Imagem ilustrativa da imagem Prefeitura de Londrina quer ampliar voluntários do Família Acolhedora
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Londrina possui no mínimo 100 crianças e adolescentes que tiveram que ser afastados da família de origem. Para evitar que elas fiquem boa parte do tempo abrigadas em instituições, a Prefeitura pretende ampliar o número de voluntários no programa Família Acolhedora, que hoje conta com apenas 17 famílias habilitadas. A proposta é entregar ambiente mais propício e favorável ao desenvolvimento das crianças, enquanto elas aguardam os processos de adoção ou de retorno seguro à família de origem.

“Existem estudos apontando o quanto a convivência em família é mais saudável para o desenvolvimento infantil do que a convivência institucional. A gente vê exemplos em outros países que possuem mais crianças acolhidas com as famílias do que nas instituições, aqui no Brasil esse serviço está começando agora”, comenta Ligia Fukahori, gerente de alta complexidade da diretoria de proteção social especial, da secretaria municipal de Assistência Social.

Atualmente, o programa em Londrina possui 17 famílias habilitadas e seis crianças acolhidas no serviço. “Nosso esforço é aumentar o programa para que tenham mais famílias interessadas. É importante ter número maior, pois nosso porcentual de criança em família acolhedora é bem menor do que os que estão na instituição”, defende. Os critérios sobre qual criança será acolhida são definidos pela Vara da Infância e da Juventude.

PROCESSO DE SELEÇÃO

Porém, habilitar uma família não é simples. Todos os candidatos passam por processo de seleção rigoroso e, depois, por capacitação. Podem se voluntárias pessoas de qualquer estado civil ou gênero, que se enquadrem nos requisitos: idade acima de 21 anos, não ter interesse em adoção, ser residente em Londrina há, pelo menos, um ano, não ter pendências com a justiça e com o Conselho Tutelar que tornem a guarda inadequada, nem ter passado por situações de luto ou perda recente. As famílias avaliadas podem pedir auxílio financeiro enquanto ficam com a criança, se necessário.

Todos os membros da família precisam estar de acordo com a atuação no programa e disponíveis para a experiência. A família tem o direito de demonstrar mais disponibilidade por determinados perfis, como definir qual idade está mais disposta ou se atenderia grupo de irmãos, por exemplo. No decorrer do acolhimento, são feitas avaliações por equipe multiprofissional.

Para Jacqueline Micali, secretária municipal de Assistência Social, o programa pode trazer inúmeros benefícios para as crianças, que, por meio do ambiente familiar, possuem desenvolvimento diferenciado daquele da instituição. “Na instituição, passam vários educadores, técnicos, são inúmeras pessoas de diversas famílias e, mesmo que haja rotina, são pessoas diferentes. Seja recém-nascido, criança na primeira infância, ou adolescente, o ambiente familiar será sempre melhor que o institucional”, frisou.

'TODOS SE ENVOLVEM'

Com apenas seis dias de vida, um bebê chegou na casa da família Reis. A decisão foi tomada em conjunto, mas quem ouviu sobre o programa Família Acolhedora pela primeira vez foi a matriarca Vanilda, de 38 anos, que é casada e já tem dois filhos adolescentes. “Sempre trabalhei com criança de várias idades e eu ouvi sobre o programa e uma amiga me incentivou, porque lidar com criança é uma área que eu gosto, mas aí seria com a dedicação total, é diferente, mas decidimos tentar”, menciona.

Ela conta que foi necessário passar por acompanhamento, visitas e conversas com psicólogos e outros profissionais. Acompanhamento que levou em torno de três meses até conhecer a primeira criança: uma menina de três meses que ficou com a família por 16 dias. Depois dessa, veio o recém-nascido de seis dias que está com a família há pouco mais de um ano. “Ele vai ficar com a gente durante um ano e seis meses e já está quase no fim”, comenta.

A vendedora afirma que sente por ter que se despedir da criança nos próximos meses, mas conta que todos da casa já estavam preparados para isso. “Ele tem a mãe dele, tem o direito de ficar com ela, eu quero ajudar”, afirma. “A gente já vem se preparando, eu me preparei para isso antes de começar no projeto, vamos ver como vai ser na hora que ele tiver que ir, porque é uma mudança de rotina”, relata.

Isso porque a casa já estava perdendo a movimentação infantil com o crescimento dos filhos, mas abriu as portas para mamadeiras, chupetas e fraldas novamente. “Quando ele chegou, nós pegamos com cólica, levantar de madrugada para fazer mamadeira, com horário para banho, criamos uma rotina para ele e agora que vai voltar para a mãe dele, ela vai manter esses hábitos”, defende.

Para ela, o projeto é a soma afeto e carinho por um bem maior. “Se essa criança fica em um abrigo, não tem gente suficiente para se dedicar como acontece em um ambiente familiar. São funcionários com várias crianças para cuidar. Em casa você estimula a conversar, andar, vai ensinando, é muito interessante. Com quatro meses eu já o ensinava a cantar parabéns”, recorda.

Um processo que vai além do núcleo familiar, pois vizinhos, amigos e familiares acabam interagindo com as crianças em uma rede de afeto e dedicação. “Todos se envolvem, é um projeto muito bonito que eu recomendo, é muito gratificante. Quando esse precisar ir, nós já vamos pegar outro”, almeja.

SERVIÇO
A inscrição para se voluntariar ao Família Acolhedora pode ser feita no site: https://familiacolhedora.wordpress.com. Mais informações pelos telefones (43) 3378-0570 ou (43) 99993-3366, que atendem de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas.