Gelson Luís Corazza
De Francisco Beltrão
Especial para a Folha
O projeto de educação em período integral era para ser implantado em 10 anos, no período de 1997 a 2007, e fazia parte da plataforma de governo do ex-ministro e então candidato a prefeito de Pato Branco, Alceni Guerra (PFL). A proposta inicial era que o Centro de Apoio Integral à Criança (CAIC) fosse utilizado como piloto na experiência de implantar um sistema educacional onde o aluno entrasse pela manhã, tivesse os conteúdos normais e, à tarde, participasse de atividades de reforço escolar e conteúdos adicionais que proporcionassem uma melhor formação educacional e humana.
Quando o projeto foi apresentado aos professores municipais, no final de 1996, o próprio Alceni surpreendeu-se com a adesão à idéia. ‘‘Professores ousados nos desafiaram para implantação simultânea em todas as escolas do município. Solicitaram apenas transporte e alimentação. Aceitamos o desafio, porque o homem que acredita no impossível, faz’’, diz o prefeito.
A partir daí o Projeto Ensino em Tempo Integral começou a ser colocado em prática. Já que as crianças teriam que ficar durante todo o dia na escola, um dos maiores desafios era garantir alimentação para elas. Esta dificuldade foi superada com mais facilidade do que se imaginava. Com a verba do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), de cerca de R$ 190 mil por ano, mais o apoio de empresários, da comunidade e as hortaliças colhidas nas hortas de cada escola, a prefeitura garante alimentação para toda a rede municipal.
Hoje as escolas oferecem pelo menos quatro refeições diárias a cerca de 7.200 alunos da rede municipal e também alguns alunos da rede estadual. Em algumas escolas de bairros mais carentes, são servidas até cinco refeições. No final da tarde, as crianças tomam uma sopa que utiliza também a multimistura criada pelas líderes da Pastoral da Criança.
‘‘Muitas crianças saem da escola à tarde e só voltam a comer no outro dia novamente na escola’’, garante a secretária municipal de Educação, professora Ana Séres Trento Comin. No primeiro ano de implantação, percebeu-se um aumento significativo no custo da folha de pagamento, já que o município precisou contratar mais professores para atender à demanda.
Em 1997, Pato Branco investiu 40% de sua receita em educação. Hoje, com o projeto em andamento, o investimento é de 28%. O município aplica R$ 590,00 por aluno/ano, enquanto a média no Paraná é de R$ 420,00. A idéia foi inspirada nos CAICs do governo Collor – do qual Alceni foi ministro – que se baseou nos CIEPs do então governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola. Pensava-se à época que este sistema de ensino traria bons resultados a médio e longo prazos. Mas em Pato Branco a prática trouxe resultados imediatos. ‘‘Nos postos de saúde, por exemplo, constatou-se uma redução de 70% no número de atendimentos a crianças’’, afirma a secretária Ana Séres.
Ela garante ainda que a convivência por um período maior melhorou o relacionamento entre as crianças e destas com os professores. Nas escolas a depredação do patrimônio público diminuiu, assim como a criminalidade. A prefeitura garante que não há crianças nas ruas e os índices de evasão e de reprovação são praticamente nulos.
A diretora da Escola Municipal Irmã Dulce, Marilene Gugelmin, mostra com orgulho o rendimento dos seus alunos e explica que no último ano apenas uma aluna reprovou. ‘‘É impressionante a melhora no aprendizado’’, diz.
A falta de espaço físico para o desenvolvimento das atividades extras é um dos principais obstáculos do ensino em tempo integral. Num bairro da cidade, um antigo bailão agora é utilizado pela escola para as suas atividades. Em outras, o hall é usado na hora do almoço como refeitório e como sala para desenvolvimento de projetos.
Na Escola Irmã Dulce, a diretora diminuiu o hall e, com divisórias, construiu mais duas salas de aula. Algumas séries têm aulas normais pela manhã e projetos à tarde. Outras fazem o oposto, para aproveitar o espaço físico.
A constatação da secretária municipal de Educação é que, a partir do ensino integral, melhorou a relação dos pais com a escola. A falta de espaços físicos faz a comunidade vencer desafios. ‘‘Ganhamos o envolvimento dos pais e isso não esperávamos’’, comemora Ana Séres.
O resultado do tempo integral junto à rede municipal, incentivou a implantação também nas escolas estaduais, onde a adesão é parcial. O governo estadual aprovou a idéia desde que isso não significasse aumento nas suas despesas. Novamente a comunidade foi chamada e hoje 22 professores realizam projetos nas escolas estaduais e têm seus vencimentos pagos por empresários da cidade.Experiência iniciada em 96 nas escolas municipais beneficia cerca de 7 mil alunos com ensino, alimentação e outras atividades
Fotos Jacir WalterNUTRIÇÃOEm algumas escolas os alunos fazem até cinco refeições, inclusive com a farinha multimisturaAulas de capoeira, música, dança e informática estão entre as atividades que as crianças desenvolvem depois do período das aulas normaisFalta espaço para acomodar o crescente número de alunos