Quando as portas dos comércios se abaixam, saem os trabalhadores e entram os moradores do Centro Histórico de Londrina. Andando com seus pets, o entorno do Calçadão vira bairro, momento de trocar conversa com o vizinho, compartilhar críticas locais e pensar em possíveis e até pequenas soluções. Algumas foram aplicadas pelos moradores do Edifício Arthur Thomas, localizado em frente à Praça 7 de setembro. Lá, os vizinhos se uniram para distribuir gratuitamente saquinhos para pets, cuidar das floreiras, espalhar caixas de areia para bitucas de cigarro e até reivindicar melhorias na praça.

Uma mensagem gentil acompanhada de sacos plásticos: ideia é não agredir as pessoas
Uma mensagem gentil acompanhada de sacos plásticos: ideia é não agredir as pessoas | Foto: Roberto Custódio

A mensagem é gentil: “Esqueceu? Pode usar para recolher as fezes do seu cão”, diz a plaquinha acima do suporte para sacos plásticos. “A ideia não é agredir a pessoa, porque às vezes não é proposital, talvez ela desceu com um saquinho e precisou de outro, já aconteceu comigo. A ideia é ajudar em situação de emergência e não deixar as pessoas constrangidas”, menciona Lucia Leôncio, 55.

A gerente administrativa foi responsável e patrocinadora da ideia. É ela quem banca os custos com os saquinhos, distribuídos na grade do prédio com a autorização da síndica. “No início, houve resistência, com três ou quatro suportes violados, até que a gente pensou em colocar a argola metálica para segurar”, comenta a síndica Suely de Paula Baccarin, 54, que atua com Cláudia Araújo, 55, na administração do condomínio. Os saquinhos são bem utilizados e repostos uma vez por mês.

Em uma tarde de sábado, Solange Gaya de Oliveira, que mora em outro edifício na região, passeava com seu cachorro até encontrar as colegas na calçada. “Eu saio com meu cachorro três vezes por dia e sempre com uma sacolinha, porque é importante”, relata. Apesar de já ter visto essa ação em outros locais e cidades, considera a atitude relevante. “É uma dica excelente, eu não tinha visto aqui ainda, poderia ser mais adotado”, comenta o gesto.

A ação não é isolada, as moradoras afirmam que é preciso praticar mais o bom relacionamento e incentivar atitudes que colaborem com a comunidade como um todo. “A gente sempre trata disso junto. Cuidar do jardim, fazer melhorias, parcerias com as lojas vizinhas, a Suely pediu para arrumar a calçada da praça e agora estão trabalhando”, aponta Leôncio. “Mesmo tendo a prefeitura, eles não têm olho para tudo”, acrescenta.

As floreiras também são cuidadas pela auxiliar administrativa: plantar, regar, podar, são atividades rotineiras para ver o local mais bonito. “Ela faz isso todo dia de manhã e à tarde e quando vai viajar me dá essa incumbência”, ri a síndica. Por ver as bitucas de cigarro sujando as floreiras, decidiu investir em caixas de areia para que as pessoas encontrassem um local mais apropriado. Algumas não deram certo, acumulando mais sujeira. Uma sobrou, porque foi adotada por um estabelecimento comercial, que faz a limpeza todos os dias.

Desses encontros surgem as ideias e proximidade para discutir os assuntos mais sérios, levados depois para as reuniões de associações comunitárias. Assim nascem as ações por uma vizinhança melhor. “Não temos que olhar só para dentro do nosso apartamento, só o nosso prédio, temos que olhar para fora também”, fala a síndica. “A gente que mora em prédio, a calçada e o bairro são o nosso quintal”, acrescenta Leôncio.

Olhar para fora, manter o bom relacionamento com o vizinho e com o ambiente faz bem para as moradoras. Para elas, cuidar do entorno e viver em paz com a comunidade traz tantos benefícios para todos que não se calcula esforço. “São pequenas atitudes que não prendem muito você. Cuidar do jardim, tirar o lixo, interagir com órgãos públicos, lógico que despende tempo, mas vale a pena. Tudo por um bem comum”, defende Baccarin.