Uma pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UEL (Universidade Estadual de Londrina) quer identificar hábitos de caminhada dos londrinenses e a percepção sobre seus bairros. O objetivo é subsidiar políticas públicas para melhoria da cidade. Para isso as pesquisadoras precisam da colaboração dos londrinenses na resposta ao questionário.

"É muito bom ver a paisagem, o movimento das ruas, as pessoas pelo bairro", diz José Adalto Silva
"É muito bom ver a paisagem, o movimento das ruas, as pessoas pelo bairro", diz José Adalto Silva | Foto: Micaela Orikasa - Grupo Folha

"O nosso objetivo principal é entender o que motiva as pessoas a caminharem, por onde elas estão caminhando e como é o ambiente que elas estão fazendo isso. Queremos saber se elas se sentem seguras nesses locais e se sentem motivadas a caminhar”, detalha a mestranda Ayla Ziger, acrescentando que o questionário é uma parte da pesquisa. “Nós vamos cruzar esses dados do questionário com uma avaliação do ambiente construído para saber exatamente como é esse local que as pessoas mais caminham.” Além dela, a pesquisa é responsabilidade da doutoranda Ana Luiza Favarão Leão. Elas são orientadas pela professora Milena Kanashiro,

O trabalho consiste ainda em fazer uma contagem de pedestres para saber se realmente há muitas pessoas caminhando nos locais indicados. “Nessa primeira etapa do questionário a gente coleta os dados das rotas de caminhada relacionadas à quantidade e o motivo desse deslocamento. Combinado com a percepção desses pedestres pelo ambiente que elas passam, a gente consegue saber se a estrutura daquele local está atendendo as expectativas e se está propiciando uma boa qualidade de vida para as pessoas.”, explicou Ziger.

O processo de captação das respostas do questionário está planejado para ser realizado até o fim de agosto. “Mas tudo depende de quantas respostas vamos conseguir nesse período, precisamos de em torno de 550 para ter uma pesquisa de confiabilidade boa", disse. Segundo Ziger, a expectativa é que até o fima do ano os dados estejam analisados e tabelados.

REFLEXO DA PANDEMIA

A pandemia de coronavírus obrigou as pesquisadoras a reformular o modo de aplicação do questionário. “A gente estava planejando aplicar pessoalmente na casa das pessoas, mas por conta da pandemia mudou para um questionário virtual. Também inserimos algumas questões para saber se a pandemia afetou essa rotina de caminhada", detalhou. "Temos alguns dados que indicam que, pelo menos no início da pandemia, havia uma maior atividade física na rua, porque as pessoas não podiam ir para academia. Mas em compensação não tinha mais gente indo para a escola ou para o trabalho a pé, porque as aulas passaram a ser a distância e o trabalho em home office."

As perguntas foram obtidas de um formulário que já foi validado internacionalmente e aplicado em muitos lugares de diversas cidades em muitos países. “Isso possibilita que a gente compare a percepção com outras cidades para entender qual é a relação das pessoas com o ambiente que elas vivem e com o ambiente em que elas caminham”, destacou Ziger.

Imagem ilustrativa da imagem Pesquisa da UEL quer identificar hábitos de caminhada dos londrinenses
| Foto: Divulgação/Aya Ziger Dalgallo e Ana Luiza Favarão Leão

COMO PARTICIPAR

Os documentos foram aprovados no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina, conforme parecer nº 4.759.281 e o link para o questionário está no endereço https://arcg.is/05HrXW . Ele também está sendo divulgado nas redes sociais do grupo de pesquisa Design Ambiental Urbano.

CIDADE MAIS SUSTENTÁVEL

A doutoranda Ana Luiza Favarão Leão, uma das pesquisadoras sobre o hábito de caminhada dos londrinenses, lembra que já existe um plano de mobilidade urbana realizado nos anos 2019 e 2020. Porém, a grande virtude que esse trabalho busca não é só levantar dados sobre o deslocamento origem e destino, que é o que o plano de mobilidade faz. “Estamos tentando verificar a percepção das pessoas. É entender com mais profundidade de que forma e por que as pessoas se deslocam.”

