Imagem ilustrativa da imagem Mulheres atendidas pelo Cras debatem autoestima e amor-próprio
| Foto: Ricardo Chicarelli - Grupo Folha

Enxergar a beleza que existe dentro de si próprio é um desafio para alguns, mas quando se trata de pessoas em situação vulnerável, o obstáculo é ainda maior. Mulheres atendidas pelos Cras (Centros de Referência de Assistência Social) Sul A e Sul B foram incentivadas a se olharem com mais afeto em um debate sobre autoestima e amor-próprio nesta segunda-feira (7). O encontro realizado na Biblioteca Eugênia Monfranati (zona sul de Londrina) permitiu que elas olhassem para si mesmas com mais confiança como encorajamento para ultrapassar limitações nem sempre visíveis.

“A gente tem relatos de que elas ouviam coisas como: ‘você não é bonita’; ‘está gorda’, ‘para que usar roupa bonita se você é feia?’, afirmações que vinham de seus parceiros, vizinhos e até filhos. Isso reforça a autoestima baixa”, menciona Letícia Baptista, bibliotecária responsável pela unidade. O prédio divide espaço com o Cras Sul A e a proximidade com as mulheres atendidas fez com que a bibliotecária procurasse ação sobre o tema. “É importante trazer esse assunto para a população local para que ela também reconheça esse território como dela”, comenta Baptista.

"A autoestima é a base para todas as nossas relações,  faz reconhecer o que a gente merece para não aceitar só migalhas”, aponta a fotógrafa Paula Zucoloto
"A autoestima é a base para todas as nossas relações, faz reconhecer o que a gente merece para não aceitar só migalhas”, aponta a fotógrafa Paula Zucoloto | Foto: Ricardo Chicarelli - Grupo Folha

O projeto denominado "Eu sou BEN linda”, da fotógrafa Paula Zucoloto em parceria com a SMC (Secretaria Municipal de Cultura), levou, além de roda de conversa, momento de tratamentos de beleza, como maquiagem, escova de cabelo e esmaltação de unhas, além de sessão fotográfica. “Costumo dizer que a autoestima é a base para todas as nossas relações, a gente aprende melhor sobre com quem quer se relacionar, até sobre nosso trabalho, e faz reconhecer o que a gente merece para não aceitar só migalhas”, aponta Zucoloto.

A fotógrafa mantém projeto em seu Instagram mostrando beleza real de suas modelos como forma de luta contra imposições de padrões estéticos. “A gente já vive para ser aceita pela sociedade e acaba esquecendo nossas qualidades e quão importante nós somos”, defende.

EXPERIÊNCIA

Priscila Lopes da Silva, 30, participou da atividade e acredita na mensagem de que toda mulher tem que se amar. Depois da sessão de maquiagem, ela jogou os cabelos para o lado e saiu para o espaço externo para ser fotografada. “Já ouvi que eu era feia, horrorosa, mas eu não ligo, porque eu não sou. Toda mulher tem que se sentir bonita”, comenta. A moradora do jardim São Marcos diz que não sai de casa sem arrumar os cabelos e compreende a autoestima como processo que pode ser ensinado. “As mulheres precisam se valorizar mais, muitas não querem nem se arrumar, por isso eu costumo incentivar”, acrescenta.

“A autoestima é a base para todas as nossas relações,  faz reconhecer o que a gente merece para não aceitar só migalhas”, aponta a fotógrafa Paula Zucoloto
“A autoestima é a base para todas as nossas relações, faz reconhecer o que a gente merece para não aceitar só migalhas”, aponta a fotógrafa Paula Zucoloto | Foto: Ricardo Chicarelli - Grupo Folha

Ingrid Balbino, 20, acompanhava a mãe e as amigas na atividade, mas estava animada com o encontro. “Muitas vezes a gente está para baixo, mas conversando com outras mulheres a gente passa a enxergar coisas boas que não vemos em nós mesmas. Tanto de beleza interior, quanto exterior”, afirma a também moradora do jardim São Marcos.

Quando mais jovem, a estudante recorda que sofria comparações com personagens negativos e que isso a deixava mais triste, mas que hoje consegue lidar melhor com isso. Ela acredita que a ação pode ajudar mulheres que talvez estejam passando por essa mesma situação. “É uma forma de empoderamento da mulher, acho que algumas precisavam ouvir isso hoje”, argumenta.

A assistente social do Cras Sul B, Roseli Marques, acompanha muitas das mulheres que participaram do encontro e aponta que a atividade é um momento de dedicação que muitas não conseguem dispor. “Elas pensam muito no cuidado da casa, do marido e dos filhos, mas hoje é uma atividade totalmente para elas, então é importante”, defende. Ela afirma que a unidade atende aproximadamente 200 famílias, entre elas, de muitas mulheres que são chefes da casa.