Um homem que dirige um quilômetro na contramão, rádio de veículo que liga sozinho e dinheiro na cueca estão entre notícias reais publicadas no jornal Folha de S.Paulo e que serviram de pano de fundo para a imaginação de Moacyr Scliar. “Histórias que os Jornais não Contam” reúne 54 crônicas publicadas pelo autor entre os anos 2004 e 2008 no jornal. O livro está entre as dez obras exigidas pelo Vestibular da UEL (Universidade Estadual de Londrina) de 2021 e 2022 e foi discutido no Clube de Leitura promovido pela FOLHA.

O autor, Moacyr Scliar, utiliza notícias reais e recria histórias em cada crônica: linguagem e tema atuais
O autor, Moacyr Scliar, utiliza notícias reais e recria histórias em cada crônica: linguagem e tema atuais | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

O autor utiliza notícias reais e recria histórias em cada crônica. Com textos curtos e temáticas contemporâneas, Scliar, que era médico sanitarista, relata o cotidiano intercalando entre humor, crítica e um toque de lirismo. “O fato de ele ser médico, com esse cotidiano de conhecer várias pessoas, várias famílias, várias histórias é uma coisa que serve muito de recheio para crônica, que é o gênero que ele escreveu”, comenta Camila Nakamura Vieira, mestranda em Estudos Literários, pela UEL, convidada para analisar a obra.

Scliar era gaúcho, descendente de judeus, médico sanitarista, professor universitário e autor produtivo, com mais de 70 obras publicadas e traduções para 12 idiomas diferentes. Com produção diversa permeando entre crônicas, contos, romances, ensaios e literatura infanto-juvenil, o autor foi premiado e se tornou membro da Academia Brasileira de Letras em 2003. Em 2011, Scliar despediu-se do mundo após intercorrências de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), completando dez anos de sua morte em fevereiro deste ano.

Por ser obra contemporânea, as crônicas da obra exigida pela UEL têm linguagem e temas atuais. “Eu acho que quando cai um livro de crônica no vestibular, o pessoal fica um pouco assustado, porque você vê que está escrito que tem 54 textos, mas é uma leitura muito tranquila, inclusive, para quem está em dúvida em como começar a ler, sempre é bom começar pela crônica, porque é uma leitura bem despretensiosa, pode te ajudar bastante a criar ritmo para os próximos livros”, indica a mestranda.

Tecnologia, relacionamentos virtuais, crítica social e política são temas recorrentes na obra. “Não acho que ele escreveu pensando em conglomerar essas crônicas em temas, mas acaba tendo algumas semelhanças, universos semelhantes, e a maioria delas dá para reunir em temas maiores, como a crítica social e política”, explica Vieira.

Como exemplo ao tema, cita a crônica Cueca-Cofre, que tem como pano de fundo a notícia de um empresário, réu do mensalão, tentando entrar no Brasil com dinheiro não declarado na cueca. A partir desse fato, Scliar escreveu a história de um homem, Severino, que sonhou em tornar-se um rico empresário fabricando cuecas e, para fortalecer a empresa, imaginou uma cueca-cofre, que seria confeccionada com tecido metálico flexível, que só seria aberta por meio de um segredo. Em seus devaneios, Severino até considera parcerias com bancos para fazer o dinheiro render.

Histórias que os Jornais não Contam é a décima obra discutida pelo podcast Clube de Leitura Vestibular 2021/2022, da FOLHA, encerrando o ciclo de leituras para o Vestibular da UEL 2021 e 2022. Além dos áudios, que estão disponíveis no Spotify e SoundCloud, o Clube consiste em uma comunidade aberta e gratuita de vestibulandos e entusiastas da literatura no Telegram, ambiente em que se compartilha conteúdos relacionados ao concurso, além de sorteios de livros.

SERVIÇO

Para ouvir essa análise e das outras nove obras do podcast, acesse o link: https://www.folhadelondrina.com.br/colunistas/podcast-folhacast/clube-leitura-vestibular-uel

Para participar do canal do Clube de Leituras no Telegram, acesse pelo link: t.me/joinchat/QrI2OhxM3PXu7UOPknmceA

Lista de obras para os Vestibulares da UEL - 2021 e 2022

1. Agualusa, Jose Eduardo. O vendedor de passados. São Paulo: Tusquets, 2018.

2. Andrade, Mário de. Contos novos. Nova Fronteira, 2015.

3. Azevedo, Aluísio. Casa de pensão. São Paulo: Martin Claret, 2013.

4. Barreto, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Martin Claret, 2011.

5. Branco, Camilo Castelo. Amor de perdição. São Paulo: Melhoramentos, 2013.

6. Collin, Luci. A palavra algo. São Paulo: Iluminuras, 2016.

7. Guarnieri, Gianfrancesco. Eles não usam black-tie. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.

8. Jesus, Carolina Maria de. Quarto de despejo. São Paulo: Ática, 2019.

9. Matos, Gregório de. Poemas escolhidos de Gregório de Matos. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

10. Scliar, Moacyr. Histórias que os jornais não contam. Porto Alegre: LPM editores, 2017.

OUÇA:

Folha de Londrina · CLUBE DE LEITURA 28 - 02 - HISTÓRIAS QUE OS JORNAIS NÃO CONTAM