Operador diz que árabe chefiava esquema
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terça-feira, 16 de outubro de 2001
Marta Medeiros<br> De Maringá
O garçom Ederaldo Félix dos Santos, 33 anos, apontou um árabe de nome Afif Najib Eid, como o responsável pela implantação das centrais clandestinas que funcionaram em Maringá e Sarandi. Santos foi indiciado em inquérito por estelionato e depôs ontem em um interrogatório de mais duas horas na 9ª Subdivisão Policial de Maringá (9ª SDP). A Polícia Federal também assumiu o caso a pedido do Ministério da Justiça.
Santos contou que conheceu o árabe em Foz do Iguaçu e que foi convidado para operar as centrais em Maringá. Quando o caso começou a ser descoberto pela polícia, há mais de duas semanas, o garçom já estava instalando uma central em Caxias (RS). Santos descreveu Afif apenas como uma pessoa ''bem arrumada, discreta e altamente desconfiada'' durante todos os contatos que manteve com ele. ''Quando a gente se encontrava ele só ficava olhando para os lados, sempre muito desconfiado'', contou Santos.
O garçom não soube explicar os motivos pelos quais foi contratado pelo árabe para operar e ajudar na instalação das centrais. Disse apenas que Afif alegava que tinha uma família numerosa e que fraudava as companhias de telefone para não ter custo no contato entre os parentes.
Santos disse que quando operava a central recebia uma ligação da Arábia Saudita com instrução para fazer uma segunda ligação para países como o Paquistão. A partir daí, as duas pessoas falavam simultaneamente por viva voz. ''Nunca compreendi nada do que eles falavam, entendia apenas os números e fazia as ligações'', afirmou Santos.
Segundo o garçom, Afif ficava por alguns períodos em Foz do Iguaçu, mas era de São Paulo. A polícia não revelou o teor completo do interrogatório e disse que o árabe pode usar nome falso. Santos contou também que ganhava cerca de R$ 500,00 e que era responsável pela locação das casas onde funcionavam as centrais. O garçom afirmou que o árabe era o responsável pela instalação das linhas. ''Ele (Afif) era quem conseguia as linhas'', disse Santos.
A mulher de Santos, Idiane Aparecida Wolff, também foi ouvida ontem pela polícia. Ela é apontada como a pessoa que ajudava Santos a contratar outros operadores para as centrais. Segundo a polícia, investigações demonstram que todas as centrais localizadas até agora podem ser de uma mesma quadrilha.
Nas últimas semanas foram localizadas 46 linhas distribuídas em cinco centrais sendo quatro em Maringá e uma em Sarandi. Uma sexta central foi encontrada na cidade, mas já estava desativada. Com um homem, preso em Cambé, na semana passada, a polícia encontrou outras 10 linhas de telefone.
Grande parte das ligações são para países do Oriente Médio. A polícia suspeita de possíveis contatos entre grupos terroristas e também de negócios para lavagem de dinheiro do narcotráfico brasileiro, mas as provas apuradas até agora dão conta apenas de estelionato por causa da fraude provocada nas companhias de telefone.