“Florestópolis hoje é bem servida, com rodovia, muitos habitantes e boa estrutura de serviços. Temos tudo o que precisamos”. A história de vida do pioneiro Samuel de Andrade Baise está totalmente atrelada ao desenvolvimento do município, na Região Metropolitana de Londrina. Aos 88 anos, ele conta orgulhoso do quanto a cidade cresceu, mudou e o acolheu.

Na sexta-feira (18), ele será homenageado pela Câmara Municipal de Florestópolis com o Título de Cidadão Honorário. A solenidade será no salão de eventos da Paróquia São João Batista, local que também carrega um pouco da presença da família de pioneiros.

Parte dos tijolos utilizados para a construção da igreja foi doada pelos Baise, que possuíam uma olaria em suas terras, a Fazenda São Paulo. A propriedade foi a primeira a surgir em Florestópolis e pertencia a Paulo Baise, descendente de italianos, nascido em Minas Gerais e pai de oito filhos. Entre eles, Samuel, que o ajudava muito no plantio de café e observava, ainda menino, a coragem do pai em desbravar a mata fechada.

Era 1941 quando a família vendeu a pequena propriedade localizada na Água do Cerne, em Sertanópolis, e se mudou para Florestópolis. A cidade, que hoje possui mais de 11 mil habitantes, foi elevada à categoria de município somente em 1951. Dez anos depois que os Baise já haviam se instalado, às margens do rio Capim.

LIGA E DESLIGA

“Florestópolis não tinha luz elétrica e a energia existente vinha da nossa fazenda. Eu era o encarregado de ligar e desligar o motor todos os dias. Ligava quando começava a escurecer e desligava por volta das 22h. Lembro bem de um dia em que houve um problema em uma peça chamada girador. Tivemos que trazê-la para Londrina para o conserto e retornar a tempo de ligar o motor. Deu tudo certo”, conta.

O motor pertencia a um comerciante, dono de um bar e que, endividado, pediu dinheiro emprestado ao pai de Baise. Sem condições de devolver o empréstimo, acabou entregando o motor e alguns lotes de terra. “Foi assim que nos tornamos responsáveis pelo funcionamento do motor. Naquela época, eram poucas famílias, perto de umas 20, morando por aqui”, diz.

Segundo Baise, por volta de 1945, os primeiros postes começaram a ser instalados, utilizando as madeiras da Fazenda São Paulo, mas até 1950 ele se manteve responsável pelo motor. A energia abastecia as casas e meia dúzia de postes na rua principal. “Naquela época a vida era muito boa também. A gente não reclamava ou sofria por falta disso ou aquilo. O que era básico e nos faltava, a gente comprava nas cidades vizinhas, em Bela Vista do Paraíso e depois em Porecatu”, afirma.

Casado com Ivanete Maria de Almeida, Baise teve três filhos, que o ajudam a tomar conta da fazenda, no cultivo de cana-de-açúcar. Sobre a homenagem, ele faz questão de citar o nome de outros pioneiros da cidade e brinca, se o reconhecimento é por conta do longo tempo em que vive por lá. “É bom sermos lembrados como alguém que colaborou com Florestópolis de alguma forma”, diz, modestamente.

Samuel e a esposa Ivanete Maria de Almeida
Samuel e a esposa Ivanete Maria de Almeida | Foto: Arquivo Pessoal

CONSTRUINDO O FUTURO

Essa não é a primeira vez que Samuel Baise é reconhecido por sua dedicação à comunidade. Leitor assíduo da Folha de Londrina há mais de 30 anos, ele sempre deu uma atenção especial aos moradores de Florestópolis, em especial crianças e adolescentes. Em 1999, ele abriu as portas de sua Fazenda São Manoel, para o projeto social "Construindo o Futuro". “A ideia era tornar parte do espaço em um lugar de aprendizado. Para que as crianças aprendessem o básico sobre plantio e quando havia produção, elas poderiam vender na rua para ganhar um dinheirinho”, explica.

A iniciativa foi contada em uma matéria da FOLHA, publicada em 2003. Na época, 48 meninos e meninas, com idade entre 12 e 17 anos, se dividiam em atividades que acontecem no período de contraturno escolar. Os maiores, com mais de 15 anos, cuidavam principalmente da horta, onde cultivam alface, couve, espinafre, beterraba, abobrinha e pimentão.

A produção garantia o abastecimento de verduras e legumes para as famílias dos adolescentes e para entidades assistenciais do município, hospital e creches. O projeto contava com o repasse mensal da prefeitura para a ONG que administrava o projeto, além do ônibus para o transporte dos jovens e funcionários para a manutenção das atividades.

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