O pior dos cenários em relação à dengue já se instalou no Paraná. Os números de casos confirmados e notificações não param de crescer e as ações de combate estão sendo revistas pelas autoridades municipais e do Estado. “Estamos tendo, comparativamente aos anos anteriores, a maior incidência em relação ao mesmo período. Nossa preocupação é o que pode vir pela frente se não tomarmos medidas de remoção mecânica dos criadouros”, afirma Ivana Belmonte, coordenadora da Vigilância Ambiental da Sesa (Secretaria de Estado de Saúde).

Imagem ilustrativa da imagem Paraná ‘vive’ o pior cenário da dengue
| Foto: Luis Robayo -AFP

No boletim epidemiológico da Sesa sobre a dengue, publicado na terça-feira (14), o número de casos confirmados da doença chega a 6.068 em todo o Estado. Ao todo, são 25.551 casos suspeitos e, destes, 7.462 estão em investigação. Os números englobam a semana epidemiológica 31/2019 a 02/2020, de agosto de 2019 a janeiro de 2020.

As regiões apontadas por Belmonte com maior número de casos são os de Paranavaí (Noroeste), Campo Mourão (Centro-oeste), Londrina e Maringá (Noroeste). “As regiões com clima mais quente têm uma maior circulação viral. Hoje, em todo o Estado temos 331 municípios com a presença do vetor”, observa.

Em Londrina, a diretora de Vigilância em Saúde, Sônia Fernandes, descreveu o cenário como a pior crise da história do município, em entrevista coletiva na terça (14). Em 2020, já são registrados 533 casos suspeitos, seis confirmações e duas suspeitas de morte, sendo uma mulher de 29 anos e outra com mais de 60 anos.

COMBATE

Belmonte ressalta que a principal ação quando se tem uma situação de epidemia na cidade é a remoção e eliminação dos criadouros desde que se tenha um acompanhamento técnico. “Isso garante a eficácia do trabalho. Além disso, há o tratamento com produto residual, que são os larvicidas, em pontos estratégicos”, diz.

Fernandes informou, na terça-feira, que Londrina está com larvicidas vencidos e sem o inseticida Malathion (conhecido como fumacê) desde novembro de 2019. Sobre isso, a coordenadora da Sesa diz que os larvicidas vencidos passam por uma análise técnica em um laboratório oficial do Ministério da Saúde, que está avaliando se o princípio ativo do produto, mesmo vencido, está funcionando.

“O laudo deve chegar esta semana aos estados. Se os resultados forem positivos, o prazo de validade será estendido. Se o produto que estiver em Londrina for desse lote, ele poderá ser reutilizado. Mas há remessas de um novo produto (larvicida) que deverá chegar em poucos dias aos Estados”, garante.

Já em relação ao Malathion, de uso espacial (fumacê), Belmonte explica que o fornecimento foi interrompido pelo MS porque o mosquito se tornou resistente ao produto. “A OMS (Organização Mundial de Saúde) solicitou um novo produto para ser utilizado e ele deve chegar no Brasil em fevereiro. Hoje, existem poucos produtos disponíveis para uso em saúde pública e os de uso agrícola não podem ser utilizados”, afirma.

QUATRO SOROTIPOS

Segundo Ivana Belmonte, coordenadora da Vigilância Ambiental da Sesa, o aumento no número de casos de dengue no Paraná já era esperado. “A dengue é cíclica. Além disso, tivemos períodos de baixa circulação do sorotipo 1 (DENV-1), pois tivemos muitos casos de pessoas infectadas por ele, gerando uma imunidade. Agora, o DENV-2 que estava no Sudeste adentrou o Paraná e encontrou toda uma população suscetível. Temos agora a introdução de um novo sorotipo. Ao todo, são 4 sorotipos circulantes no Brasil e eles se alternam”, detalha.

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| Foto: Folha Arte

A maior preocupação, de acordo com Belmonte, além do grande número de casos e de pessoas suscetíveis, é em relação às pessoas que podem ser infectadas pela segunda vez. “Independente do sorotipo, o risco é maior de ter um quadro mais grave da dengue”.

Ela explica que a dengue é classificada em três tipos: clássica (febre alta, dor de cabeça e vermelhidão no corpo); com sinais de alarme (náuseas, vômitos e sangramento pelo nariz); e grave (a pessoa pode entrar em choque e necessitar de internamento hospitalar).

“O tratamento é sintomático e é importante que os médicos saibam como é a evolução do quadro clínico da doença. Para isso, capacitamos todos os anos as regionais de saúde sobre a classificação de risco e manejo do paciente”, diz.

De acordo com o médico Enéas Cordeiro de Souza Filho, da Divisão de Doenças Transmitidas por Vetores da Sesa, doenças como hipertensão, diabetes, bronquite crônica e doenças cardíacas e vasculares são fatores de risco que podem se agravar pela dengue.

“Por isso temos mais idosos que chegam ao óbito em razão da dengue; é que as comorbidades geralmente estão associadas às pessoas com mais de 60 anos. O idoso já tem uma doença de base instalada e a dengue piora estes quadros”, afirma.

O médico reforça que as pessoas não devem se automedicar diante dos principais sintomas, que são febre súbita e alta, dor de cabeça, dor atrás dos olhos e nas articulações. “Os anti-inflamatórios comuns podem agravar o quadro, chegando à hemorragia. A pessoa precisa procurar a rede de assistência”.

MUTIRÕES E MULTAS

Com o alerta vermelho emitido em todo o Estado, a Sesa (Secretaria de Estado de Saúde) está atuando com mais força junto a alguns municípios no enfrentamento da dengue. Nas últimas semanas, as equipes realizaram mutirões em Nova Cantu e Quinta do Sol (Centro-oeste), e Florestópolis (Região Metropolitana de Londrina).

“Fizemos visitas domiciliares técnicas com remoção e eliminação dos criadouros. Dessa forma, essas cidades já saíram da situação de surto da doença”, afirma Ivana Velmonte, coordenadora de Vigilância Ambiental da Sesa. Entretanto, o número de novos municípios com epidemia vem aumentando, como é o caso de Paranavaí (Noroeste).

Keila Stelato, diretora em Vigilância em Saúde de Paranavaí, diz que a situação de epidemia foi decretada na terça-feira (14), no Diário Oficial do Estado. “Tivemos um aumento nos atendimentos nas UBS (Unidades Básicas de Saúde) e UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Do dia 1 de janeiro até agora são 818 pessoas diagnosticadas com a doença”, diz. Ao todo, da semana epidemiológica 31/2019 a 02/2020 da Sesa, o município registrou 2.359 casos confirmados, sendo 16 com sinais de alarme.

Para frear os números, Stelato cita a intensificação dos mutirões em locais de maior suspeita da doença, o canal de denúncias 156 da ouvidoria da prefeitura e a responsabilização do munícipe por meio de processo administrativo e multa, que pode variar de R$ 200 a R$ 2.400.

Em 2020, a prefeitura de Paranavaí já recebeu 127 denúncias sobre locais abandonados e terrenos baldios com possíveis focos do mosquito.

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