e, como a avenida não foi liberada, as pessoas começaram a acumular material novamente. O que fizemos foi desobstruir a via para poder liberar a faixa de rolamento", destacou Pedro Ramos, secretário municipal de Defesa Social.

Para a remoção, o poder público londrinense usou duas retroescavadeiras e quatro caminhões. A CMTU bloqueou os dois sentidos da avenida. Não houve enfrentamento com a GM. "Não tem ordem judicial porque aqui não houve uma ocupação no sentido de invasão de propriedade. Não há reintegração”, explicou.

MORADORES CRITICAM

A retirada das instalações atraiu críticas não somente das pessoas em situação de rua que ocupavam o local, mas também de moradores do entorno. Jefferson Diogo, que é do jardim Leonor, opinou que a desocupação aconteceu sem planejamento. "A obra que precisa ser feita nem começou. Essas pessoas são moradoras, estão aqui há mais de vinte anos e agora estão todos na rua sem saber o que fazer", declarou.

Ele ainda apontou que as instalações eram ocupadas por pessoas que prestam serviços para moradores da região. "Esses moradores trabalham e esse projeto é nada a ver. Onde está a Assistência Social para cuidar do povo? E amanhã? E depois? O que vai acontecer com esse pessoal?", questionou.

A mesma preocupação foi compartilhada pelo mototaxista José Richard. “Não sabemos a resposta efetiva da prefeitura e ficamos angustiados, porque não sabemos para onde eles vão agora. Não tem um lar efetivo, um lugar para ir, tem gente em situação extrema de pobreza, num descaso”, lamentou. Outros moradores se disseram aliviados com a retirada. “Ainda bem que demoliram. Sabemos o que eles fazem ali a noite. Vai trazer segurança”, ressaltou uma moradora, que preferiu não ser identificada.

AVISO PRÉVIO

O município garantiu que as pessoas que ficavam nos barracos foram avisadas previamente sobre a destruição das estruturas. “Fizemos um trabalho anterior, a própria Guarda Municipal passou aqui e avisou para tirar o material que estavam deixando no espaço público e, infelizmente, as pessoas não respeitaram”, alegou. A operação não foi acompanhada pelos secretários de Obras e Pavimentação, João Verçosa, e de Assistência Social, Jacqueline Micali.

Por meio de nota, o Núcleo de Comunicação da Prefeitura ressaltou que três barracos abrigavam “pessoas moradoras dos bairros vizinhos que ocupavam o espaço para guardar material reciclável” e que “outros dois estavam sendo usados como ponto de consumo e venda de drogas.”

“Os dependentes químicos são acompanhados pelos projetos da prefeitura, mas nem todos aceitam participar dos programas. É o caso de duas pessoas que ficam perambulando pelo local”, indicou o texto. A duplicação da avenida Cruzeiro do Sul irá funcionar como rota alternativa quando for iniciada a obra do viaduto da PUC. (Colaborou Guilherme Marconi)

Atualizada às 16h55

****

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.