Distanciamento de 1,5 metro, dispenser de álcool gel, espaços de higienização das mãos, termômetros e equipes de limpeza. Essa são algumas medidas a serem tomadas nas 2.143 escolas estaduais do Paraná, se confirmar o retorno das atividades presenciais para o mês de setembro.

Distanciamento,  espaços de higienização, termômetros e equipes de limpeza são algumas medidas a serem tomadas nas escolas estaduais se confirmar o retorno das atividades
Distanciamento, espaços de higienização, termômetros e equipes de limpeza são algumas medidas a serem tomadas nas escolas estaduais se confirmar o retorno das atividades | Foto: Silvio Turra/Seed

O assunto vem sendo discutido pela Seed-PR (Secretaria de Estado da Educação do Paraná), mas depende das análises da Secretaria de Saúde, considerando o cenário da pandemia do novo coronavírus em todo o Estado. Segundo o governo estadual, uma consulta também deverá ser realizada com os pais de alunos para saber se sentem mais seguros em manter os filhos com aulas presenciais ou apenas remotamente.

A FOLHA conversou com algumas famílias e as opiniões se dividem, mas ainda há muitos questionamentos a serem esclarecidos. Emilly Yasmim Ferreira da Costa, 12, estuda em Londrina e disse que prefere estar em sala de aula. “Até me acostumei a estudar em casa, mas é muito diferente. Também sinto falta do contato com os professores e meus amigos”.

A mãe Josiane Ferreira dos Santos, que trabalha como vendedora, conta que as aulas remotas estão sendo tranquilas porque a filha já tem autonomia para estudar. No entanto, avalia que o aprendizado vem sendo prejudicado. “As aulas virtuais são mais fracas, na minha opinião. Acho que tem os dois lados nessa discussão se volta ou não as aulas. Para os alunos seria muito bom, mas enquanto não temos a cura para esta doença, não acredito que esses cuidados de higiene serão suficientes. Eu teria que avaliar se mandaria ela para a escola ou não. Ainda está tudo muito confuso”, declara.

Luzia Aparecida Balaguer, que cria o neto Daniel Aurélio, 13, conta ter muito receio do menino contrair o novo coronavírus. "Por mim, tem que manter como está por mais um tempo. A impressão que tenho é que neste momento estamos no ápice da doença e mesmo os alunos fazendo uso de máscara e sentando separados, não acho seguro", opina.

ESTUDO DA FIOCRUZ

Uma nota técnica divulgado na plataforma MonitoraCovid-19, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), aponta que a volta às aulas representa um perigo não só aos alunos, mas também às pessoas que residem no mesmo domicílio e pertencem a grupos de risco para a doença. O entendimento é de que os jovens, ao saírem de casa, poderão infectar os familiares com o vírus.

De acordo com um estudo da instituição, o perigo envolve uma população de cerca de 9,3 milhões de brasileiros (4,4% da população total) que são idosos ou adultos (com 18 anos ou mais) com problemas crônicos de saúde e que vivem na mesma casa que crianças e adolescentes em idade escolar (entre 3 e 17 anos).

“A volta às aulas pode representar uma perigosa brecha nesse isolamento. Nós estimamos, no estudo, que se apenas 10% dessa população de adultos com fatores de risco e idosos que vivem com crianças em idade escolar vierem a precisar de cuidados intensivos, isso representará cerca de 900 mil pessoas na fila das UTIs. Além disso, se aplicarmos a taxa de letalidade brasileira nesse cenário, estaremos falando de algo como 35 mil novos óbitos, somente entre esses grupos de risco”, avaliou o epidemiologista do Icict (Instituto de Comunicação e Informação em Saúde) da Fiocruz, Diego Xavier, em publicação oficial.

NO PARANÁ

Puxando os números por estados, o Paraná tem 521.330 idosos e adultos com diabetes, doença do coração ou do pulmão, e que moram com pelo menos um menor entre 3 e 17 anos. O levantamento foi feito com base na PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) 2013, que foi realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em parceria com o LIS (Laboratório de Informação em Saúde) da Fiocruz.

Considerando esse alerta, o retorno da aluna Emilly da Costa ao colégio, caso as atividades presenciais sejam retomadas, deverá ser decidido por toda a família. “Eu sou do grupo de risco porque tenho asma e moramos com minha mãe, que é idosa e tem diabetes. Fica ainda mais complicado. Vamos ter que pensar bem”, desabafou.

Na casa de Simone Cristina Amaral, as filhas Nathália e Nayara, 16, não irão retornar às aulas presenciais neste ano. “Não é o momento. Acho que o ano letivo não será recuperado e por mais que se fale em medidas de segurança, o comportamento das crianças e adolescentes é outro. Eu sou contra o retorno agora porque ainda existe o risco (de contágio do novo coronavírus)”, afirma.

'SINTO FALTA DOS AMIGOS'

Em Londrina, o prefeito Marcelo Belinati estendeu a suspensão das atividades escolares na rede pública e privada até o dia 31 de agosto. O decreto anterior estabelecia o prazo até 31 de julho. De acordo com o prefeito, a decisão foi pautada por análises de médicos especialistas da secretaria municipal de Saúde.

“Não tenho como afirmar quando as aulas presenciais voltam, pois vai depender de como vai evoluir a pandemia em Londrina”, disse, em transmissão on-line. Dentro de um mês a questão será novamente debatida para reavaliar a necessidade de prorrogar ou não a suspensão.

Ao todo, Londrina tem cerca de 100 mil alunos nas redes pública e privada de ensino. Somente na rede municipal são 44 mil. Para a dona de casa Eliana dos Santos, que tem três filhos em idade escolar, os estudos em casa continuam sendo a melhor opção. “Sou contra o retorno agora. Tenho um filho pequeno, de 4 anos, que ia na creche, mas eu jamais mandaria ele para a escolinha. Meu medo é que eles peguem essa doença porque eu sei que muita gente tem o vírus, mas não tem sintoma. É um perigo”, comentou.

SEM PROBLEMA

Já a auxiliar administrativo Karina Cristina Ambar, mãe de três filhos, acredita que não haveria problema na reabertura das escolas. “Meus meninos se cuidam super bem e acho que estamos correndo o risco em todos os lugares. Se as aulas voltassem agora, creio que meus filhos voltariam à escola sim", disse. O filho João, 10, completou que é ruim estudar em casa. “Eu prefiro estar na escola porque em casa eu me desconcentro muito, principalmente com meu irmãozinho. Também sinto falta dos meus amigos e professores”.