A dor de cabeça dos moradores da Vila Fraternidade, zona leste de Londrina, em finalmente terem um posto de saúde no bairro ainda vai continuar por bastante tempo. O último capítulo nesta história de terror que parece não ter fim foi o desinteresse das empresas que participaram da licitação em terminar a obra. A prefeitura procurou as outras instituições depois que a Terra Viva Serviços de Engenharia, vencedora do processo licitatório, abandonou os trabalhos com 44% de execução.

UBS Vila Fraternidade: o sonho de vê-la pronta está cada vez mais distante
UBS Vila Fraternidade: o sonho de vê-la pronta está cada vez mais distante | Foto: Pedro Marconi/Grupo Folha

Sem operários e muito menos máquinas, o contrato com a empreiteira londrinense foi rompido. Ele foi assinado no final de 2019 e previa o pagamento de R$ 994 mil. Com o passar dos meses, os problemas se acumularam com atrasos, notificações da Secretaria de Obras e aumento da cobrança da população local. A administração municipal, até para obedecer a legislação, sondou as entidades que participaram do edital na época.

Das seis que se interessaram na ocasião, apenas duas responderam a prefeitura. O restante permaneceu em silêncio. A Construtora Regioli alegou que "não havia interesse em executar a referida obra sob o vaor proposta pela empresa contratada anteriormente, mesmo que atualizado". Já a Reconstrul Construções Civis justificou a opção de não assumir o serviço "em função da constante alta dos preços de insumos a materiais". Os ofícios foram encaminhados à Secretaria de Gestão Pública na semana passada.

Pacientes nômades

Sem a UBS no bairro, moradores da Vila Fraternidade tiveram que ser atendidos na Vila Ricardo. Porém, o local foi transformado pela Secretaria de Saúde em um posto exclusivo de atendimento a casos de Covid-19. Com isso, os pacientes foram realocados para o Jardim Interlagos, distante cerca de dois quilômetros.

Enquanto o poder público não resolve o problema, pessoas em situação de rua já passaram pela estrutura abandonada. Em dezembro, a FOLHA constatou colchonetes, marmitas, roupas e sapatos velhos. A reportagem tentou contato com o secretário de Obras, João Verçosa, para saber quando o ''sonho'' da UBS da Fraternidade sairá definitivamente do papel, mas ele estava com o celular desligado.

Penalidade

Por conta do abandono, a Terra Viva foi alvo de um processo de penalidade. O resultado foi uma multa pesada pelo descumprimento do contrato: R$ 198 mil. A construtora recorreu e argumentou que "a paralisação e restrição de horário de funcionamento das indústrias e do comércio não possibilitaram a execução no ritmo desejado".

As explicações não foram aceitas pelo gestor do acordo, que sugeriu a manutenção do valor da infração. A indicação foi acatada na última terça-feira (23) pelo secretário de Gestão Pública, Fábio Cavazotti.