Sem doenças pré-existentes, com uma vida sem consumo de bebidas alcoólicas e cigarro, o segurança londrinense Fábio de Souza, 34, viveu dias de apreensão por conta do coronavírus. Foram 15 dias de internamento em leito clínico do HU (Hospital Universitário) até ser liberado para isolamento domiciliar, que começou em 8 de abril. “É muito sério. Nunca fiquei doente desta maneira, de ficar internado. Fiquei assustado”, afirma. A FOLHA traz histórias de pessoas que venceram a Covid-19 ou estão se recuperando.

"Fui muito bem atendido, só tenho a agradecer", diz Fábio de  Souza, sobre equipe do HU
"Fui muito bem atendido, só tenho a agradecer", diz Fábio de Souza, sobre equipe do HU | Foto: Arquivo pessoal

Os primeiros sintomas surgiram na manhã de 8 de março - dor no corpo e febre -, quando procurou a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do jardim Sabará, na zona oeste. Foi atendido pelo médico com a suspeita de dengue. O exame deu negativo, entretanto, a hipótese persistiu e a recomendação foi de fazer o teste do laço durante cinco dias para confirmação ou não do diagnóstico.

Antes de completar o período os sinais pioraram e o panorama que apontava para dengue mudou completamente. “No domingo acordei com o corpo ruim, tosse e no que tossia veio a falta de ar. Puxava, parecia que o ar entrava, mas não conseguia respirar. Foi como se trancasse a respiração por dentro”, relembra. A tosse passou a vir com sangue, o que preocupou ainda mais.

O segurança ligou para um colega que trabalha no Samu, que o orientou a acionar diretamente o socorro, já que não tinha condições de ir sozinho a uma unidade de saúde. “Me levaram na UPA e colocaram numa área reservada a casos suspeitos de coronavírus. A falta de ar piorou e disseram que teria que ser transferido para o HU”, conta.

O Samu novamente foi chamado e fez o transporte adotando os protocolos de segurança. “Tive crise de falta de ar e até vomitei. Fui para uma área de isolamento, quarto sozinho, e aplicaram os medicamentos”, relata. De acordo com Souza, os três primeiros dias de internamento foram de sofrimento. “Foram os piores dias da minha vida. O médico disse que mais um dia que não melhorasse teria que ir para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva)”, classifica.

O segurança relata que a febre foi constante ainda por algum tempo, porém, estabilizou a situação clínica posteriormente. “Fiquei com oxigênio. No começo foi alto, mas depois diminuíram. Somente no décimo dia consegui voltar a andar, ir ao banheiro, tomar banho, conversar, fazer fisioterapia pulmonar. Fiquei com o organismo bem frágil, tremia. A hidratação ajudou muito”, afirma.

ISOLAMENTO

Atualmente no isolamento domiciliar, Souza está num quarto com banheiro exclusivo na casa mãe. A escolha foi porque a casa tem mais cômodos, ao contrário da residência onde vive com a mulher e os filhos (de dois e nove anos), que tem dois quartos. A quarentena foi indicada por segurança.

“É muito ruim (o isolamento). Trabalho em dois empregos, chegava em casa e ficava com meus filhos. A menina de dois anos é muito apegada a mim, a esposa sempre ao meu lado. É praticamente um mês longe deles. Falo pelo celular, mas não é o mesmo que estar junto. Outros familiares querem dar apoio físico neste momento, mas não é possível”, reconhece. Quando o resultado deu positivo para Covid-19 a família foi observada, no entanto, ninguém apresentou sintomas.

Os dias têm sido preenchidos vendo as redes sociais e com leitura, principalmente de jornal. Depois da passagem pelo hospital e vendo a realidade dos atendimentos, acredita que as medidas de isolamento adotadas em Londrina foram acertadas. “Quanto entrei tinha 13 pessoas internadas. Teve gente que saiu, entrou, faleceu. Imagina o comércio aberto, as pessoas circulando, tendo contato, o que poderia acontecer. Foi importante”, reflete.

Ele não viajou nas últimas semanas e não teve contato com indivíduos com confirmação para a doença. A suspeita é de que a transmissão tenha sido comunitária.

GRATIDÃO

Grato pela recuperação e ciente de que adotará ainda mais medidas de segurança e higiene quando sair do confinamento, Souza faz questão de destacar os cuidados recebidos no HU. “Os enfermeiros iam diversas vezes no quarto ver como estava, se tinha falta de ar. O médico passava constantemente para observar. A alimentação era controlada e correta, todo o dia tiravam sangue para ver a evolução. Fui muito bem atendido, só tenho a agradecer.”