Um respiro em meio a um período difícil. Depois de meses de força-tarefa para enfrentar a dengue, Londrina tem apresentado bons resultados nas últimas semanas. É o que apontam os números do último boletim apresentado pela secretaria municipal de Saúde, em 4 de junho. Novos dados devem ser divulgados nesta quinta (18). O levantamento oficial apontou que no mês de maio houve uma queda significativa no número de notificações. Nas últimas semanas epidemiológicas (20ª, 21ª, 22ª e 23ª) foram 22, seguido de 14, 11 e sete, respectivamente.

Trabalho é realizado durante dois dias em cada bairro; CMTU já percorreu 120 bairros
Trabalho é realizado durante dois dias em cada bairro; CMTU já percorreu 120 bairros | Foto: Micaela Orikasa - Grupo FOLHA

Um recuo importante para o município que já registrou 25 mortes pela doença desde o início do ano e ainda possui outros dez em investigação. Em 2020, Londrina já registrou um total de 42.863 notificações relacionadas à dengue, sendo 17.247 confirmadas, 5.409 descartadas e 20.177 estão em andamento, aguardando o resultado de exames.

“Caiu muito o número de casos suspeitos. É inegável que a colocação desses mutirões de limpeza como uma rotina na cidade acabou contribuindo de uma forma significativa. Ajuda a população a eliminar todos os materiais inservíveis que estavam nos quintais”, comentou Sonia Fernandes, diretora de Vigilância em Saúde da secretaria municipal de Saúde. O 1º Liraa (Levantamento Rápido de Infestação Aedes aegypti) deste ano, detectou que 88% dos focos de larvas do mosquito estavam dentro das residências.

ÉPOCA DO ANO

Além de todo o trabalho de remoção de possíveis criadouros do Aedes aegypti das residências, a queda nos índices da dengue também é reflexo da época do ano e do curso natural da doença. “O clima frio e o período de seca não são favoráveis ao desenvolvimento do vetor, mas também tem a história natural da doença, que eventualmente, já iria diminuir. Em qualquer doença viral, chega um momento que ela já circulou por onde poderia circular e não tem um número de pessoas suscetíveis. Dessa forma, a tendência da doença é deixar de circular ou então, em um número bem menor”, afirmou Fernandes.

Entretanto, apesar dos números, Fernandes faz uma alerta para os próximos meses. "A questão mais importante para nós é de como ela vai se comportar daqui pela frente. Se as pessoas voltarem a acumular lixo e material inservível no quintal e voltar o período de chuvas, temos a possibilidade de termos novamente um aumento no número de casos”, enfatizou.

MUTIRÃO EM DOIS DIAS

O mutirão “Bota Fora Unidos Contra a Dengue” passou a ser realizado diariamente desde a segunda quinzena de março, mas o projeto teve início em maio de 2019. A equipe já percorreu 120 bairros nas zonas urbana e rural, retirando cerca de dois mil caminhões de lixo, entulhos e materiais inservíveis.

Cristiano Bragatto, assessor técnico da diretoria de Operações da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização), conta que a maior volume tem sido restos de construção civil e que em cada bairro o número de caminhões utilizados varia bastante. No Jardim Bandeirantes (zona oeste), por exemplo, ele cita que foram 100 caminhões e, no Distrito da Warta (zona norte), onde a equipe está concluindo o mutirão desta semana, já foram 20.

Imagem ilustrativa da imagem Mutirões e clima frio contribuem para dengue recuar em Londrina
| Foto: Micaela Orikasa - Grupo FOLHA

'NA HORA CERTA'

Em cada bairro, a ação dura, em média, dois dias e um dia antes um carro da CMTU percorre as ruas anunciando o mutirão. Foi dessa forma que Luís Carlos Cremonez ficou sabendo do serviço. “Se não fosse isso, eu teria que contratar uma caçamba. Impossível gastar esse dinheiro agora”, disse, enquanto retirava grades, restos de cimento e entulhos do quintal. O idoso mora no Parque Ouro Branco, na zona sul, por onde os caminhões da CMTU estão trabalhando nesta semana. O serviço segue nesta quinta e retornará na segunda-feira (22).

A poucos metros dali, Gislaine Souza retirava uma cama infantil quebrada para ser recolhida pela equipe. “Eu não estava sabendo, mas vi o caminhão passando e aproveitei. Foi na hora certa porque eu ia ter que colocar a cama na calçada para ver se alguém, em algum momento, recolhesse”, comentou.

DESTINO

Além dos entulhos de construção, Cristiano Bragatto, assessor técnico da diretoria de Operações da CMTU, destaca a quantidade de pneus recolhidos em cada mutirão. "As equipes acabam recolhendo de 50 a 100 pneus por dia. É muita coisa por ser um dos principais criadouros do mosquito", disse. Os pneus são enviados semanalmente para a Reciclanip, que possui um convênio com a prefeitura municipal.

Cada material recolhido tem destinação adequada, segundo a CMTU. Para isso, cada caminhão faz a coleta em dois grupos. Enquanto um recolhe recicláveis, eletrônicos, sofás e pneus, o outro fica com os móveis, madeiras e materiais de construção civil. “A madeira vai para o sindicato moveleiro para ser reaproveitada e os galhos são triturados e levados para as hortas comunitárias. Já os eletrônicos vão para a ONG E-letro", detalhou.