A professora Maria de Fátima Beraldo, da Rede Estadual e Municipal de Educação e gestora da Promoção da Igualdade Racial de Londrina, será uma das convidadas das transmissões da Polícia Civil, em alusão aos 14 anos da Lei Maria da Penha. O tema que ela abordará será “Políticas de Igualdade: mulheres negras em tempos de pandemia”.

Maria de Fátima Beraldo, gestora da Promoção de Igualdade Racial: “É preciso criar políticas para dar garantia para pessoas"
Maria de Fátima Beraldo, gestora da Promoção de Igualdade Racial: “É preciso criar políticas para dar garantia para pessoas" | Foto: Vivian Honorato - N.com

Segundo Beraldo, a mulher negra, por estar na base da pirâmide social, é a que mais sofre impacto da violência. “Essa violência que ela já sofre acaba sendo potencializada na pandemia, já que vivemos em uma situação de ‘guerra’. As mulheres negras são as maiores forças do trabalho doméstico no Brasil e, em um momento em que os trabalhadores estão vivendo uma precarização maior no cotidiano, isso tem se intensificado para a mulher negra”, destacou.

Questionada sobre como isso ocorre, ela diz que a empregada doméstica tem sido um trabalho essencial. “Em outros momentos não foi. Mas agora as mulheres domésticas não têm feito isolamento e estão mais propensas a serem contaminadas pelos vírus. Na maioria das regiões periféricas são mulheres e negras e são elas que estão sustentando suas famílias, já que o homem negro é o primeiro a perder o ganha pão. Com o companheiro desempregado isso contribui para gerar mais violência doméstica", detalha. “Antes a mulher saía de casa para trabalhar e deixava o filho na creche e na escola. Agora ela deixa em casa, com o filho mais velho ou com o companheiro”, acrescentou.

"Essa pessoa agora tem que dar conta do trabalho de casa, dos filhos e do trabalho da professora, com o ensino a distância. Com o celular pré-pago, com R$ 10 de crédito, ela nem consegue baixar todo o conteúdo para as aulas", observa a gestora.

Ela vê como solução para esses problemas a efetivação de políticas públicas. “É preciso criar políticas para dar garantia para pessoas. Estamos em momento de guerra e precisamos proteger a população, mas estamos em um contexto de país muito difícil. Todas as políticas públicas dos últimos 20 anos voltadas para a população negra foram resultado de muita luta. A partir de 2015 teve um refluxo e isso começou a diminuir muito”, observou.

“Algumas políticas não foram efetivadas e as que têm funcionado forma implantadas de forma minimizada. Devemos efetivar o que já foi criado e fazer com que essas leis realmente aconteçam, como a lei 10639, de inclusão da cultura história da África no currículo, ou como o Estatuto da Igualdade racial, de 2010. A lei de cotas raciais também”, apontou. “Precisamos de uma mudança do País em todos os sentidos para toda a sociedade. Existe a violência institucional. Recentemente uma mulher foi pisada no pescoço por um policial em situação análoga ao norte-americano (George Floyd, que morreu asfixiado). Não houve protesto e não houve comoção nacional. Se acontece isso com uma pessoa negra no Estado brasileiro é porque o racismo está naturalizado”, destacou.