Para alguns brasileiros, o Paraguai é uma terra de oportunidades. O parananese Romildo Maia de Souza, de 35 anos, pode ser apontado como o melhor representante desse grupo: além de acumular riqueza, ele também conseguiu o poder político, coisa rara para estrangeiros em qualquer país do mundo.
Em dezembro de 1996, com apenas 33 anos, Maia se tornou o primeiro - e até agora único - estrangeiro a governar um município paraguaio. Ele foi eleito prefeito de San Alberto, um município agrícola com cerca de 25 mil habitantes, no departamento (o equivalente a Estado) de Alto Paraná, a 88 quilômetros da fronteira com Foz do Iguaçu.
San Alberto é um ‘‘enclave’’ brasileiro no Paraguai - mais de 80% da população é imigrante. Talvez por isso, Maia garante que não sente saudades do Brasil. ‘‘O Paraguai é um país acolhedor. Quando volto do Brasil e cruzo a Ponte da Amizade, me sinto em casa’’, afirma.
Ney de SouzaInfra-estruturaRua principal de San Alberto, a primeira a receber pedras irregulares; apenas 12% das casas são servidas por água e não há esgotosNascido em Umuarama, Maia, o caçula da família, emigrou para o Paraguai em 1968, aos 5 anos, com os pais e oito irmãos. Seu pai, João Maia, deixou o Brasil por ‘‘vergonha’’, depois que a mercearia de sua propriedade, no distrito de Carboneira, faliu. Primeiro, a família comprou um sítio de 17 hectares, onde produziu menta e café. Depois, mudou-se para a cidade e retomou a atividade comercial.
‘‘Vendi picolé e banana para ajudar no orçamento da família’’, lembra Maia. O esforço deu resultado. A família progrediu. Hoje Maia tem duas fazendas - uma com 1.500 e a outra com 500 hectares -, duas cerealistas de compra de soja (cujos armazéns podem armazenar 28 mil toneladas do produto), um supermercado, um posto de gasolina, a maior loja de materiais de construção e a primeira emissora de rádio da cidade, a FM 93. O prefeito não quis revelar à Folha o valor de seu patrimônio.
Na política, Maia se aliou ao grupo que domina o Paraguai há mais de 50 anos: o Partido Colorado. Filiou-se à legenda logo depois de obter a naturalização paraguaia, em 93. Candidatou-se pela primeira vez em 96, quando foi eleito intendente (prefeito), para um mandato de cinco anos. ‘‘Cresci aqui e achei que poderia ajudar a melhorar as coisas’’, afirma, para explicar a razão que o levou a ingressar na política.
Hoje, o ‘‘brasiguaio’’ se considera totalmente integrado à política paraguaia e garante não sofrer discriminação. ‘‘O vice-presidente (Angel Roberto Seifar) já jantou em minha casa duas vezes’’, conta, com orgulho. Nessas visitas, Seifar conheceu a mulher de Maia, a também paranaense, de Assis Chateaubriand (Oeste do Estado), Íris Regina da Veiga, de 28 anos, e as três filhas do casal: Sabrina, 9, Taís, 5, e Gláucia, de 2 anos.
Apesar de não ser considerado pobre para os padrões paraguaios, o município administrado por Maia, emancipado há quatro anos, tem um orçamento anual de apenas 6,7 bilhões de guaranis (o equivalente a R$ 2,4 milhões). Apenas 12% das casas da cidade são servidas por água. Não há sistema de esgoto. Só agora a municipalidad (prefeitura) está iniciando a pavimentação da principal avenida da cidade.
As escolas e o sistema de saúde são precários. Para vacinar as crianças do município este ano contra a paralisia infantil, ele recorreu à Embaixada brasileira, em Assunção, que doou 3 mil doses de vacina. Apesar de ter estudado apenas até a sexta série, Maia diz que adotou a educação como prioridade. Ele já construiu três escolas e reformou outras cinco.