Petiatras levam alegria para instituições de Londrina
Projeto existe desde 2016; especialista analisa os benefícios gerados com a relação de animais e pessoas
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 07 de janeiro de 2022
Projeto existe desde 2016; especialista analisa os benefícios gerados com a relação de animais e pessoas
Mariana Sanches Otta - Especial para a FOLHA
Poderia ser um dia normal no Caps 3 (Centro de Atenção Psicossocial) de Londrina, com pacientes aguardando atendimento, salas de terapia ocupacional em plena atividades e acompanhantes na entrada da unidade. Mas o ambiente muda assim que Zara e Princesa entram guiadas pela tutora Carol Thomaz Aquino. As Petiatras atraem olhares, sorrisos e, em poucos minutos, se tornam o centro da atenção de funcionários, pacientes e acompanhantes.
Apesar do ar descontraído, as duas cachorras estão ali para fazer um trabalho muito sério: levar alegria para quem precisa. Fundando em 2016, o Petiatras é um projeto que busca proporcionar um momento de descontração para diferentes instituições da cidade (Caps, hospitais, Cense e ONG Viver) e precisou ser interrompido com o início da pandemia da Covid-19, em 2020. Com a melhora do cenário e o avanço das vacinas, os Petiatras voltaram a atender no Caps e, em breve, pretendem voltar a marcar presença nos outros locais.
Aquino relembra que o projeto nasceu após um encontro de Goldens Retrievers. “Alguns tutores desses Goldens, entre eles eu, vimos que eles eram muito amorosos e quisemos que esse amor não ficasse só em casa! Assim, eu, a Zara e mais três tutores começamos a ir ao Hospital Universitário de Londrina e na ONG Viver em novembro de 2016”, recorda.
PERFIL PARA SER PETIATRA
Com o avanço do projeto, muitos tutores de cachorros se interessaram pela ideia e entraram em contato com o grupo para que seus pets pudessem fazer parte dos atendimentos e visitas. Porém, é necessário um perfil específico para ser um Petiatra. De acordo com Aquino, não basta apenas ser bonzinho e sociável, o cachorro precisa ser obediente ao dono, ser calmo e saber lidar com as rotinas de visitas, afinal são públicos diversos que são atendidos pelo projeto.
O grupo faz uma triagem rigorosa. “A gente não tem uma veterinária responsável no projeto, então cada cachorro tem que ser castrado e dar a carteirinha atestando que a saúde está ok, com vacinas em dia. Depois, vem uma triagem de socialização, tanto para o tutor quanto para o cachorro, que vão em duas visitas com os Petiatras para ver como o animal se comporta”, explica Aquino.
DIFERENTES PÚBLICOS
Já os tutores precisam estar cientes das diversas situações que irão encontrar nas visitas. Aquino reforça que os participantes do projeto precisam reconhecer a seriedade do trabalho e estarem abertos aos diferentes públicos. “Tentamos atender várias pessoas diferentes, porque pensamos assim: o cachorro não faz distinção de gente, em qualquer lugar, seja aqui no Caps, em um shopping ou onde for, ele vai tratar igual. O cachorro não julga, então a gente não está ali para julgar. A gente está no Petiatras porque acredita que esse momento é um momento que pode ser diferente na vida de alguém, que pode trazer uma felicidade ou um alívio”, enfatiza.
TRABALHO NO CAPS
Implantado em 1996, o Caps 3 conta com atividades que têm como objetivo a reabilitação psicossocial dos pacientes em sofrimento psíquico, visando promover maior grau de autonomia e interação social. A sede ainda conta com seis leitos de acolhimento noturno e de curta permanência. Entre as diversas atividades promovidas no Centro, a visita dos Petiatras é uma das mais aguardadas pelos pacientes.
O atendimento no Caps é realizado a cada 15 dias, sempre com dois cachorros e o tutor e dura em média 40 minutos. Aquino percebe a melhora e uma mudança no comportamento dos pacientes assim que os tutores chegam com os animais. “Eu vejo a alegria deles (pacientes)! Eles esperam, sabem o nome dos cachorros e os Petiatras também conhecem cada um deles, tanto é que vão pedir carinho”, afirma.
A assistente social e coordenadora do Caps 3, Juliana Perez Moreira Baratto, explica que as visitas são sempre acompanhadas por um psicólogo, terapeuta ocupacional, enfermeira ou assistente social, que faz a interlocução dos pacientes. “A gente deixa livre para aqueles que querem participar da oficina ou não, mas é muito difícil quem recuse o convite”, enfatiza.
De acordo com Baratto, muito pacientes têm ganhos com a intervenção com os cachorros. “A gente trabalha com pacientes psiquiátricos com transtorno mental grave. Eles apresentam muito a questão do enlutamento, de uma introspecção, dificuldade de expressar os sentimentos e emoções de forma oral e o animal possibilita isso por uma outra via, em especial o desenvolvimento da questão afetiva e do toque”, explica.
'OS ANIMAIS NÃO SÃO PRECONCEITUOSOS'
A interação entre animais e pessoas aumentou significativamente nos últimos anos. A configuração desse relacionamento também mudou. Hoje, é comum que um pet seja considerado membro da família e tenha várias regalias dentro e fora de casa. Segundo a psicóloga Stephanie Temistocles, um animal é uma boa companhia e estimula diversas sensações de bem-estar e diminui o estresse.
Segundo a profissional, “utilizar animais devidamente treinados, tranquilos e saudáveis como recurso terapêutico em intervenções assistidas pode ser benéfico para as pessoas de todas as idades. Esses programas, como o Petiatras, podem ser utilizados como recursos lúdicos para a estimulação física, social, cognitiva e psicológica”.
Atendimentos em instituições como o Caps ajudam a estimular a empatia, o cuidado e a demonstração de afeto de pacientes psiquiátricos, de acordo com Temistocles. “Os animais não são preconceituosos e manifestam afeto espontâneo, o que pode encorajar diversos comportamentos dos pacientes que possuem algumas dificuldades. Pessoas com transtornos depressivos, por exemplo, precisam de incentivos para voltar a ter iniciativas e se sentirem bem novamente”, explica.
Porém a profissional reforça que “os tratamentos psiquiátricos devem ser considerados de maneira única para cada paciente, pois os transtornos psiquiátricos são multifatoriais. Uma avaliação prévia é necessária para levar em conta esse tipo de recurso, e ele deve ser aplicado desde que não haja quaisquer prejuízos para o paciente e tenha um bom prognóstico para o tratamento”.
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