Imagem ilustrativa da imagem Prefeitura de Jacarezinho quer expandir projeto dos mosquitos estéreis
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Jacarezinho - A Prefeitura de Jacarezinho pretende renovar o contrato com a multinacional de biotecnologia Forrest para que ela continue aplicando o projeto com os mosquitos Aedes aegypti estéreis por um ano, mas desta vez expandindo para todo o município. De acordo com o secretário de Saúde da cidade, Marcelo Nascimento e Silva, até agora a iniciativa não teve custo por se tratar de um piloto. Entretanto, se continuada, custará cerca de R$ 3 milhões por 12 meses.

"É um projeto excelente, mas que ainda tem que ser acompanhado pela conscientização sanitária da população. O pessoal da empresa já se reuniu com o prefeito Sérgio Faria (DEM), que sinalizou a contratação por mais um ano. A secretaria não tem o valor previsto no orçamento deste ano, porém o chefe do Executivo se comprometeu a buscar recursos junto a deputados e com remanejamento interno", projeta.

Em dezembro de 2017 o índice de infestação predial de dengue em Jacarezinho era de 9,8%. Boletim da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde) sobre a doença mostrou o município com 7,5% de índice, na semana passada. Santos confia que levar o projeto para todos os bairros fará com que os números melhorem em níveis mais amplos. "De forma alguma podemos retroagir, mas sim progredir. Foram contratados dez agentes de endemias para ajudar nisto. O projeto vem para somar."

INCUBADORA
O projeto da Forrest está incubado na Tecpar (Instituto de Tecnologia do Paraná), que tem como compromisso prestar apoio a empresas com ações no início. O órgão colabora oferecendo infraestrutura, consultoria e serviços especializados para reduzir o risco do empreendimento não dar certo. Gerente do setor de Parques e Incubadoras da Tecpar, Gilberto Passos Lima classifica como inovadora a atividade sobre a dengue. "O processo deles está sendo validado. A próxima etapa é oferecer para outros municípios e estados. Podemos auxiliar colocando a empresa em locais corretos para apresentar o produto, como participações em eventos", diz.

A iniciativa precisou passar por algumas etapas no instituto para ser aceita, com apresentação de plano de negócio, avaliação com banca multiprofissional e comissão julgadora. "O contrato é de um ano e no caso da Forrest foi renovado em dezembro para mais um período. Cada final de contrato fazemos avaliação para ver se precisa atualizar algo, se está seguindo o objetivo. Quando chega no nível de maturidade, em que a empresa pode seguir sozinha, terminamos todo o processo e é feita a graduação", detalhou Lima.

A coordenadora do projeto em Jacarezinho, Lisiane Poncio, ressalta que o objetivo é utilizar o que foi notado neste piloto para fortalecer os benefícios, permitindo a disseminação para mais municípios. "A ideia é expandir e poder evitar epidemias. Vemos a fórmula como efetiva. A meta, com certeza, é que o local que estamos trabalhando não seja dependente dos nossos mosquitos. O ideal é a população suprir esta necessidade", assegura. A reportagem também entrou em contato com a Sesa, que não retornou.

CONSCIENTIZAÇÃO

Bairro com pouco tempo de existência em Jacarezinho, o Novo Aeroporto tem poucos quarteirões e muitos terrenos que ainda não contam com edificação. Alguns destes espaços têm mato alto, o que pode potencializar possíveis focos do Aedes aegypti com despejos irregulares. Mesmo com este tipo de situação pontual e o índice de infestação predial zero em fevereiro, os moradores prometem que não vão deixar os indicadores alarmantes retornarem.

No caso da dona de casa Aparecida de Fátima Costa a razão para estar atenta é ainda maior. Ela teve dengue em 2018 e não guarda boas lembranças. "Doía o corpo todo, uma sensação horrível. O espaço da minha casa vejo todos os dias para não deixar água parada. A dificuldade é que não são todos que fazem isso", reconhece ela, que tem ciência sobre o projeto que solta mosquitos machos estéreis na localidade. "Pessoas da empresa vieram aqui falar sobre isso. Depois que começaram a soltar parou de temermos tanto a dengue", acrescenta.

Wilson Donizete de Souza: "Sou a favor de todo o tipo de tecnologia que chega para melhorar a vida da população"
Wilson Donizete de Souza: "Sou a favor de todo o tipo de tecnologia que chega para melhorar a vida da população" | Foto: Gustavo Carneiro



Wilson Donizete de Souza ficou sabendo sobre a iniciativa que vem sendo aplicada por meio dos vizinhos. O motorista pensa que está sendo benéfica e, por isso, deve continuar. "Lógico que é algo muito recente, que vamos ter certeza com o tempo, porém, a princípio, tem se mostrado boa. Sou a favor de todo o tipo de tecnologia que chega para somar e melhorar a vida da população. Já vi eles soltando esses mosquitos algumas vezes", afirma.

AVALIAÇÃO
Moradora do Aeroporto, que é a maior das três áreas tratadas, Sueli Rodrigues Mariano nunca contraiu dengue e se depender do esforço dela e da família não vão entrar para as estatísticas. "Cuido tudo certinho. Enfrentamos vários problemas dessa doença no bairro, só que não sei a razão para ter diminuído", cita ela, que trabalha com serviços gerais. Rodrigues foi informada pela reportagem sobre o projeto executado desde setembro. Boletim epidemiológico divulgado pela Sesa (Secretaria de Estado da Saúde) na última semana mostra que Jacarezinho tem 26 notificações de dengue, mas com apenas um caso confirmado.

Ainda com índice avançado da doença, em percentual que a OMS (Organização Mundial da Saúde) sugere como estado de emergência, a Vila Leão tem o desafio de maior conscientização dos moradores. O motorista aposentado João Alves da Silva acredita que este fator, associado à soltura dos mosquitos pelo projeto, vão fazer a situação melhorar. "No começo o pessoal ficou assustado quando viu soltando esses mosquitos, porém entendeu depois. É legal, mas esses bichos picam. O tamanho deles é menor em relação aos demais." "Tem horas que vejo um monte de mosquito junto dentro de casa", menciona a vendedora Angela Maria da Costa, que já teve dengue.

"Tem horas que vejo um monte de mosquito junto dentro de casa", afirma Angela Maria da Costa
"Tem horas que vejo um monte de mosquito junto dentro de casa", afirma Angela Maria da Costa | Foto: Gustavo Carneiro



A Forrest garante que os mosquitos machos criados em laboratório não picam, pois se alimentam somente da seiva de plantas, e não têm tamanho diferente em relação aos de campo. A projeção é que os mosquitos continuem sendo soltos até abril. "Estamos negociando e planejando, juntamente com a Prefeitura de Jacarezinho, expandir o tratamento para a cidade toda na próxima temporada", visa Poncio.