Indagada se o tamanho das quadras ou relevo influenciam nesse deslocamento, ela confirma que as quadras maiores, como as existentes no Jardim Shangri-lá B (zona oeste) ou no Lago Parque (região central) são uma das características da cidade que mais influenciam no deslocamento. “Mas existem outras características que a gente está buscando entender." Leão reforça que as melhorias na infraestrutura, principalmente na iluminação, influenciam também a percepção de segurança e o desejo de caminhar.

A orientadora das duas pesquisadoras, professora Milena Kanashiro, explica que o que está por trás de tudo isso é uma discussão de uma cidade mais sustentável que a pessoa possa alcançar no seu cotidiano caminhando. “Você faz uma atividade física natural que também aumenta a sua qualidade de vida. A gente vem tentando entender o que está por trás disso, como a cidade pode suportar, inibir ou facilitar esse deslocamento a pé. Com esse questionário on-line será possível entender um pouquinho mais esses hábitos."

Ela explica que se houver acesso fácil às compras, em que não é necessário pegar um ônibus ou um carro, se espera que as pessoas caminhem mais. “A gente depende muito da quantidade de questionários respondidos para entender os bairros em que as pessoas estão e se há esse sentimento de territorialidade com os bairros. As pessoas geralmente gostam de bairros em que caminham mais e se sentem seguras.”

“A gente espera trazer várias questões justamente para entender, a partir desses hábitos de caminhada, quais são os bairros mais caminháveis de Londrina e o que se poderia dar mais atenção. Como a gente poderia pensar numa cidade e assim prospectar um pouco mais para frente para permitir que isso aconteça?”, colocou Kanashiro. “O que está por trás disso é entender um pouco tudo isso e se isso se traduz para uma diretriz de melhoria fácil e menos onerosa. A gente não vai transformar uma área inteira, mas a gente vai conseguir de uma certa maneira dar diretrizes para a gente tornar alguns lugares muito mais caminháveis”, destacou.

Maryune Zenti diz que prefere fazer muitos deslocamentos a pé
Maryune Zenti diz que prefere fazer muitos deslocamentos a pé | Foto: Micaela Orikasa - Grupo Folha

'ME AJUDA A ESPAIRECER'

Apesar de ter um veículo à disposição, Maryune Zenti diz que prefere fazer muitos deslocamentos a pé como, por exemplo, para ir às aulas de pilates, ao supermercado e à Igreja. A jovem, que mora no jardim do Sol, na zona oeste de Londrina, caminha cerca de meia hora, pelo menos três dias na semana. "É uma escolha minha porque a caminhada me ajuda a espairecer e a organizar as ideias, além do fato de que caminhando, eu evito o trânsito", conta Zenti, que para deslocamentos mais longos, opta pela bicicleta. Dessa forma, as melhorais na questão do percurso deveriam, segundo a jovem recém-formada em Direito, incluir novas ciclovias.

O trajeto que Zenti percorre semanalmente inclui a passagem pelos largos quarteirões do jardim Shangri-lá B, também na região oeste. "Não me importo pela distância. Estou acostumada a andar e a passar por esse bairro. Acho seguro porque as calçadas são largas, o bairro é residencial e tem pouco trânsito de veículos", justifica.

'É MUITO BOM VER A PAISAGEM'

Na rotina do aposentado José Adalto Silva, a caminhada também é uma escolha. "Tenho carro e moto, mas não deixo de fazer minha caminhada diária. Criei esse hábito desde que me mudei para o bairro, há cinco anos", conta o morador do jardim Alvorada, também na zona oeste. Para Silva, a prática faz parte dos cuidados com a saúde, especialmente a mental. "É muito bom ver a paisagem, o movimento das ruas, as pessoas pelo bairro. É por isso que gosto de ir mudando o caminho. No início da pandemia, tive pânico e não conseguia sair de casa. Estou me tratando e caminhar tem me ajudado muito", diz.

Das ruas do bairro, Silva segue até o Vale do Rubi. "É um trajeto seguro, até porque há mais pessoas caminhando, especialmente no final da tarde. Mas as calçadas irregulares se tornam obstáculos em alguns trechos, nos obrigando a transitar pelo asfalto", afirma. (Colaborou Micaela Orikasa)