A Prefeitura de Londrina realizou na manhã deste sábado (28) um mutirão para retirar toneladas de lixo de um mocó na Rua Alagoas, região central da cidade. A casa, que estava abandonada pelo proprietário há anos, tinha diversos focos do mosquito transmissor da dengue e era utilizado por usuários de drogas. Na primeira hora de trabalho, já tinham sido retirados três caminhões de lixo; no total, a previsão era de retirar 10 caminhões.

Felipe Machado, secretário municipal de Saúde, explica que o local já era de conhecimento da equipe de Endemias e é considerado um ponto estratégico. Segundo ele, a cada 15 dias, as equipes faziam a vistoria e a aplicação de veneno. "Mas o cenário da epidemia [de dengue] nos trouxe aqui para fazer essa grande ação”.

Imagem ilustrativa da imagem Prefeitura de Londrina faz mutirão para retirar lixo de mocó na Alagoas
| Foto: Jéssica Sabbadini

Machado destaca que, como é um imóvel particular, não é responsabilidade do município fazer a limpeza. Entretanto, por Londrina estar vivendo uma epidemia de dengue, com mais de 30 mil casos notificados, sendo que o imóvel coloca em risco toda a população, foi organizado esse mutirão. Segundo ele, é de interesse do município remover todo o material que pode ser um criadouro em potencial do mosquito transmissor da dengue. “Nós tentamos diversas vezes o contato com o proprietário e não conseguimos. A informação que temos é de que ele abandonou o imóvel e sumiu”, explica.

ENTRADA SEM PERMISSÃO

O secretário esclarece que um decreto municipal, publicado há poucas semanas, permite que as equipes entrem em residências sem a permissão do proprietário, desde que algumas etapas tenham sido cumpridas. “O primeiro é a notificação, depois a conversa com o proprietário e, por fim, as informações sobre a necessidade de adequação. Aqui nesse local, nós não conseguimos avançar em nenhuma das etapas, motivo pelo qual a saída, por interesse público, foi usar as nossas equipes para fazer a limpeza”, explica. Ele adiciona que o proprietário será notificado da ação que foi feita e, caso haja reincidência, poderá ser multado. Como o proprietário ainda não foi localizado, o valor poderá ser incluso no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). O secretário afirma que não foi feita a checagem para saber se os impostos do imóvel estão com os pagamentos em dia.

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| Foto: Jessica Sabbadini

NOS QUINTAIS

Apesar dos focos do mosquito Aedes aegypti encontrados no mocó, Felipe Machado ressalta que 98% dos casos que levaram Londrina a enfrentar uma epidemia estão dentro das casas e quintais. “Seja em um prato de planta, um bebedouro de animal ou uma tampinha que a gente deixa jogada, esses são os grandes vilões da epidemia. Fundos de vale, descarte irregular e terrenos como esse representam, dentro desse cenário de epidemia, pouco mais de 2% dos casos”, esclarece.

ACUMULADORES

O secretário acrescenta que, recentemente, o município fez a limpeza na casa de acumuladores no Vivi Xavier e no Aquiles Stenghel, ambos na zona norte, assim como em residências na região sul. Segundo ele, o próximo alvo do mutirão está na região central.

Enquanto as equipes removiam o lixo do mocó, outros trabalhadores faziam a aplicação de veneno no local e em casas vizinhas, o que permite que os mosquitos não consigam voar para longe e fiquem na área de cobertura do veneno. As vistorias vão continuar sendo feitas a cada 30 dias. Ainda não foi definido se o imóvel será lacrado pelo município.

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| Foto: Jessica Sabbadini

Marcelo Cortez, presidente da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) de Londrina, responsável pela retirada do lixo, reforça que cada proprietário é responsável pelo cuidado do seu imóvel. “Infelizmente, as pessoas estão deixando de cuidar e acumulando lixo desnecessário em seus quintais. A Prefeitura faz a sua parte na limpeza dos espaços públicos e, extraordinariamente, de alguns espaços privados depois, mas é um trabalho que poderia ser evitado se o proprietário cuidasse do imóvel dele”, afirma.

Cortez ressalta que o local já foi frequentado por pessoas, mas agora o principal problema é o lixo que foi se acumulando. Entretanto, a reportagem viu no local alguns indícios de que pessoas ainda frequentam o espaço, como restos recentes de comida.

ALÍVIO

Para quem precisa conviver de perto com a situação, o sentimento é de alívio com a limpeza do local. Felipe Alves Trindade trabalha próximo ao mocó e ressalta que a insegurança era constante. “Perto do horário da noite, as pessoas começavam a chegar. Eles queimavam coisas que os vizinhos não sabem dizer o que é”, conta. Segundo ele, alguns colegas de trabalho contraíram dengue, que ele acredita ser por conta dos focos que têm no local. “Para a gente é um alívio."

Com lágrimas nos olhos, Lourival Pereira Rios conta que sua esposa, com quem é casado há mais de 40 anos, foi morar em Ivaiporã (Vale do Ivaí), na casa dos filhos do casal, por conta do imóvel abandonado. “Agora Deus fez esse milagre de virem limpar isso aí”, conta.

Felipe Josué da Silva, que trabalha em uma funilaria bem próximo ao mocó, ressalta que o local já sofreu diversas tentativas de roubo e que já perdeu clientes. “Os impostos são caros, a gente tem que pagar até para estacionar na rua e eles deixam esse lugar ficar desse jeito?”, questiona. Segundo ele, o proprietário deveria ser multado, assim como o município deveria acolher as pessoas em situação de rua, o que evitaria que elas frequentem espaços como esse.