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. | Foto: Ricardo Chicarelli - Grupo Folha

Moradores de Irerê liberaram a PR-445, no trevo de acesso ao distrito, após mais de 13 horas de bloqueio nesta segunda-feira (20). Ainda de madrugada, por volta das 4 horas, a pista foi interditada e os manifestantes atearam fogo em madeiras e pneus para impedir a passagem de veículos. O desvio estava sendo feito pela PR-538, mas o trevo de Guaravera também foi fechado no começo da tarde. Eles cobram da prefeitura melhorias em infraestrutura e serviços e dizem que se sentem abandonados pelo poder público. O congestionamento passou dos 10 quilômetros, segundo a Polícia Rodoviária Estadual.

O protesto só chegou ao fim após uma reunião de um grupo de manifestantes no gabinete do prefeito Marcelo Belinati (PP) no fim da tarde. A população do distrito tem uma lista de reclamações. Uma delas é sobre o horário de atendimento na UBS (Unidade Básica de Saúde) de Irerê e a falta de médicos. A unidade funciona de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 15 horas, mas os usuários se queixam que as sete horas e meia são insuficientes para atender a demanda. Eles reivindicam a extensão do horário para, pelo menos, até as 18 horas e cobram a contratação de mais médicos. “Só tem um médico que atende das 7h30 às 12 horas, duas vezes por semana. E ele só consegue atender 14 pessoas por dia”, disse Pâmela Aparecida Gonçalves Godói.

“Nós queremos uma UBS que atenda por mais tempo. Depois do horário, quem fica doente aqui no distrito ou precisa de atendimento de urgência tem que ir para o posto de saúde do União da Vitória (zona sul) ou para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Se nós tivéssemos um posto de saúde 24 horas aqui poderíamos atender os moradores de todos os outros distritos e iria desafogar o posto do União da Vitória”, cobrou Isaac Alexandre Costa.

A população do distrito também relata problemas com a distribuição de correspondências. Desde o último dia 10, segundo eles, o serviço deixou de ser feito e agora cartas, boletos e encomendas devem ser retirados no centro de distribuição, em Londrina. “Os Correios entregam na cidade e a entrega aos moradores era feita pela Secretaria Municipal de Agricultura, que tinha um convênio com os Correios. Depois, a Secretaria de Educação assumiu esse convênio, mas não tem funcionários para fazer o serviço, que foi suspenso”, comentou Costa.

Os manifestantes reclamam também da falta de asfalto na maioria das ruas do distrito e reivindicam a construção de uma capela mortuária. “Tem rua aqui que consta como asfaltada na prefeitura, mas não tem asfalto nenhum. Para onde foi esse dinheiro? Já reclamamos e tudo o que fizeram foi jogar pedra nas ruas e pintar o meio-fio. Ficou por isso mesmo. Até os bueiros foram os moradores que construíram porque nem isso a prefeitura fez”, disse Godói.

“Todos os distritos de Londrina têm uma capela mortuária. Só nós não temos. Quando morre alguém, ou velamos na igreja ou no salão paroquial, mas temos que pagar R$ 100 para fazer um velório. Muita gente não tem condição de pagar”, ressaltou Costa.

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. | Foto: Ricardo Chicarelli - Grupo Folha

Morador do distrito há cerca de 30 anos, João Felismino avalia que as condições de vida nos distritos só vêm piorando ao longo dos anos. “A única coisa boa que fizeram aqui em Irerê foi a construção do terminal de ônibus, mas ele já está precisando de uma reforma. Tem rua aí no distrito que mais parece um carreador. Em dias de chuva, ninguém passa. Quando tem enterro em dia de chuva, é uma dificuldade chegar ao cemitério. A nossa subprefeitura está abandonada.”

O caminhoneiro Gentil dos Santos viajava de Estrela (RS) para Cambé (Região Metropolitana de Londrina) pela PR-445 e eram 4 horas quando se deparou com o bloqueio. Depois de cinco horas aguardando sem que a rodovia fosse liberada, ele aproveitava para tirar um cochilo na cabine do caminhão. “Acho justo. Cada um tem que reivindicar o que acha certo. A situação do País é assim mesmo, tem muita coisa errada. Vou aguardar liberarem a pista para seguir viagem”, disse, conformado.

Imagem ilustrativa da imagem PR-445 é liberada após 13 horas de protesto
| Foto: Ricardo Chicarelli - Grupo Folha

Almerindo Faria Galvão Neto esperava conseguir prosseguir a viagem antes das 15 horas para que pudesse carregar o caminhão e retornar a Marília (SP) ainda na segunda-feira. “Estou indo para Mauá da Serra (Centro-Norte) buscar uma carga e a previsão era chegar lá por volta das 6 horas. Cheguei aqui no trevo junto com o pessoal do protesto. Por um pouquinho não consegui passar. Esse protesto atrapalhou toda a minha programação do dia, mas espero que eu consiga voltar ainda hoje.”

O protesto foi acompanhado pela Polícia Militar e pela Guarda Municipal, mas não houve incidentes. Segundo a polícia, a mobilização reuniu cerca de cem pessoas.

RESPOSTA

A reportagem entrou em contato com o prefeito Marcelo Belinati. A resposta foi um áudio no qual o deputado federal Emerson Petriv (Pros-PR), o Boca Aberta, convoca a população de Irerê para o ato desta segunda-feira e critica a gestão do prefeito. Questionado pela reportagem se ele acreditava que o envolvimento do parlamentar na mobilização invalidaria o protesto, Belinati não respondeu.

Mais tarde, em nota encaminhada pela assessoria de imprensa, a prefeitura lamentou a interdição da rodovia, “que prejudica os motoristas e toda a população”, e disse que em nenhum momento, antes do ato, os moradores do distrito solicitaram audiência com o prefeito. A assessoria informou ainda que o secretário municipal de Governo, Juarez Tridapalli, esteve no local e outros secretários também deveriam se deslocar até Irerê. Os problemas enfrentados pelo distrito, observou a prefeitura, são “comuns a várias outras regiões da cidade, que, como um todo, vem sendo recuperada com obras” e que há um grupo de diálogo com moradores daquela localidade.

Os Correios informaram, via assessoria de imprensa, que todos os objetos postais são encaminhados para os distritos sem atrasos e que os moradores são atendidos por meio de “entrega interna em Agências de Correios Comunitárias, conforme Acordos de Cooperação Técnica entre a empresa e a Prefeitura de Londrina”, em processo de renovação. Os Correios disseram que iriam entrar em contato com o Executivo para checar o que está ocorrendo.

Porta voz da reunião, o secretário de Agricultura, Ronaldo Siena disse que o prejuízo foi grande com o bloqueio da rodovia, mas avaliou como positiva o conversa com os moradores do distrito. "O protesto não precisava acontecer dessa forma. Estou há quatro meses a frente da secretaria e nunca fui procurado pelos moradores antes". disse o secretário. Entretanto, Siena informou que a pasta já está atendendo a demanda dos moradores. "O panorama geral nós já conhecemos e o prefeito está se empenhando para resolver essa situação. Assinamos junto com os moradores uma proposta para atender os pedidos". (Colaborou Guilherme Marconi)

(Atualizado às 18h)